O que permite a inovação é a investigação, nem sempre fácil de fazer pelas empresas.
É por isso que a academia é um aliado de peso, na medida em que tem a capacidade de colocar a investigação ao serviço das empresas, ao mesmo tempo que dispõe de redes e de contactos que abrem portas para novos mercados.
Esta foi uma das conclusões do III Encontro de Internacionalização de Empresas, promovido pelo Politécnico de Leiria, que segunda e terça-feira juntou no Edifício Nerlei responsáveis de diversas entidades do sistema de ensino e das empresas.
“A maioria do tecido empresarial não tem capacidade para fazer investigação. Precisa da academia para ter factores dinâmicos de competitividade e lançar-se nos mercados internacionais”, disse Olinda Sequeira, investigadora do Centro de Investigação em Cidades Inteligentes, durante o painel Internacionalização de empresas – perspectiva das unidades de investigação e incubadoras.
Na mesma ocasião, Maria Manuel Gil, coordenadora do MARE, em Peniche, lembrou que desenvolver novos produtos leva tempo, de que nem sempre as empresas dispõem, e que a colaboração com a academia permite encurtar esse tempo e obter mais rapidamente produtos com valor acrescentado, transacionáveis nos mercados internacionais.
A responsável apontou ainda alguns dos aspectos em que o contributo da academia e dos centros de saber pode ser uma mais-valia para as empresas: recursos humanos qualificados nas áreas chave dos processos de internacionalização, conhecimento científico e capacidade para alavancar a inovação e a criação de novos produtos.
“O know-how dos centros de investigação tem de ser aproveitado e de estar ao serviço das empresas e da sociedade”, defendeu igualmente Maria Guarino, coordenadora do CiTechCare, do Politécnico de Leiria.
No mesmo painel, Sara Proença e Eduarda Fernandes, responsáveis, respectivamente, da Inopol Academia de Empreendedorismo e da Startup Leiria, referiram que o facto de estas entidades integrarem redes internacionais é uma mais-valia para as empresas, que além disso recebem apoio em várias áreas críticas para a internacionalização.
Também Artur Mateus falou da participação do Centro Rápido e Sustentado do Produto em projectos internacionais e apontou alguns exemplos do resultado da parceria entre este organismo e empresas da região da Marinha Grande.
No painel sobre a perspectiva das empresas, ainda na segunda-feira, António Poças, presidente da Nerlei, lembrou que a “internacionalização é fundamental para a competitividade das regiões e do País” e disse que nas acções levadas a cabo pela associação, por cada euro investido as empresas tiveram cinco euros de retorno no volume de negócios.
Afirmou ainda que “o ensino superior é um ambiente mais internacionalizado do que o da maioria das empresas, que só têm a ganhar com a aproximação ao Politécnico de Leiria”.
“Se for bem trabalhada”, a ligação entre empresas e sistema de ensino “é muito vantajosa”, defendeu na mesma ocasião
Sónia Calado, administradora do Grupo DRT, que exporta toda a sua produção.
A empresária de Leiria disse ainda que a parceria com o Politécnico da Leiria “tem sido uma grande mais-valia” para o grupo que administra e considerou que os alunos saem “muito bem formados e orientados para o mercado de trabalho”.
Numa década, Portugal aumentou as suas exportações de cerca de 28% do Produto Interno Bruto (PIB) para 44%, uma boa performance, “mas não podemos dar-nos por satisfeitos”.
Nuno Mangas, presidente do Compete, explicou porquê na sua intervenção na abertura do encontro: “por um lado, estamos abaixo da média da União Europeia”. Por outro, as exportações nacionais são ainda sobretudo de produtos de baixa intensidade tecnológica e pouco diferenciados.
Além de que, “em cada dez empresas, apenas uma exporta”. Por isso, há um “campo de progressão muito significativo”: o desafio da quantidade é “trazer mais empresas para o jogo”.
O da qualidade passa por exportar mais produtos e serviços com maior incorporação de conhecimento e de diferenciação. Outro desafio é olhar para as importações.
“Hoje, há um conjunto de bens que importamos e que podiam ter produção no contexto nacional”, disse Nuno Mangas no evento.
O presidente do Compete afirmou ainda que a relação entre centros de saber e empresas “é muitíssimo relevante” e que quanto mais bem conseguida for, melhores resultados será possível obter.
Por sua vez, a presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) apontou a internacionalização como “um dos factores-chave do desenvolvimento e crescimento” dos politécnicos.
“Esta internacionalização faz-se não só ao nível da captação de mais estudantes e da formação e qualificação de mais jovens e mais adultos, mas também naquilo que é a nossa ligação às empresas e, sobretudo, na criação de valor”, afirmou Maria José Fernandes.
Rui Pedrosa, presidente do Politécnico de Leiria, que abriu a sessão, destacou o foco da instituição no desenvolvimento regional, mostrando-se convicto que o País e a região terão tanto mais capacidade de ser mais produtivos e inovadores quanto mais forte for a sua ligação ao ensino superior.
Os “tempos complexos vividos actualmente do ponto de vista global” e os desafios associados só podem ser ultrapassados “com mais e melhor investimento no ensino superior, na ciência, na articulação entre as instituições de ensino superior e nos territórios”.
“É disso que se trata quando falamos de internacionalização no ensino superior, com impacto directo nas regiões e nos contextos nacionais e globais”, referiu Rui Pedrosa.
Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros
Subir exportações para 53% do PIB
Leiria representa 7% das exportações do país, que ambiciona que o peso total das exportações no Produto Interno Bruto (PIB) seja de 53%. “A internacionalização é hoje a trave-mestra da política externa portuguesa”, lembrou Francisco André (à direita na foto, com Rui Pedrosa), secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação no jantar-conferência incluído no III Encontro de Internacionalização de Empresas. Essa política assenta em três vertentes: exportações, investimento de empresas nacionais lá fora e captação de investimento directo estrangeiro para Portugal.
Para levar a cabo esta estratégia, há que garantir alguns pressupostos: além do aumento do peso das exportações, é preciso alargar a base exportadora e modernizar os incentivos para atrair investimento, reconheceu o governante. Por outro lado, “há que fortalecer a rede da AICEP”, colocando mais pessoas onde fazem falta e abrindo mais delegações. Quanto ao ensino politécnico, acolhe mais de uma centena de nacionalidades de estudantes, “o que contribui muito para a nossa abertura ao mundo”.
Ao nível da cooperação no ensino, os principais parceiros de Portugal têm sido os PALOP, mas Francisco André reconheceu que há muito que pode ser feito noutros países. Na conferência participou ainda Ruaidhiri Neavyn, special advisor da Higher Education Autority da Irlanda, que apresentou a rede e o papel dos organismos que apoiam a internacionalização dos negócios.