Meninos portugueses, mas também de Angola, da Guiné, de vários Estados do Brasil, de Inglaterra, Ucrânia, Rússia, Argentina, França, Índia e crianças de etnia cigana compõem o universo de alunos do Centro Escolar de Alcobaça. Uma multiculturalidade onde nem sempre a inclusão e a comunicação eram fáceis de estabelecer.
Preocupada com esta dificuldade, Isabel Fonseca, presidente da Junta da União de Freguesias de Alcobaça e Vestiaria, lançou no ano passado um desafio à Banda de Alcobaça, iniciativa que se tornou num ponto de viragem para todos.
Dalila Vicente, responsável pelo departamento de Projectos para a Comunidade, da Banda de Alcobaça (BA), explica que a BA respondeu ao repto e propôs uma estratégia no sentido de “reparar estas relações sociais através das artes”.
“Fizemos uma pesquisa[LER_MAIS] sobre as danças folclóricas e as músicas tradicionais de cada país de origem dos alunos de cada turma e dinamizámos aulas de dança ajustadas às turmas identificadas”. Assim nasceu no passado ano lectivo o projecto A Dançar nos Entendemos, um projecto-piloto que envolveu inicialmente duas turmas deste centro escolar.
“Conseguimos que, no final do ano, alunos tímidos e que não se manifestavam nas aulas passassem a ter orgulho na sua cultura, se mostrassem mais dinâmicos na sala de aula e que houvesse aceitação de parte a parte”, congratula-se Dalila Vicente.
“Estamos a falar de crianças dos 6 aos 9 anos, que chegam a um país diferente e que não têm forma de manifestar orgulho pelas suas origens. Mas, sendo eles a liderar uma aula, através da sua dança tradicional, revelaram uma transformação emocional e de bem-estar. Porque se tornaram líderes numa acção positiva”, frisa Dalila Vicente.
A dança foi o mote para a sensibilização acerca da guerra entre Ucrânia e Rússia, quando os alunos russos começavam a ser afectados pelas notícias que chegavam pelos media, realça a professora. E a uma jovem de etnia cigana, que se encontrava em risco de exclusão, foi recomendado que participasse no projecto, iniciativa que lhe deu novo incentivo, a ela e também os pais, prossegue a responsável.
A dança, associada ao toque respeitoso, foi também pretexto para trabalhar as questões de género e do respeito pelo corpo do outro, constata Dalila Vicente. “E algumas famílias já elogiaram a forma como este projecto valorizou a sua cultura”, destaca a responsável.
As aulas decorreram uma vez por semana e durante o horário lectivo, contaram com a dinamização de professores da BA e o projecto acabou por ser finalista do Prémio Gandhi de Educação para a Cidadania.
A Dançar nos Entendemos teve resultados tão expressivos que, de duas turmas, passa este ano lectivo a integrar quatro, ou seja, 88 crianças. E o objectivo é que a ideia possa ser replicada noutras escolas, adianta Dalila Vicente.
A responsável destaca não só o papel do agrupamento e dos professores que acolheram a ideia, mas também da BA, que a operacionalizou, e ainda o mérito da presidente da junta que, percebendo uma dificuldade, mobilizou meios para lhe dar resposta.
“É um projecto que tem tido um impacto muito positivo e que pretendemos apresentar a todos os pais”, congratula-se a presidente de junta, Isabel Fonseca.