O Impulso regressa esta quinta-feira com Rita Vian e Cassete Pirata. Que lugar querem ocupar entre os festivais de música em Portugal?
Queremos ser um festival que se aproxima da comunidade estudantil de Caldas da Rainha e da zona centro. Temos uma relação muito próxima com a Escola Superior de Artes e Design. O festival é feito por alunos e professores da ESAD. E muitos ex-alunos. Muitos deles trabalham no meio audiovisual e muitos dos artistas também são ex-alunos. Na nossa edição de 2018 mais de metade do cartaz eram ex-alunos e em 2019 também tivemos muitos ex-alunos no cartaz. É um festival que nasce da escola, um festival jovem, que queremos que chegue a públicos muito diferentes.
Não obstante, têm tido uma programação ambiciosa.
Somos uma equipa que tem desde alunos muito novos a professores que já estão na escola há muitos anos. E isso também se reflecte na programação. Temos todos gostos diferentes e ecléticos e tentamos diversificar a programação. Não quer dizer que o futuro do festival passe exclusivamente pela música portuguesa. Tem sido assim nestes anos, mas, com o crescimento, é natural que tenhamos outras propostas.
Entre divulgar o que estão a fazer alunos e ex-alunos da ESAD e ir contratar artistas fora, para onde pende a vossa preferência?
Para o tipo de música e de artistas que gostamos e nos interessam. Não são necessariamente nem os mais mainstream nem os mais underground. Estamos mais perto do underground, mas ali no meio termo. Agora como o festival está a crescer sentimos que temos de ter propostas mais comerciais, de certa forma, para conseguir ter mais público e diversificar o público. Mas, no fundo, queremos esse equilíbrio entre o desconhecido e o consagrado.
Esta quinta-feira, com a estreia do ciclo de documentários do Doclisboa.
É uma parceira que tínhamos começado em 2019 e vamos retomar este ano. E o plano é fazermos todos os meses, com entrada livre e conversas com os realizadores. É uma forma de aproximarmos o cinema e a música, que são os nossos dois principais interesses.
Programar a menos de uma hora de Lisboa é uma vantagem ou coloca desafios acrescidos?
É uma vantagem. O tempo que se demora a chegar às Caldas é quase o tempo que se demora a chegar ao centro de Lisboa, se se viver na periferia. Em hora de ponta, é de certeza mais rápido vir às Caldas ver um concerto. Além de que as Caldas têm muito para oferecer, desde a restauração ao Parque D. Carlos, à beleza natural e a um público bastante interessante. É uma experiência diferente, uma experiência exclusiva. Nesta última temporada de Junho a Dezembro no CCC tivemos casas muito bem compostas sempre.
Que percentagem do vosso público é de fora de Caldas da Rainha e nomeadamente de Leiria?
De Leiria, diria entre 20 e 25 por cento do nosso público. Talvez 30 a 40 por cento do nosso público vem de fora. Em Maio, se tudo correr bem, voltaremos ao Parque D. Carlos, pelo menos é essa a nossa expectativa, com vários palcos, como fizemos em 2019, e fazer com que venham muitas mais pessoas de fora e fazer crescer o festival. Neste ciclo no CCC é mais complicado porque esta oferta também existe nos outros sítios. As pessoas também vêem estes concertos nas suas cidades e às vezes não querem deslocar-se até aqui.
Os estudantes do ensino superior têm um peso importante no público da cultura em Caldas da Rainha?
Têm um peso muito importante e na verdade passa por ouvi-los e envolvê-los nestas iniciativas. Não pensar neles como público que compra um bilhete, mas pensar neles como parte integrante da cultura da cidade. Podem propor ciclos, concertos, festas, exposições e nós estamos abertos a receber essas ideias. Essa é que é a chave da relação entre os jovens e a cultura e a própria cidade. O que tem acontecido é que sentimos que tem havido abertura das câmaras locais para arriscar e ter propostas diferentes.
A programação espaçada ao longo de meses que criaram como alternativa é um formato que querem manter?
Em 2019, no Parque tivemos cerca de três mil pessoas em três dias de festival, depois em 2020 não fizemos, devido à pandemia, voltámos em 2021 com este ciclo de Junho a Dezembro e agora vamos fazer de Janeiro a Abril uma segunda season. É um formato que temos todo o interesse em manter. Se o município também assim achar e se os nossos restantes parceiros também tiverem interesse em continuar o formato, para nós fazia todo o sentido. Foi uma proposta diferente em relação ao CCC e ao que habitualmente se faz na cidade e temos sentido adesão, portanto, por nós seria para manter.
Por outro lado, acreditam que em 2022 será possível voltar a ter um cartaz concentrado num único fim-de-semana.
Exactamente. No fim de Maio, no Parque D. Carlos, com vários palcos, e também espalhado pela cidade, como fizemos em 2019, provavelmente com mais dois palcos. Uma coisa que envolva a população. Em 2019 trouxemos cerca de 40 artistas ao festival, o nosso plano para 2022 é mais ou menos esse, tentar repetir o número e a qualidade. Estamos neste processo de fechar tudo com a câmara e com outros parceiros.
De Caldas da Rainha já saíram nomes como Tina & The Top Ten, Stereossauro, Cave Story… o que há de novo?
As Caldas estão com uma cena electrónica muito interessante, que está a começar a dar cartas em vários sítios e nós de certeza que em 2022 vamos ter um clubbing muito electrónico, muito forte e muito virado para artistas locais. O plano para 2022 é também trazer uma banda conhecida, das Caldas, dos anos 90. Sentimos que as Caldas estão com muitos artistas novos e é preciso criar cada vez mais estruturas para que eles possam ter sítios para ensaiar, para produzir e para mostrar a música deles.