No ano em que o Museu Joaquim Correia atinge um quarto de século, o nome do escultor está de novo nas notícias, por outros motivos: a deslocalização do “Monumento à Revolta de 18 de Janeiro de 1934”, do centro para a periferia da rotunda onde se encontra instalado.
Joaquim Correia nasceu a 26 de Julho de 1920, na Marinha Grande, filho e neto de mestres vidreiros. E no conjunto de arte contemporânea agora no cerne da polémica, constituído por estátua em bronze e relevos em pedra, imortaliza, precisamente, os trabalhadores da indústria do vidro, que são representados em actividades laborais e também no contexto de protesto, a pegar em armas.
Há, pelo menos, outra obra na Marinha Grande em que é semelhante a gramática utilizada pelo escultor: o “Monumento aos Heróis do Ultramar”, no Parque Mártires do Colonialismo.
Apesar do mérito que lhe é reconhecido e do estatuto alcançado em vida – director da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada, representado no Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Museu Nacional Soares dos Reis e no centro de arte moderna da Fundação Gulbenkian, entre outras colecções públicas e privadas – o Museu Joaquim Correia, inaugurado há 25 anos, a 5 de Dezembro de 1997, é ainda desconhecido de grande parte da população do concelho da Marinha Grande, acredita o presidente do município, que se diz empenhado em estimular novas de visitação do Palácio Taibner de Morais, também chamado Palácio dos Barosas, no Largo 5 de Outubro.
“Tem um potencial incrível” e “não estava a ser aproveitado”, considera Aurélio Ferreira. “A solução será, sem dúvida nenhuma, criar dinâmicas, criar atractividade”.
Segundo dados da Câmara da Marinha Grande, em 2022 o Museu Joaquim Correia já recebeu 2.753 visitantes, quase cinco vezes o número (580) acumulado em 2021.
O edifício alberga dezenas de obras realizadas e doadas pelo autor (ou por familiares) à Câmara Municipal da Marinha Grande e o acervo é constituído por 17 esculturas (uma em bronze, 16 em gesso), seis baixos-relevos em gesso, 16 maquetes (quatro em bronze, 11 em gesso e uma noutros materiais), 31 bustos (13 em bronze, 13 em gesso, um em acrílico, três em terracota e um em mármore), 137 medalhas (60 modelos em gesso, 60 medalhas cunhadas em bronze, sete medalhas em porcelana, cinco medalhas em terracota e cinco medalhas fundidas em bronze) e ainda 50 desenhos, 10 aguarelas e cinco gravuras, sempre com o papel como suporte.
“A Marinha Grande é uma cidade industrial, mas as pessoas têm de ter algum lazer, alguns hobbies, não perder o sentido de cultura”, comenta Aurélio Ferreira, desde 2021 à frente de um executivo que tem procurado valorizar as artes e a programação cultural. Aumentar o público que frequenta os eventos que vão acontecendo no concelho, e o número de visitantes do Museu Joaquim Correia, “é um trabalho que vai demorar anos”, concede, mas, por outro lado, parece já existir “um crescente dinamismo”, que também resulta da capacidade de envolver as escolas.
“O mestre Joaquim Correia merece”, foi “um homem com dimensão” e aquele é um “espaço extraordinário”, que pode “complementar” o circuito de visitação do Museu do Vidro e do Núcleo de Arte Contemporânea do Museu do Vidro, perspectiva o autarca, eleito numa lista independente.
Até falecer, em 2003, aos 92 anos de idade, Joaquim Correia produziu diversas obras de arte pública, por exemplo, para os concelhos da Marinha Grande (um busto de Afonso Lopes Vieira, as estátuas “Orfeu”, “O Vidreiro” e “O Vidraceiro”), de Leiria (monumentos a Afonso Lopes Vieira, a Francisco Rodrigues Lobo e aos Heróis do Ultramar, o busto de José Lúcio da Silva), de Ourém (estátuas do Papa Paulo VI e do bispo D. José Alves Correia da Silva) ou mesmo de Guimarães (a peça “Justiça”).
Escreveu sobre a história da indústria vidreira, tocou violoncelo, recebeu a medalha de ouro na Exposição Internacional de Bruxelas e é, sem contestação, uma figura ímpar na história das artes com origem na Marinha Grande, o que justifica o desejo do município de alimentar o crescimento do número de visitantes do Museu.
Entretanto, o programa do mês de Dezembro, com actividades para toda a família desde o dia 1, para celebrar o 25.º aniversário, contempla a exposição Feminae, de Paulo Honorato, e, no próximo dia 17, a tertúlia “25 anos do Museu Joaquim Correia, e agora?”, em que a autarquia procura lançar o debate sobre o espólio deixado pelo escultor ao concelho onde nasceu e o respectivo contributo para a identidade local.