Quando, há um ano, venceu as eleições para a liderança da Comissão Política Concelhia (CPC), disputadas por três candidatos, José Augusto Santos prometia “unir o PSD de Leiria”. Mas, em menos de um ano de mandato, as divergências entre a concelhia e os vereadores eleitos pelo partido tornaram- se evidentes, uma ruptura que dificulta, “e muito”, o trabalho de oposição, como reconhecem vários militantes ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA.
O último episódio aconteceu na semana passada, com o vereador Daniel Marques a anunciar a desvinculação do PSD, passando à condição de independente. “Não posso continuar com esta guerrilha constante e de ataques pessoais”, alegou o autarca, que estava filiado há cerca de duas décadas.
Já em Novembro, a CPC tinha retirado a confiança política ao vereador Álvaro Madureira, acusando- o de agir “à revelia” dos órgãos partidários. Em resposta, o autarca criticou a concelhia por estar “fechada” sobre si mesma e “não ouvir os militantes”.
Na sequência dessa troca de acusações, surgiu uma nova polémica, com um grupo de militantes e de simpatizantes a pedir a demissão de José Augusto Santos, por considerarem que está a provocar “a desunião, discórdia e divisão” no partido. O pedido constava de uma petição, enviada ao presidente do PSD Luís Montenegro e subscrita por 150 pessoas, cujos nomes não foram divulgados.
Entretanto, ao que o JORNAL DE LEIRIA apurou, os órgãos concelhios fizeram uma participação às estruturas de jurisdição do PSD, reportando várias situações envolvendo Álvaro Madureira e que, na óptica da queixa apresentada, são passíveis de violar os estatutos do partido, o que, a confirmar-se, poderá, em limite, ditar a sua expulsão.
Reflexos nos resultados eleitorais
Estes são mais alguns episódios num histórico de guerras e divisões internas que, nos últimos anos, têm consumido o partido a nível local, com reflexos nos resultados eleitorais. De partido maioritário no concelho de Leiria, o PSD vê-se, desde 2009, relegado à condição de oposição, com cada vez menos representantes no executivo.
Nas últimas autárquicas, os sociais-democratas elegeram apenas três vereadores, sendo que destes, Álvaro Madureira não tem a confiança política da concelhia e Daniel Marques assume-se agora como independente. O terceiro eleito é Branca Matos, uma escolha pessoal de Madureira para a lista que liderou à câmara.
Se no assacar de responsabilidades pela actual divisão do partido em termos locais as opiniões dos militantes ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA divergem em função da facção que apoiam – vereação ou concelhia -, já na análise às consequências dessa fractura parece não haver dúvidas de que tal ruptura prejudica o trabalho de oposição à maioria socialista.
“Se houvesse uma maior cooperação dos vereadores, o trabalho do PSD seria mais fácil e ágil”, afirma José António Silva, histórico do partido que esteve no centro de muitas das polémicas que envolveram o PSD de Leiria nas últimas duas décadas.
O social-democrata está, no entanto, convicto que, “apesar das fragilidades”, a actual concelhia “vai fazendo um bom trabalho”. O que “atrapalha”, diz, é a “falta de colaboração dos eleitos” no executivo. “São convocados para reuniões com o objectivo de conciliar e debater posições com a comissão política e não comparecem”, exemplifica um elemento da concelhia.
Esta acusação é refutada por Álvaro Madureira, que garante que os vereadores “sempre se disponibilizaram para articular com a CPC”, rejeitando também a crítica de actuar “à revelia” das estruturas partidárias.
“Os vereadores não podem estar calados na câmara. Temos de fazer oposição, funcionando como pontas- de-lança [do PSD] no executivo para assuntos pertinentes”, acrescenta o vereador, que acusa a actual concelhia de “espartilhar” o partido.
Plenário de militantes
Parco em palavra sobre as polémicas surgidas em menos de um ano de mandato, alegando que “são assuntos internos do partido”, o presidente da concelhia diz que a estrutura que lidera “está a fazer todos os esforços para reabilitar o PSD em Leiria e para criar uma oposição forte e credível”. “É preciso quebrar um ciclo, seguido pelo PSD nos últimos dez anos, que levou o partido a perder milhares de votos”, reforça José Augusto Santos.
Líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal de Leiria, eleito como independente, Carlos Poço assegura que “há sintonia e coordenação” entre a concelhia e os eleitos neste órgão. O deputado municipal reconhece, no entanto, que a divisão do partido, que “se arrasta há anos”, persiste, com reflexos nos resultados eleitorais. “Um partido que não mostra unidade, é frágil. Estas fracturas dificultam muito o trabalho de oposição e facilitam a vida à maioria”, afirma.
Para esta sexta-feira, dia 20, está convocado um plenário de militantes do PSD de Leiria, para analisar a situação político-partidária local e nacional, incluindo a actividade da concelhia.