O incêndio que, no passado dia 12, deflagrou na localidade de Palmeiria, em Caranguejeira, concelho de Leiria, começou num amontoado de lixo colocado junto à estrada, em zona de floresta. A informação foi avançada pelo vereador da Protecção Civil, Luís Lopes, durante a reunião de câmara realizada na terça-feira.
Segundo o vereador, ainda não está determinado se o fogo resultou de “uma reacção da decomposição de matéria” que se encontrava depositada no local e, dessa forma, se tratou de uma causa “negligente”, ou se existiu mão criminosa. Certo é que o fogo, o maior registado no concelho num dia em que houve “15 alertas de incêndio” na área do município, consumiu 3.767 hectares, a “uma velocidade de 1.533 metros por hora”, registada nos primeiros 180 minutos. “A cada hora, arderam 243 hectares”, sublinhou Luís Lopes.
Segundo as estimativas do município, este incêndio provocou prejuízos na ordem dos 8,2 milhões de euros, sobretudo na floresta e agricultura. Registaram-se ainda danos em duas casas de segunda habitação e numa outra devoluta, bem como em alguns anexos de residências. O incêndio obrigou ainda à retirada de 87 pessoas dos seus locais de residência, sobretudo de lares de idosos, e provocou seis feridos (cinco ligeiros e um transferido para uma unidade de queimados em Coimbra).
Projecção para Milagres
O incêndio da Caranguejeira, que progrediu depois para a Boa Vista, Colmeias e Memória, terá ainda provocado “uma projecção”, que deu origem ao fogo de Milagres, que começou duas horas depois “a uma distância de sete quilómetros” do início do primeiro, revela Luís Lopes. No caso do incêndio dos Milagres, o balanço aponta para um total de 185 hectares consumidos e para prejuízos estimados em 470 mil euros. No total, os dois fogos provocaram danos avaliados em 8,7 milhões de euros e queimaram quase quatro mil hectares de floresta, num território com cerca de “9.700 edifícios”.
A convicção de Luís Lopes é que a existência de faixas de gestão de combustível, que, nos últimos quatro anos, implicaram um investimento de 1,7 milhões de euros no concelho, num total de 1.037 hectares, contribuiu para que as consequências não fossem ainda maiores. “O facto de as faixas existirem não impede a área ardida, mas o número de habitações com danos foi muito inferior e permitiu a retirada de pessoas de forma segura”, salientou o autarca.
Por seu lado, o vereador do PSD Álvaro Madureira sublinhou a forma como os incêndios foram combatidos, com “alma e destreza” por “bombeiros e população”, e defendeu o reforço das equipas de vigilância, que devem ser “dotadas com meios humanos e materiais, para fazer face a possíveis focos que possam surgir nos próximos tempos”. Manifestou ainda solidariedade às pessoas, empresas e entidades atingidas pelos incêndios, e lamentou os danos que ocorreram.
Centro de meios aéreos na BA5
Durante a reunião de câmara, o presidente da autarquia defendeu um maior aproveitamento da Base Aérea n.º 5, em Monte Real, na estratégia nacional de combate aos incêndios, considerando mesmo que ali poderia ser criado “um cluster de protecção civil”.
Mais tarde, numa publicação feita no facebook, Gonçalo Lopes concretizou a ideia: “Considero que a Base Aérea de Monte Real pode desempenhar um papel fulcral e central nesta abordagem, com a criação de um centro nacional de apoio aéreo de combate a incêndios, o que, em termos práticos, passaria pela instalação de uma plataforma para estacionar os aviões e criação de infra-estruturas para formação e treino de pilotos, mecânicos e pessoal de terra, tornando esta base militar capaz de responder a esta ‘guerra’ que todos os anos nos atinge”.
Confrontado pelo JORNAL DE LEIRIA sobre o facto de esta proposta poder significar o abandono da pretensão de abertura da BA5 à aviação civil, Gonçalo Lopes alegou que são usos “conciliáveis” entre si e com a operação dos F16.
Na reunião de executivo foi ainda aprovada uma proposta para que os habitantes das freguesias afectadas pelos incêndios possam beneficiar de um desconto na factura da água, como forma de compensar o aumento do consumo motivado pelo combate aos fogos. Os descontos podem chegar aos 17 euros, para clientes com serviço de água e saneamento, ou aos 9 euros, para quem tem apenas serviço de água.