As gravações no Claustro Real e nas Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha de cenas do filme Damsel, da Netflix, agendadas para 19 e 20 de Maio, estão adiadas.
Na quarta-feira, durante a manhã, horas antes do calendário inicialmente previsto, mantinha-se o aparato. Além do estacionamento no parque Cónego Simões Inácio reservado para os meios de apoio à produção que conta com Millie Bobby Brown, estrela da série Stranger Things, continuava a movimentação de cabos, holofotes e restante equipamento técnico, com mais de uma dezena de veículos diante da porta principal do monumento.
Entre mais de 250 pessoas envolvidas na rodagem, muitos figurantes são habitantes da Batalha ou de concelhos vizinhos. É o caso de Gonçalo Reis, 46 anos, funcionário do Mosteiro. Sem qualquer experiência de representação anterior, junta-se à Netflix “por curiosidade” e para conhecer “por dentro” a indústria do cinema. Cabe-lhe o papel de nobre em filmagens na cidade de Tomar. “Uma experiência nova” que já entusiasma o filho, de 10 anos.
A oportunidade é também aproveitada pelos grupos de teatro da região. Rita Rosa, 41 anos, encenadora de O Alguidar, está seleccionada para as sessões no Convento de Cristo após o casting realizado na Galeria Mouzinho de Albuquerque, na Batalha, em Março, com muitas fotografias e perguntas sobre disponibilidade de tempo, fluência em inglês e currículo como actriz. Depois de participar como figurante na série O Crime do Padre Amaro, da RTP, gravada em Leiria no ano passado, em Damsel quer “perceber como funciona uma produção desta dimensão”, que lhe agrada por ser ficção histórica, de época. “Faz parte do meu universo infantil imaginar-me num ambiente de príncipes e princesas”.
Do grupo Apollo, de Ourém, há três figurantes contratados. Entre eles, Luís Freire, de 28 anos, requisitado para cenas na Batalha e em Tomar, a encarnar um serviçal na corte. A trabalhar pela primeira vez em cinema, interessa-lhe compreender “as dinâmicas” e observar “o lado mágico de como as coisas acontecem”, em especial, num enredo que até inclui dragões. Por outro lado, espera ganhar bagagem. “Acho que nos enriquece enquanto actores”.
O hotel Lis Batalha começou em Abril a receber elementos da equipa de Damsel, que, durante o mês de Maio, deverão ocupar, em média, 35 camas de segunda a sexta- feira. Também a Casa do Outeiro, com 24 quartos, fica quase totalmente para os objectivos da Netflix durante vários dias. Entre 12 e 20 de Maio, a GNR prevê o destacamento de 35 militares para controlar o acesso a áreas reservadas e para gerir o trânsito nas zonas mais próximas do Mosteiro.
Já o Município da Batalha disponibiliza, sobretudo, apoio logístico e administrativo relacionado com a ocupação e delimitação de espaços públicos. Na opinião do presidente da câmara, esta é “mais uma excelente oportunidade para a promoção do concelho e do Mosteiro”, em que, “mais relevante do que a componente económica, também ela fundamental”, Raul Castro valoriza “a perspectiva mediática” e a “amplitude global” de um empreendimento com escala planetária. O autarca acredita que é possível captar turistas de mercados menos frequentes e abrir portas para outros projectos de cinema e televisão.
Damsel é, provavelmente, a maior produção de sempre no Mosteiro da Batalha. “Nunca vi este aparato”, admite Joaquim Ruivo, nem mesmo durante a rodagem do videoclipe “Dark Ballet”, de Madonna, em 2019, ou do filme A Abóbada, de 2020, uma adaptação para a RTP do conto de Alexandre Herculano.
Ao JORNAL DE LEIRIA, Joaquim Ruivo reconhece potenciais estímulos na economia e na indústria do cinema em Portugal. “Nós temos tudo para produzir bons filmes e sobretudo temos técnicos muito competentes. Acho que é isso que as equipas internacionais estão a ver”. E se vierem mais projectos de Hollywood, da Netflix ou de outras plataformas de streaming, “é todo o País que ganha”.
Segundo o regulamento publicado através do despacho 2884/2018, os eventos culturais implicam o pagamento de 1.000 euros por dia pela utilização das Capelas Imperfeitas e o valor é o mesmo para o Claustro Real e para o Claustro D. Afonso V. Acresce a este montante a compensação negociada pela empresa produtora com a Direcção-Geral do Património Cultural pela perda de receitas de ingressos e das lojas do Mosteiro e da Liga dos Combatentes, já que as filmagens inicialmente anunciadas para 19 e 20 de Maio implicam o encerramento ao público do monumento, com excepção das visitas à Igreja e Capela do Fundador.
No filme, o Mosteiro da Batalha serve de cenário para a família real, embora os espaços possam não ser imediatamente reconhecíveis. “Com efeitos especiais, serão todos remodelados: o Claustro Real será o jardim de um palácio e as Capelas Imperfeitas vão, seguramente, ter um tecto, com recurso a efeitos especiais. Para quem conhece o Mosteiro, será uma surpresa”, adianta Joaquim Ruivo, citado pela agência Lusa.
Em 2021, o Mosteiro da Batalha foi o segundo equipamento cultural mais visitado no País entre os que são geridos pela DGPC, com 124.032 entradas. Começa a recuperar afluência, após o efeito da pandemia.
As gravações de Damsel, em Portugal, vão passar também por Tomar e por Sortelha.
Realizado por Juan Carlos Fresnadillo a partir de argumento de Dan Mazeau, o filme integra no elenco Millie Bobby Brown, Shohreh Aghdashloo, Robin Wright, Nick Robinson, Angela Bassett, Ray Winstone e Brooke Carter, entre outros, além de 35 figurantes portugueses.
Damsel (em português, donzela) tem estreia prevista para o primeiro semestre de 2023, no serviço de streaming da Netflix.
Na sinopse, a longa-metragem é apresentada como um conto de fadas em torno de Elodie, papel interpretado por Millie Bobby Brown, que casa com o impetuoso príncipe Henry, herdeiro do reino de Áurea. Depois do enlace, Elodie é aprisionada numa caverna como sacrifício para manter um dragão satisfeito. Elodie terá de usar a força e a inteligência para sobreviver e encontrar forma de escapar.