A ‘febre’ do padel chegou à região há pouco mais de uma década e está a ‘contagiar’ atletas e investidores. A modalidade social, divertida e para todos os géneros e idades está a provar ser uma moda que veio para ficar. Com cerca de duas dezenas de clubes e mais de meia centena de campos espalhados por vários concelhos, o padel continua a motivar investimentos e até rouba praticantes a outras modalidades.
“O meu sonho e a minha vida sempre foram o ténis, era jogador profissional mas cheguei a um beco sem saída e vi no crescimento do padel uma oportunidade”, confidencia o leiriense Bernardo Roque, de 24 anos.[LER_MAIS]
A praticar há cerca de um ano e meio, aponta “a evolução na competição”, “o investimento das empresas” e “a possibilidade de ter mais espaço para publicidade na camisola” como os principais factores que fizeram com que esta fosse uma aposta ganha.
Neste momento já está a disputar a categoria masculinos de nível 1 (M1), a mais alta do campeonato nacional, e afirma que “o objectivo é fazer disto carreira”.
Além de atleta, também é treinador na zona de Lisboa e garante que “o padel veio para ficar porque é muito viciante”. E o vício parece estar a alastrar-se a praticantes de várias modalidades. Jogador de futebol desde os seis anos, Manuel Rito, de 19 anos e natural da Golpilheira, na Batalha, é um dos muitos que ‘arrumou as botas’ da bola depois de experimentar o jogo num campo rodeado de vidro e rede durante a pandemia.
Fã de jogar com os pés, ‘Manu’ aliou a técnica já adquirida à destreza com a raquete e em pouco mais de um ano sagrou-se campeão nacional de padel na categoria masculinos de nível 5 (M5) com o amigo da ‘bola’, o Vasco.
No campo do Elite Padel, o novo clube leiriense instalado em Regueira de Pontes, conta que “têm sido muitos meses de treino, preparação física e investimento” mas garante de sorriso rasgado que quer continuar a apostar nesta actividade que descreve como “desafiante”. “No entanto, sei que, apesar de ser relativamente fácil jogar e evoluir, é difícil os atletas profissionalizarem-se e viverem disto porque requer muito investimento.
Além das aulas, da preparação física e do equipamento, é preciso ir aos torneios para ter pontos e são cerca de 20 numa época que custam cerca de 20 euros cada um, ao que acresce as despesas de viagens, estadia, entre outras”, explica.
Numa modalidade “diferente de todas mas semelhante ao ténis, ao ping pong, ao squash e ao badminton”, o treinador do clube, André Martelo, da Figueira da Foz, garante que é fácil conquistar adeptos para este jogo de duplas num campo fechado.
“A parte física, a movimentação e o campo são factores comuns a outros desportos e acaba por ser idêntico tacticamente, apesar de ser diferente tecnicamente. Quem já tiver a técnica nos membros inferiores tem facilidade em adaptar-se e, no geral, é fácil aprender e evoluir o que acaba por captar (e viciar) muita gente”, explica, depois de deixar o basquetebol para ser atleta e treinador de padel.
“Quando comecei a praticar, há cerca de seis anos, diziam que isto era uma moda mas hoje continuam a abrir clubes, até parecem cogumelos, porque sem dúvida que este é um desporto em ascensão”, atira.
A moda veio para ficar
“O padel está um pouco na moda, mas não é uma moda porque vai ficar”, garante o presidente do Clube Escola de Ténis e Padel de Leiria, pioneiro da modalidade na região.
Com dois campos exteriores instalados na cidade do Lis há cerca de 13 anos, Gonçalo Jacinto adianta que o clube tem projecto para a construção de três campos fechados. Sem registo de que a ‘nova’ aposta esteja a roubar atletas ao ténis, enaltece que “esta modalidade tem uma grande vertente social, consegue abarcar praticantes de muitas modalidades e traz muita gente ao clube”.
E essa é a aposta do XXL Padel, o clube que tem atletas dos três aos 70 anos, jogos entre familiares e até eventos empresariais.
Com uma mesa de matraquilhos à porta, uma zona de aquecimento e um bar com esplanada, Bruno Ferreira não esconde na aposta social do desporto e assume que este é o segredo da “grande evolução da modalidade”.
Sentado numa das mesas, com vista para os dez campos interiores do clube da Batalha, o jovem de 24 anos do Souto da Carpalhosa recorda que também ele trocou o futebol pelo padel durante a pandemia e viu na dificuldade em marcar campos uma oportunidade de negócio com os pais.
“Com este clube quisemos afirmar a diferença e duplicar a oferta na zona”, acrescenta sobre o clube com mais campos na região que além do aluguer de campos, promove provas e dinamiza encontros para grupos.
“Desde que abrimos, há cerca de um ano, apareceram mais clubes, há mais concorrência, mas também há mais jogadores e por isso o ‘boca a boca’ conta muito, apostamos nas redes sociais e recebemos provas da federação”, acrescenta.
“Modalidade suportada nos privados”
Num mundo desportivo tradicionalmente potenciado pelo associativismo, o padel destaca-se por requerer um investimento inicial avultado, que pode rondar entre os 100 e os 200 mil euros, o que faz com que seja uma “modalidade suportada nos privados”.
“Cerca de 90% dos clubes de padel são empresas o que inviabiliza o acesso a incentivos e apoios ao desporto”, como os programas do Instituto Português do Desporto e Juventude e as verbas dos municípios que são usadas para potenciar as outras modalidades.
O alerta é feito pelo atleta e investidor Bruno Rego, de 45 anos, natural de Lisboa, que há cerca de quatro anos abriu o Padel Clube de Alcobaça com o sócio e amigo David Coelho, de 50 anos e de Turquel.
Conheceram-se no hóquei e ainda hoje treinam e jogam juntos numa equipa de veteranos, mas também eles se deixaram encantar pelo jogo com a raquete.
“Na altura houve um ‘boom’ da modalidade em Portugal e aqui à volta existiam poucos campos e isso fez-nos querer alimentar a vontade das pessoas”, contam, sentados no espaço que viram fechar durante a pandemia e onde se debatem sobre a importância de “repensar o modelo de negócio” para fazer face à concorrência.
Com dois campos interiores, alugam o espaço, promovem torneios, têm aulas e até desporto escolar.
E uma coisa é certa, acrescentam: “O padel é para todas as idades, é um sucesso nas mulheres e até já é visto pelos pais como uma opção desportiva para futuro das crianças”.
No entanto, garantem, “não tem nada que ver com o hóquei”. “São bastante opostos”, atira entre risos quem gosta da “simplicidade do jogo do padel”, mas está habituado a “patinar, dominar a bola e o stick enquanto controla o jogo e a equipa”.