O organista e compositor alemão Wolfgang Seifen, considerado internacionalmente como um dos maiores improvisadores da actualidade, é o artista convidado para o jubileu dos 25 anos do grande órgão da Sé de Leiria, um aerofone com 2.300 tubos que à época gerou inúmeros anticorpos, pelo custo de aquisição.
O concerto acontece esta quarta-feira, 5 de Outubro, pelas 16 horas, e é de entrada livre.
Financiado através de uma campanha de donativos a que hoje, provavelmente, se chamaria crowdfunding, o instrumento instalado em 1997 na Sé de Leiria foi o quarto grande órgão em Portugal com características de construção modernas e ao tempo o único disponível entre Lisboa e Porto (descubra-o neste vídeo).
A inauguração pelo músico Franz Stoiber a 4 de Outubro constituiu um acontecimento, com a presença do Presidente da República, Jorge Sampaio, apesar das “hesitações” e “objecções” manifestadas por crentes e não crentes, que o bispo Serafim Ferreira e Silva, na qualidade de administrador da diocese de Leiria-Fátima, reconheceu no texto escrito para a temporada inaugural de concertos: “Não é capricho e não cremos nem queremos que seja esbanjamento”.
Em causa, o preço: “100 mil contos”, cerca de “500 mil euros”, recorda João Santos, actualmente o organista titular da Sé de Leiria. “Teve alguns anticorpos, como é óbvio. São valores astronómicos”.
Um dos membros da comissão nomeada pelo cabido da igreja catedral de Leiria “voluntariou-se” para dinamizar “um peditório” e “todas as semanas havia um relatório nos jornais religiosos”.
O contributo de várias instituições, incluindo o Santuário de Fátima, a Câmara Municipal de Leiria e o Ministério da Cultura, mas, sobretudo, de cidadãos particulares e benfeitores anónimos permitiu concretizar o projecto.
Demorou anos. A iniciativa do cónego José de Oliveira Rosa (que era o organista titular da Sé de Leiria) está proposta na reunião ordinária do cabido de 22 de Maio de 1993, para assinalar o 450.º aniversário da criação da diocese, em 22 de Maio de 1995. Daí o nome da campanha de angariação de fundos semanalmente publicitada na imprensa católica regional: “Prenda de Anos”.
“Havia uma vontade incrível dos cónegos”, salienta João Santos. Além do cónego Rosa, “o grande impulsionador”, também o maestro do coro da Sé de Leiria, padre Carlos da Silva.
Construído por 19 artesãos na oficina do mestre organeiro Georges Heintz, localizada na aldeia de Schiltach, na Floresta Negra alemã, o aerofone da Sé de Leiria tem 11 metros de altura, é totalmente mecânico sem ajudas electrónicas e pelas “características modernas” e “versáteis” de concepção adequa-se a todo o repertório composto para órgão, em que sobressaem as obras de Bach, algo que ainda hoje não é possível, por exemplo, na cidade de Coimbra.
Depois da primeira grande intervenção, uma limpeza, há cinco anos, o grande órgão de tubos da igreja catedral de Leiria está como novo. É ouvido “todas as semanas em missas” e “com menos frequência” em concertos, explica João Santos, que, como organista titular, é uma espécie de “guardião do instrumento”, um mecanismo complexo, que funciona com ar produzido por compressor e condensado para o interior de foles, construído à medida para o espaço onde se encontra com madeira da Floresta Negra alemã, pele de carneiro, metais, tijoleira e teclas de osso de vaca. Apresenta “um espectro enorme” de graves a agudos e 35 opções para “colorir” o som.
Sobre o concerto desta quarta-feira, com Wolfgang Seifen, que regressa a Leiria, João Santos argumenta que o aerofone da Sé de Leiria pode ser “um pólo importante de atracção de estrelas mundiais [como Wolfgang Seifen] porque é um dos órgãos que está na rota dos grandes órgãos em Portugal”.
Numa tarde em que também estará presente o mestre organeiro Georges Heintz, o músico Wolfgang Seifen vai interpretar improvisações sobre alguns dos cânticos mais conhecidos do padre Carlos da Silva (1928-2009), figura a quem é atribuída crucial importância no desenvolvimento musical da diocese de Leiria- Fátima e, salienta João Santos, também “importante a nível nacional” por ter composto “cânticos litúrgicos que são cantados em todo o país”.
O programa termina com o tríptico sinfónico “Avé de Fátima”.