Afirma que é o único artista em Portugal a pintar murais a óleo e o seu traço leva-nos a outras latitudes e longitudes. Bebeu influências fortes nas suas passagens pelo estrangeiro?
Tenho muitas influências mexicanas no uso das cores fortes. Sou amante da obra de Frida Kahlo e de Diego Rivera e trouxe para Portugal esse tipo de muralismo que é o que se fazia, originalmente, há 100 anos. Não são os graffiti que se fazem hoje. Não sou muito adepto de pintar em espaços na rua, prefiro interiores.
Porque o óleo é um material que não reage bem ao sol?
Exacto, é um material nobre. É por isso que prefiro pintar cúpulas, tectos e paredes de hotéis, de Câmaras Municipais… e de locais onde podemos ver arte mais refinada e exclusiva. Mas também tenho trabalhos na rua, embora seja preciso ter alguns cuidados extra, para garantir que as obras resistem aos elementos.
O que foi que fez com que adoptasse a arte muralista?
Desenho desde pequeno. Em Portugal, não há, infelizmente, uma vertente cultural muito grande. O público tem pouco conhecimento e as escolas – e a sociedade em geral – não fomentam o gosto pelas artes. Temos de ir por nós à procura. Comecei a pintar quadros, mas é uma vertente que não se vende. Acabei, eventualmente, por deparar com o nicho do muralismo, que me trouxe mais trabalho e aceitação. Normalmente, trabalho para grandes empresas e não para um cliente singular. Isso faz com que seja um trabalho mais apetecível e traz mais clientes para a minha arte. No ramo artístico, é preciso ter muita resistência mental. É preciso acreditar no nosso trabalho e perceber que, em geral, os artistas não são bons vendedores das suas obras. É preciso um trabalho mental muito grande, é preciso abrir portas e para isso é precisa muita força de espírito. Estive para entrar em Belas Artes, mas o programa académico não me agradou. Senti que não iria ficar preparado para ganhar a vida, quando concluísse o curso. Em alternativa, juntei-me, em Arroios, ao artista plástico Gilberto Gaspar, quoe foi o meu mentor. O talento é nosso, mas é preciso poli-lo e isso dá trabalho. Após isso, fui trabalhar para a Holanda. Fiz lá os primeiros murais, mas sentia falta da espontaneidade. Gostei muito do país, mas é tudo muito regrado e planeado. Acabei por ir para Espanha por quatro anos. Passei por Barcelona e, depois, fui para Andorra. Por fim, fui para o México. Também adorei esse país. Vivi na cidade do México, estive em Guadalajara… e foi um tempo de grande aprendizagem.
“Sou o único que pinta murais a óleo, em Portugal”
Natural de Lisboa, Bruno Netto, 42 anos, diz que é um “pintor figurativo que gosta de retratar diferentes realidades do quotidiano.” Depois de terminar os seus estudos em Arte e Design na ESSAC, começou a aprender com pintores como Artur Bual, Rogerio Amaral, entre outros. Viveu vários anos fora de Portugal, na Holanda, no México e em Espanha.
A nível artístico e cultural?
Sim. Os mexicanos têm um conceito de vida muito colorido, celebram a morte e são muito alegres. Parecia que vivia dentro de um filme. Montei lá uma exposição que me valeu uma ida à televisão e isso acabou por me dar projecção.
O seu trabalho desenvolve-se de acordo com metas estabelecidas pelos seus clientes. A criatividade tem de manter-se dentro dessas fronteiras?
Há pouco, estive a pintar um hotel na Figueira da Foz. O director explicou-me que o tema seria marítimo e de acordo com a realidade local. Fiz uma pesquisa, tirei fotos e conheci a localidade, antes de seguir para um desenho composto, de realismo figurativo. Depois apresentei-o. Aí, a pessoa pode ou não aceitar, ou contribuir com ideias. Só depois disso, passo do plano para a parede.
A tinta de óleo, além de ser mais nobre, que mais coisas permite fazer?
É mais espessa, dá uma luminosidade muito maior… No resultado final, a cor é muito forte e não irá desfalecer com a passagem do tempo. Normalmente, em paredes, aplica-se acrílico ou graffiti, mas a minha maneira de pintar é diferente e o resultado também. As cores são mais vivas, mais vibrantes porque os pigmentos são mais fortes.
E é menos efémero?
Exactamente. Ainda há dias restaurei um mural que fiz há três anos, que está à chuva e ao sol, e estava quase intacto. Neste momento, noto que o meu trabalho é apreciado e tenho muitas propostas e contratos por todo o País. A televisão ajuda muito. Tive sorte. Sou amigo de várias personalidades, mas tive de as procurar e de ter a lata de lhes ir bater à porta. Aprendi com os holandeses que, ao contrário dos portugueses, são muito directos. Eles são “ou sim ou não”. Cá, temos muitos rodeios. Trabalhei no ano passado nos programas da SIC, conheci o João Baião e o José Figueiras, até que a produção também me contratou para fazer um trabalho. Neste ramo, é preciso ser-se conhecido e chegar a muita gente.