Podem as artes e o lazer contrariar o êxodo dos mais jovens para os principais centros urbanos e contribuir para a ligação com as raízes? Os fundadores da Albardeira, entre eles a cantora e compositora Bia Maria, acreditam que sim.
Em Ourém, concelho que entre 2011 e 2021 perdeu 1.500 residentes, segundo o último Censos, criaram no mês de Outubro uma nova associação cultural que tem nos objectivos, por um lado, o desejo de atrair quem está fora, e, por outro, a vontade de proporcionar condições para um maior envolvimento por parte de quem já habita o território mais conhecido como destino de peregrinação e turismo religioso.
Com idades entre os 20 e os 35 anos, muitos dos fundadores da Albardeira, em que se incluem pessoas do teatro e da música, do design e do vídeo, estudam ou trabalham longe de Ourém.
“Como jovens, sentíamos falta de programação que nos fizesse vir a casa e vir cá fazer coisas”, resume Lara Gésero, voz da associação que ambiciona “alargar a oferta que existe no panorama cultural” do concelho.
Para começar, propõem o Ciclo Albardeira, no Teatro Municipal de Ourém. Os dois primeiros concertos, na mesma noite, realizaram-se na quinta-feira, 28 de Outubro, com o músico Pedro Cruz e a dupla Arianna Casellas y Kauê. A próxima data já está marcada: 30 de Novembro, com actuações de Celino e Meta. O conceito junta sempre artistas de Ourém e de fora do concelho.
Enquanto não anunciam outras actividades, os dirigentes da Albardeira estão já à procura de um espaço para fixar a associação, onde sonham dar palco à criação local. “Queremos ser sinónimo de disrupção e casa”, referem no comunicado enviado à imprensa.
Ou seja, acolher e proporcionar abrigo, mas, ao mesmo tempo, desenvolver projectos “diferentes” e “mais dinâmicos”, explica Lara Gésero ao JORNAL DE LEIRIA.
É, segundo a Albardeira, “uma resposta ao imobilismo da cultura jovem oureense, desenhada por um colectivo de jovens oureenses”.
Inspirados pelas pétalas da rosa-albardeira, espécie autóctone de Ourém, propõem-se estender raízes por todo o concelho, do centro às freguesias mais periféricas. “Agitá-lo, provocá-lo através da acção e da manifestação culturais, desenvolver e estimular projectos artísticos e sociais. Formar novos públicos, colaborar com criadores e comunidades emergentes, estimular e questionar os agentes culturais já existentes”.