Abandonada a produção de tijolo, as instalações da cerâmica Prélis, em Alcogulhe de Cima, concelho de Leiria, estão a ser desconstruídas e transformadas, dando lugar a ateliers, armazéns e escritórios.
A lógica da economia circular e do aproveitamento de materiais e equipamentos está subjacente ao projecto, denominado Campus Circular.
O secador de tijolo que existia na cerâmica está a ser transformado em ateliers.
Nesse processo, são reaproveitados vários materiais, como os painéis de lã de rocha que antes integravam as condutas de ar quente daquele equipamento, e que agora ganham nova vida, como divisórias dos ateliers.
Os antigos fornos estão igualmente a ser desconstruídos.
Alguns módulos estão a ser usados para fazer divisórias de espaços nas instalações da Prélis, outros serão aplicados na construção ou reconstrução de fornos de carvão na Azambuja, explica ao JORNAL DE LEIRIA Luís Ferreira, co-fundador do Campus Circular.
Também os tijolos que ainda havia em stock estão a ser reaproveitados na edificação dos ateliers e armazéns, enquanto outros estão a ser vendidos.
“Temos de usar melhor os recursos, sejam eles produtos, cujo fabrico implicou o consumo de energia, sejam eles equipamentos ou instalações”, defende o gestor.
No âmbito deste conceito de economia circular, as instalações da cerâmica de Alcogulhe de Cima, com dez mil metros quadrados de área coberta, darão então lugar a escritórios, ateliers (para empresas e profissionais individuais) e armazéns, formando um espaço colaborativo de criação multidisciplinar.
“As instalações serão transformadas num centro de negócios, permitindo satisfazer as necessidades actuais e futuras das empresas que se instalarem”, diz Luís Ferreira.
“À medida que os negócios forem crescendo, as empresas podem dispor de mais espaço para responder a esse crescimento”.
Por outro lado, há serviços comuns, como a recepção/expedição de encomendas e aluguer de equipamentos, pelos quais as empresas pagarão uma taxa em função do uso.
“A vantagem é que transformam custos fixos em custos variáveis”, diz o gestor.
Actualmente são já várias as empresas instaladas.
Uma delas é a Plasblock, que produz um cubo à base de matérias-primas secundárias resultantes de vários processos industriais, como a produção de cortiça e a reciclagem de plástios. Este cubo é aplicado entre as ripas das paletes de madeira, “prolongando a sua durabilidade”.
Outra das empresas instaladas é a Fractus, que se dedica à construção modular.
Também a La Virgule (francesa) escolheu Alcogulhe de Cima como casa para o seu armazém, onde guarda e desconstrói os artigos em fim de vida que recolhe nas lojas de uma cadeia de desporto em Portugal, Espanha e França, e a partir dos quais irá depois produzir mochilas e sacos, no norte do País.
A Aromas e Boletos (produção de cogumelos) tem um armazém no Campus Circular e a Press Ciment (que produz mosaico hidráulico) arrendou um escritório.
Em instalação está a Sea Gypsi, empresa lituana que produz pranchas de surf e que arrendou armazém e escritório.