Adriano Maranhão, natural da Nazaré, foi o primeiro português infectado com Covid-19, a 22 de Fevereiro de 2020, quando trabalhava como canalizador num cruzeiro no Japão.
Volvidos dois anos após essa experiência, que à época considerou ser “traumática”, Adriano Maranhão diz ao JORNAL DE LEIRIA que é hoje um homem psicológica e fisicamente refeito, que ganhou coragem para voltar ao trabalho nos navios, e que olha para as medidas adoptadas actualmente por Portugal como demasiado restritivas, em comparação com aquelas que se tomam noutros países, e tendo em conta que se trata de uma doença que [LER_MAIS]parece ter vindo para ficar.
Testou positivo à Covid-19 quando se encontrava a bordo do Diamond Princess, no Japão, e recorda que a experiência de ser sido um dos 700 infectados, entre turistas e tripulação (havendo mesmo alguns óbitos a registar), foi algo que, à época, o deixou traumatizado. “Até porque havia pouca informação sobre a doença”, frisa o canalizador.
Desse período, que implicou a sua hospitalização no exterior, Adriano Maranhão lembra também a ausência de contactos recebidos da parte da Embaixada Portuguesa em Tóquio, quando outros colegas, na mesma situação, no cruzeiro, recebiam telefonemas da parte de entidades idênticas dos seus países.
Ao regressar ao País e durante os “dois ou três meses” que se seguiram, Adriano sentiu-se cansado e receoso de voltar aos navios. Restringiu-se durante meses aos trabalhos de canalizador em terra, na região de Leiria. E só no ano seguinte, quando achou que havia mais informação sobre a doença e mais formas de a combater, sentiu confiança para regressar aos barcos.
Até porque, com a pandemia, só as oportunidades de emprego que encontrava em terra não eram suficientes para fazer face às suas responsabilidades. Tem desde então alternado períodos de trabalho em terra e nos barcos.
Aos 43 anos, e a praticar uma hora de corrida por dia, Adriano sente-se hoje física e psicologicamente bem. Mas entende que o Estado precisa de fazer algumas mudanças. Uma delas é agilizar a comunicação com portugueses no estrangeiro, que, tal como ele, também poderão sentir-se “abandonados”.
Outra é aliviar as medidas sanitárias relativas à Covid-19, que devem agora passar mais pela responsabilização individual. Não deve a maioria ser penalizada por um punhado de pessoas mais desatentas ou incumpridoras, considera Maranhão.