Passaram no local da música, pararam na estação do amor e vão em busca do que os possa surpreender na Pia do Urso, na aldeia da freguesia de São Mamede, no concelho da Batalha.
“Vimos na internet que isto era muito bonito e quisermos vir cá”, conta o casal Lurdes e Manuel Costa, de 66 e 69 anos, que são de Vila Nova de Famalicão e andam a explorar o País.
Ainda só viram “um pouco da pequena aldeia” com casas em pedra, mas já destacam “o bom parque de merendas” e o facto de “estar tudo muito bonito e limpinho”. “Só não percebo o significado de cada estação”, riposta Lurdes no primeiro Ecoparque sensorial do País.
Estão a fazer o caminho no sentido inverso ao sugerido pela sinalética, mas não tem grande problema porque são dos poucos visitantes na aldeia na manhã desta segunda-feira em que a chuva ameaça a chegada do Verão.
Ao seguirem o caminho sensorial, já com marcas do tempo que podem dificultar o objectivo primário de guiar cegos, vão ainda descobrir outras estações temáticas, deparar-se com floreiras invadidas por ervas daninhas, encontrar pias com água parada, placas informativas sem letras, estruturas de madeira rachada e com falhas de cor e até uma roda de água com verdete acumulado.
“O problema é a degradação das coisas porque as estações, coitadinhas, estão como estavam há 16 anos”, lamenta quem abriu o primeiro café da aldeia quando foi renovada com potencial turístico.
Depois de acender as luzes e ligar as máquinas, João Carlos Cruz, de 62 anos, volta à esplanada para subir ao muro e mostrar que “a falta de manutenção está à vista de todos” ao apontar para as placas de madeira onde já não dá para ler o nome das ruas. [LER_MAIS]Ali, só ele e poucos mais sabem que é a Travessa Padre Marto, porque a placa toponímica está no chão e escondida por uma trepadeira.
“A Pia do Urso não está ao abandono porque há aqui alguém a fazer a limpeza, e está limpa, mas precisava de uma intervenção nas estações”, remata, confiante no recente “aumento do número de visitantes estrangeiros”. Quem também garante movimento por ali é “o pessoal das bicicletas” que “ao domingo de manhã costuma chegar arranhado”.
“Porque os trilhos apresentam falta de manutenção, sinalização e limpeza, estão cheios de silvas, ervas e alguns com a passagem interdita”, explica Nuno Silva, que costuma andar a pedalar por ali com frequência.
“Os trilhos estão bastante desprezados”, sintetiza Paulo Crespo, de 49 anos, também conterrâneo que percorre esta zona em cima da bicicleta há mais de três décadas.
Com um Centro de BTT inaugurado há uma década na Pia do Urso, o primeiro homologado pela Federação Portuguesa de Ciclismo, chegou a ser um dos voluntários pela limpeza e manutenção dos trilhos até se cansar “da falta de apoio e iniciativa do município ao longo dos últimos anos”.
Com percursos “sem manutenção e sem sinalização”, o agora designado Centro Cyclin’Portugal acabou por perder a homologação. No ano passado já não estaria tecnicamente apto mas ainda apareceu no mapa do “Cyclin’Portugal – Percursos Cicláveis de Portugal 2021”, mas este ano a decisão foi taxativa.
A abranger uma rede com mais e 300 quilómetros de trilhos que atravessa os concelhos da Batalha, Porto de Mós e Leiria, a própria infraestrutura com casas de banho e áreas destinadas ao arranjo de bicicletas apresenta no exterior falhas de tinta nas paredes, madeira envelhecida e falhas no tecto.
Município quer recuperar o que se perdeu nos últimos anos
Reconhecendo a “importância manifesta” da Pia do Urso e do Centro de BTT, o novo executivo municipal da Batalha já esteve no local e promete recuperar o que se perdeu nos últimos anos.
“O município vai proceder à adjudicação dos trabalhos que visam recuperar a homologação pela respectiva federação do Centro de BTT da Batalha” e “já encetou os trabalhos de levantamento das necessidades do espaço, incluindo as estações sensoriais e demais equipamentos”, garante o presidente da autarquia.
“São projectos premiados, com elevada capacidade de atracção de público e que no ‘puzzle’ da oferta turística muito contribuem para a fixação de turistas neste território e têm enorme capacidade para alavancar sectores como o da restauração e do alojamento”, sublinha Raul Castro confiante que “se bem trabalhados” e em “articulação com os privados” podem ter um “resultado bastante satisfatório”.