Diz-se “um apaixonado” por música. Que, “se pudesse, estudava cinco ou seis horas por dia”. Mais do que a perfeição, provavelmente inatingível, ou a velocidade, que não valoriza, Paulo Santo procura “uma voz pessoal” no vibrafone, capaz de o tornar inconfundível. “Uma voz, um carácter de composição, um carácter a improvisar”, explica ao JORNAL DE LEIRIA. “Para mim, é algo precioso, é um grande feito”.
O resultado da busca escuta-se no disco de estreia a solo, Águeda, o nome da avó materna, a quem presta homenagem com oito faixas de jazz.
Há pessoas que deixam rugas de amor no coração de quem as rodeia. A avó Águeda é, segundo Paulo Santo, “um modelo” que o inspira a “ser justo” e “bondoso”, porque, apesar de muitas dificuldades que encontrou na vida, “manteve-se sempre de bom trato, esperançosa”.
O álbum foi lançado no dia 21 de Junho (um ano após a morte da avó) e apresentado publicamente a 21 de Julho (data de aniversário de Águeda, que é a imagem de capa).
Editado pela Robalo, etiqueta independente com sede em Lisboa, atraiu olhares tanto na comunidade do jazz em Portugal como no estrangeiro.
“A minha expectativa é muito baixa, porque já sei que a estética não é propriamente a mais audível”, afirma o músico natural de Leiria. “Ao mesmo tempo, tive boas críticas. Tenho uma faixa minha no All About Jazz, que é o maior site de jazz do mundo, puseram a minha faixa como música do dia. Tudo depende de muita coisa. Acho que com dinheiro para um publisher ia ter muito mais destaque”.
O momento em que Paulo Santo se apresenta pela primeira vez em estúdio como líder de um colectivo (neste caso, um quinteto) é também o momento mais difícil dos últimos anos para o sector da cultura, por força da pandemia e de um mercado demasiado pequeno.
“Se os meus rendimentos não se alterarem drasticamente, no espaço de dois ou três anos, provavelmente não posso fazer isto”, admite. “Porque a vida assim o obriga, porque tenho família. Dou aulas mas não tenho contrato. Dou aulas em dois semestres, que só dão quatro meses de aulas. Depois, supostamente, é a actividade de palco que colmata isso, que agora está muito condicionada. É uma escolha”.
O álbum em nome próprio, por outro lado, pode revelar-se uma vantagem. “Na verdade, ajuda. Quase é obrigatório para um músico de jazz português ter de escrever um disco, para que se destaque como artista. Tem de haver a composição, a criação de um produto, para que se autentique”.
Em Tomate com óculos, há uma referência ao cão de Paulo Santo e a uma fotografia de passagem de ano. Um cão de raça comprado para concursos e depois rejeitado por causa de um defeito de nascença. Paulo Santo adoptou-o. Águeda inclui temas escritos ao longo de 15 anos e é um projecto que estava a ser preparado desde 2016.
Paulo Santo começou por tocar bateria e depois de estudar no Orfeão de Leiria escolheu o vibrafone. Estudou também com Jeffery Davis e licenciou-se na Escola Superior de Música de Lisboa. Toca piano e dá aulas no Hot Club de Portugal, além de compor e tocar ao vivo com outros músicos, entre eles, Bruno Pernadas.