A pandemia mostrou ser uma oportunidade para mitigar as assimetrias entre o litoral e o interior do País, para fazer crescer novos modelos de negócio e para captar públicos diferentes, além dos habituais turistas apreciadores do conceito Sol & Mar.
No último ano, os concelhos a Norte do nosso distrito já deram exemplos de que é possível tirar proveito das suas especificidades para crescer nesta fase mais conturbada. E o projecto Dark Sky Aldeias do Xisto promete ser mais um caso de sucesso.
A iniciativa afirma este território como destino de astroturismo e tem tudo para ser “a Onda da Nazaré no Norte do distrito de Leiria”. Foi esta a nota de optimismo que deixou Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal, no V Fórum Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), evento organizado pelo JORNAL DE LEIRIA, e que sexta-feira promoveu o debate em torno da Recuperação e Resiliência dos Territórios no Castelo D. Fuas Roupinho, em Porto de Mós.
O Dark Sky Aldeias do Xisto conquistou a certificação internacional como Destino Turístico Starligth, em 2019. E na passada quinta-feira envolveu num protocolo de cooperação duas dezenas de municípios, além da Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, promotora do projecto, e parceiros como a Associação Dark Sky, a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra e o Turismo Centro de Portugal.
Entusiasmado com a iniciativa, Pedro Machado explica que o Dark Sky já integra concelhos parceiros da Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, como Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Castanheira de Pera e Pedrógão Grande, que reúnem condições para observação nocturna das estrelas, longe da poluição luminosa, mas frisa que a iniciativa tem um poder de alcance muito superior[LER_MAIS], e que poderá dinamizar outros municípios da região, onde restaurantes e unidades hoteleiras sirvam de apoio à actividade. Trata-se de turismo de nicho, que capta interesse de portugueses e estrangeiros, mas que tem grande potencial, considera.
Além de proporcionar experiências de turismo alternativas, de cariz ecológico, os municípios do interior têm ainda a ganhar com a criação de melhores infra-estruturas digitais para acolher quem nesta fase está a procurar a região para se instalar em teletrabalho, defende Pedro Machado.
Contornar a descida demográfica, não só no interior, mas em todo o território da CIMRL, uma vez que o fenómeno atravessa todos estes municípios, foi, por sua vez, o apelo deixado por Isabel Damasceno, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro, neste V Fórum da CIMRL. É um desafio ao qual urge dar resposta, sob pena de rapidamente deixar de existir mão-de-obra suficiente para manter as empresas, gerar riqueza e qualidade de vida nesta região, considerou Isabel Damasceno, defendendo a rápida adopção de políticas de captação de cidadãos estrangeiros.
Apoios financeiros pontuais e “cheques-bebé” são “paliativos”, que não resolvem este problema, frisou.
O envelhecimento da população e a falta de recursos humanos foi também uma preocupação manifestada por Jorge Santos, coordenador do Gabinete Económico e Social da Região de Leiria, dinamizado pela CIMRL, que lembrou ainda a dificuldade que este território tem tido “na defesa das nossas causas, junto do Governo”. A delegação de competências atribuídas aos municípios, deverá, por isso, ser aproveitada a favor desta região, advogou.
O empresário salientou ainda que, depois de estudar o território, o Gabinete Económico e Social da Região de Leiria definiu já vários eixos de actuação para a sua recuperação, entre os quais se destacam: a digitalização de produtos, processos e organizações, onde deve ser considerada a reconversão de recursos humanos; a promoção da mobilidade; a investigação e a inovação; o e-commerce; a promoção da exportação; a descarbonização e a promoção da economia circular; a saúde e o desenvolvimento social.
A recuperação do pequeno comércio, das indústrias, a adaptação à digitalização, a promoção da coesão social e da saúde foram também as premissas essenciais defendidas por Jorge Vala, presidente da Câmara de Porto de Mós.
A necessidade de afirmar o País, e a nossa região em particular, no contexto europeu, foi outra mensagem deixada pelo coordenador do Gabinete Económico e Social da Região de Leiria. Jorge Santos frisou que a Europa está a perder peso político e económico e que “a China está a trabalhar para ser um país de inovação e para deixar de ser apenas a fábrica do mundo. A sua estratégia é dominar o mundo pela via económica”.
Se os Estados Unidos demonstram grande capacidade de adaptação, o mesmo não acontece com a Europa, onde muitos países estão actualmente em dificuldades. Portugal é um deles, onde o PIB per capita tem diminuído, correndo o risco de ser ultrapassado pelos territórios de Leste. Neste contexto, a região de Leiria tem oportunidades que deve agarrar, aproveitando que algumas multinacionais estão a relocalizar as suas unidades.
Temos empresas familiares com estruturas ágeis, bom ambiente institucional, com relações frutíferas entre empresas e Politécnico de Leiria, e contamos com muitas associações sustentáveis. Em articulação, estes agentes têm condições para continuar a puxar pelas exportações do País, defendeu o empresário.
União e solidariedade para vencer
Promover a solidariedade entre os municípios e manter a união deste território foi outro apelo deixado pelos oradores deste fórum. Gonçalo Lopes, presidente da CIMRL e presidente da Câmara Municipal de Leiria, lembrou que a criação de uma nova NUT II, que divide este território em duas partes, é uma tentativa de o “esfrangalhar”, quando este reúne todas as condições para funcionar bem se se mantiver unido. “Temos um papel a cumprir no futuro geo-político e geo-estratégico. Podemos ser pequenos, mas temos recursos humanos qualificados, qualidade de empresários, biodiversidade”, sustentou.
“Isso é motivo de inveja nos bastidores. Temos tido um comportamento exemplar nesta pandemia e tenho a certeza que, depois disto, continuaremos a exportar, a ampliar instalações. Temos que continuar a trabalhar para sermos cada vez mais atractivos para vencer a crise”, defendeu Gonçalo Lopes.
Também Isabel Damasceno, presidente da CCDR Centro, lembrou que só o trabalho de cooperação entre associações, municípios, empresas e centros de saber permitiu a esta região crescer. Recomenda agora que se mantenha o “trabalho de equipa entre autarcas, entre organizações, sem municípios a meter-se em bicos de pés para abafar os outros”.
Deve imperar união e também estratégia para aplicar os fundos comunitários, cerca de 16,6 mil milhões de euros de apoio que estão previstos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (13,9 a fundo perdido e 2,7 a título de empréstimo), a que acresce o próximo quadro Portugal 2030, lembrou Isabel Damasceno.
Paulo Batista Santos, vice-presidente da CIMRL e presidente da Câmara Municipal da Batalha, recordou que esta tem sido uma região que se destaca, apoiada também pela diferenciação conferida pelos municípios do Norte do distrito. “Sempre pugnámos pela união e não faz sentido fazer-se agora esta divisão” do território, considerou o autarca, para quem é tempo de “lideranças fortes, determinadas e de confiança”.