A Nerlei – Associação Empresarial da Região de Leiria pretende criar um gabinete de acompanhamento de missões empresariais.
O objectivo é a agilização e concretização dos acordos e contactos realizados durante as idas ao estrangeiro.
“Este gabinete apoiaria os empresários nacionais que nos acompanham nas nossas missões empresariais, ajudando a cumprir prazos e etapas dos acordos com as empresas nos países de destino. Por vezes, é necessário alguém que lembre de enviar os orçamentos, propostas e amostras. É um trabalho determinante para que o investimento, após as deslocações, tenha sucesso. Internamente, já fazemos algum deste trabalho, mas acreditamos ser possível e desejável, prestarmos esse serviço às PME, que, por vezes, têm dificuldade em cumprir as etapas”, explica Henrique Carvalho, secretário-geral da Nerlei.
O responsável lembra que o número de empresas portuguesas exportadoras é muito baixo, apenas cerca de 20 mil. “E há uma enorme rotação entre elas. Todos os anos, cinco mil saem e outras cinco mil entram. Isto significa que começam, porém, não continuam o processo de internacionalização, limitando-se a um negócio ou dois no estrangeiro.”
Deste modo, uma solução fornecida pela Nerlei, em regime de outsourcing, permitiria às PME manter a acção focada no mercado externo, sem terem de desviar recursos do quotidiano.
Por outro lado, tratando-se de pequenas e médias empresas, nem sempre há a capacidade de desviar uma pessoa ou parte do seu trabalho para os clientes internacionais.
“Se for o gerente a ficar com a tarefa, normalmente, terá tanta coisa para tratar que alguma coisa ficará para trás. Este é um trabalho de sistematização, que obriga ao domínio de línguas, a diferentes fusos horários e a uma correcta abordagem do parceiro estrangeiro. Imagine-se uma empresa que faz um contacto muito interessante em Marrocos, mas demora dois meses a enviar um orçamento… Precisa de alguém focado no cumprimento destas etapas. Podemos colocar-nos à disposição para fazer mais e apoiar as PME”, adianta o responsável.
O secretário-geral realça o trabalho de internacionalização feito recorrendo a fundos comunitários, contudo, reconhece que o efeito reprodutivo na criação de riqueza e de exportação e internacionalização poderia ser maior.
“Temos de aproveitar, pois os fundos para este fim podem cessar”, alerta.
Desde 2008, a Nerlei já apoiou 1767 empresas com projectos de apoio em 27 mercados estrangeiros, ao longo de 115 acções de internacionalização de natureza diversa.
Os sectores que mais contactam a Nerlei são os de produção de bens de consumo, construção, estruturas metálicas, moldes, serviços, novas tecnologias ou metalomecânica.
“Felizmente, estamos sediados numa região onde há múltiplos sectores de actividade económica”, diz Petra Moleiro, técnica de apoio à internacionalização na associação.
A relação custo-benefício é mais vantajosa em missão do que num empreendimento a solo e essa é uma das razões pela qual este tipo de viagens em busca de negócios no estrangeiro é tão aliciante para as PME.
Os mercados onde a Nerlei já auxiliou a entrada estendem-se por todo o mundo.
Dos mais próximos como Espanha, à Polónia, norte de África, Rússia, Cazaquistão, França, Suíça, Brasil, Irão, Japão ou China. São Paulo, no Brasil, e Marrocos serão as duas próximas missões que a associação irá realizar no início deste ano.
No primeiro caso, um dos sectores com maior evidência é o da tecnologia. A cidade é um dos hubs económicos mais importantes da América do Sul. “Não é costume, mas desta vez, a nossa missão está mais voltada para empresas do sector das novas tecnologias. Normalmente, pensamos em termos multissectoriais”, diz Henrique Carvalho, apontando Marrocos como exemplo de uma acção apontada a outros sectores.
“Há mais empresas industriais e de bens de consumo a procurar esse país.”
Segundo Petra Moleiro, a presença das empresas em missões empresariais não se limita a uma acção isolada na abordagem aos mercados externos. As comitivas são realizadas no âmbito de um programa de incentivos e de apoios à internacionalização do Portugal 2020.
A associação dos empresários elabora um projecto de abrangência nacional, onde prevê a participação de diversas empresas em várias acções, quer sejam missões, feiras ou de outra natureza. Actualmente, a Nerlei tem a decorrer duas destas iniciativas, com duração de ano e meio, no âmbito do Compete 2020.
