“Precisamos de médico agora”. Este foi um dos apelos que mais se ouviu esta manhã em frente centro de saúde de Porto de Mós, onde dezenas de utentes se concentraram em protesto contra a falta de clínicos no concelho.
Segundo dados do presidente da câmara, Jorge Vala, o concelho tem cerca de nove mil pessoas sem médico de família, sendo que a situação se irá agravar em Fevereiro com a aposentação de um dos dois clínicos que prestam serviço na sede de concelho.
“Há o risco de o centro de saúde de Porto de Mós encerrar já a partir de Fevereiro”, disse Jorge Vala, assegurando que, não estar a ser dramático, mas “realista”.
Doente crónico, Luís Mateus, 55 anos, está “há mais de um ano” sem médica de família. “Tenho colesterol alto, mas já não não faço análises desde que a doutora se foi embora”, assume, contando que, a “única” opção é recorrer à consulta de inter-substituição, que também “não dá resposta”.
“Temos de vir de manhã, às 8 ou 9 horas, para tentar garantir uma vaga a partir das 17 horas”, relata José Encarnação, 75 anos e diabético. “Já fiquei aqui um dia inteiro à espera”, acrescenta.
“Não há medicina preventiva. Até para obter receitas existe dificuldade. Tem valido a boa colaboração das farmácias, mas as pessoas, muitas vezes com pequenas reformas, têm de adiantar o dinheiro”, salienta Filipe Baptista, presidente da Junta de Alqueidão da Serra, que, tal como Arrimal e Mendiga, está sem médico “há mais de dois meses”.
O autarca dá nota de testemunhos de utentes que esperam “nove ou dez horas” em Porto de Mós para uma consulta de inter-substituição e que “vão embora sem serem atendidos”.
“As pessoas sentem-se abandonadas”, reforça Francisco Baptista, presidente da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga, onde há povoações “a mais de 25 quilómetros” da sede de concelho. O autarca frisa que se trata de uma população “envelhecida”, com doenças crónicas associadas, como hipertensão ou diabetes, que “não está a ter o acompanhamento devido”.
Presidente da Ur’Gente – Associação de Utentes de Saúde de Porto de Mós, entidade que organizou o protesto, Ana Margarida Amado considera “calamitoso” o estado da saúde no concelho, lamentando que a situação esteja hoje “muito pior” do que há três anos, quando foi promovida uma outra manifestação pelos mesmos motivos.
Reconhecendo que “há falta de médicos”, a dirigente entende, contudo, que exististe também “falta de organização, de respeito pelos utentes e de responsabilização das entidades públicas”.
A carência de médicos no concelho esteve em discussão na última reunião do Conselho Municipal de Saúde, realizada há cerca de duas semanas. No encontro estiveram representantes da Administração Regional de Saúde do Centro e do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal de Leiria, que, segundo o presidente da Câmara, reconheceram a gravidade da situação e assumiram o compromisso de abrir vagas carenciadas para o concelho, uma classificação que prevê incentivos para os médicos que concorram. Jorge Vala aplaude a medida, mas frisa que “não resolve o problema no imediato”.