Salvato Feijó, director do serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), alertou hoje para um possível aumento de doença viral, com a retirada das máscaras e defendeu que o seu uso tem de ser equilibrado.
“Há um medo que tenho, porque sou pneumologista, que se a retirada das máscaras for generalizada, vamos ter um aumento de doença viral difusa ao nível do País”, afirmou o também director clínico do CHL, que hoje reuniu com o presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, devido à escassez de profissionais de saúde nas urgências do hospital de Leiria.
O especialista sublinhou, contudo, que não pode dizer para que o uso de máscara seja contínuo, pois “isso também representa um risco para a população”.
“Se passarmos muito tempo sem exposição viral, a nossa capacidade imunitária também diminui. Portanto, isso tem de ser gerido de forma a que haja um equilíbrio”, sublinhou.
O clínico acrescentou que “se isso acontecer no período do Inverno”, irá “ter um aumento de afluência [nas urgências], que será muito comprometedora para uma estrutura que já está, muitas vezes, a jogar nos limites”.
“Esperemos que isso não aconteça. Ninguém sabe bem, mas as máscaras quanto a mim vão ter um papel muito preponderante”, reforçou, recusando que a situação nas urgências do Hospital de Santo André seja “gravíssima”, como referiu o presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.
Para Salvato Feijó, trata-se de um “problema grave”.
“Tivemos apenas um único episódio excepcional em que não tivemos médicos ortopedistas durante um período de 12 horas. Estamos a colmatar isso com recursos a médicos contratados. Estamos a conseguir gerir, não da maneira que gostaríamos, mas da maneira que é possível neste momento”, acrescentou.
O director clínico lembrou ainda que a urgência de Leiria tem “uma área de influência de 400 mil habitantes, tem uma elevada procura, tem doentes muito graves e, portanto, não são aqueles que vêm com uma dor e vão embora”.
“São doentes mais complicados, cheios de comorbilidades atendendo também ao envelhecimento da população desta região e põem-nos certos problemas”, constatou, revelando serem os médicos do quadro que ajudam a completar a escala, quando os profissionais de saúde contratados a empresas externas não comparecem ao serviço.
O médico reconhece, contudo, que é um “esforço muito extra, porque já todos estão com horas extraordinárias em grande quantidade” e admitiu que é “ uma situação em que estamos a tapar de um lado e a destapar do outro”.
Em Julho, o CHL criou uma equipa fixa para trabalhar no serviço de urgência. Salvato Feijó revelou que esta medida melhorou o atendimento.
“Contratámos 12 médicos generalistas e conseguimos ter uma mancha durante o dia, entre as oito da manhã e os oito da noite, aos dias de semana, completamente coberta e bem coberta. Só que aos fins de semana e durante a noite temos as fragilidades de que estávamos a falar. É aí que temos que optar por um esforço individual dos nossos médicos e que normalmente é um esforço individual e supletivo, com grande custo da sua vida familiar e pessoal”, constatou.
O director clínico afirmou ainda que o Ministério da Saúde “está a ter uma atenção particular a estes aspetos, até porque se não o fizesse, o sistema nacional de saúde está a mostrar algumas fracturas que são um exemplo indicativo daquilo que poderá vir a ser, cada vez mais grave, à medida que o envelhecimento também da população médica se vai dando”.