“Aconselhamos os empresários interessados a não estarem à espera que a Nerlei crie um projecto de missão, para depois nos contactarem. Idealmente, deveriam ser as empresas a trazerem uma lista daquilo que lhes interessa. Já devem ter uma estratégia razoável para se direccionarem para um determinado mercado. O primeiro contacto deve ser da empresa”, adverte Henrique Carvalho.
A importância da vénia e da pontualidade
São enviados, previamente, questionários ao tecido empresarial e, após análise da informação recolhida, é traçado um plano, onde quatro a cinco empresas com interesses semelhantes são reunidas e avança-se para um projecto de apoio.
Neste momento, são cobertas 50% das despesas. “O processo burocrático da candidatura é trabalho da Nerlei”, explica Petra Moleiro.
Mas participar numa missão empresarial, no actual contexto tecnológico, nem sempre implica uma deslocação ao estrangeiro. Há, cada vez mais a opção virtual.
“As missões virtuais já existiam antes da pandemia. Têm mais-valias no caso de mercados longínquos, onde o custo de deslocação é muito elevado. Além disso, virtualmente há maior elasticidade na programação de reuniões de trabalho. Mas temos ainda um terceiro modelo, o híbrido, que junta a missão de preparação virtual, com uma presencial, mais tarde”, refere a técnica de apoio à internacionalização.
É uma mais-valia para empresas que ainda não têm experiência. A experiência adquirida durante anos pela associação empresarial permite construir uma gestão mais racional dos meios e, em simultâneo, garantir que os contactos realizados serão os desejados.
As empresas nacionais vão validando os contactos feitos pela consultora no local, de forma a haver certeza que as reuniões são realizadas com os parceiros com potencial. “Por vezes, os empresários têm uma ideia pré-definida e constatam, que afinal, aquele mercado, após o estudo prévio, não lhes interessa”, reconhece Petra Moleiro.
A Associação Empresarial da Região de Leiria aposta num modelo multissectorial, com actores de vários sectores, promovendo reuniões individuais com potenciais clientes.
“A ida é conjunta, mas as empresas têm as suas particularidades e é preciso um trabalho muito profissional para encontrar o cliente certo para cada uma delas. É preciso bater à porta e conhecer o terreno. E isso é um trabalho muito fino e especializado”, conta o secretário-geral da Nerlei.
Assim, a Nerlei contacta empresas consultoras locais para que estas analisem o tecido empresarial, para construir um programa que agrade a ambas as partes. Antes da partida, há reuniões de preparação, onde se ensina até etiqueta e trato, com pessoas de outras culturas.
Por exemplo, há regras para o modo como se entrega um documento no Oriente, ou um atraso, mesmo que ligeiro, é praticamente imperdoável na Alemanha e na Suíça.
Os responsáveis da Nerlei, que já organizaram missões no Japão ou no Irão, sublinham a importância destas regras na Ásia ou em países muçulmanos.
“Fazemos um acompanhamento muito particular e individual a cada uma das empresas que nos acompanham. É uma missão quase à medida das necessidades dos empresários”, adianta Sandra Marcelino, outras das responsáveis pelo apoio à internacionalização.
Cada empresa terá uma agenda de reuniões própria, contactos com as delegações do Aicep – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, com a embaixada de Portugal. A Nerlei certifica-se mesmo que as reuniões no país visitado são realizadas nas instalações dos potenciais parceiros e não em hotéis.
As missões ao estrangeiro têm até produzido resultados em solo nacional, entre os empresários portugueses envolvidos. “A partilha de contactos e de experiências, networking, tem sido importante para a criação de parcerias e negócios”, sublinha Sandra Marcelino.
Organizadas acções para 127 empresas
Desde 2008, a Nerlei – Associação Empresarial da Região de Leiria apoiou 1767 empresas em projectos de apoio à internacionalização.
Com o apoio do Aicep Portugal Global, desde essa data à actualidade, foram intervencionados 27 mercados: Alemanha, Angola, Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Brasil, Cabo Verde, Canadá, Chile, Colômbia, EAU, Espanha, EUA, França, Irão, Itália, Japão, Líbia, Lituânia, Marrocos, México, Moçambique, Catar, Peru, Polónia, Reino Unido, Rússia e Suíça. O total acções de internacionalização chega às 115, contabilizando missões físicas e virtuais, feiras internacionais, missões inversas, recepção de opinion makers e sessões de capacitação.
Desde 2016, a Nerlei organizou 18 missões empresariais, com a participação de um total de 127 empresas nacionais.