Há um ano, José Pereira, produtor de arroz no Louriçal, concelho de Pombal, referia ao JORNAL DE LEIRIA que o reconhecimento do Arroz Carolino do Baixo Mondego como Indicação Geográfica Protegida poderia trazer algumas melhorias à fileira, que produz algum do arroz de melhor qualidade do mundo.
Há 12 meses, o preço por quilo, pago ao produtor, não chegava aos 40 cêntimos.
Este ano, o valor é o mesmo, mas o preço pago pelo consumidor é já de quase o dobro do verificado em Janeiro de 2021.
Em média, mais de dois euros nos supermercados.
Segundo a Deco Proteste, o arroz carolino é mesmo o produto que regista a subida mais acentuada no preço ao longo do último ano, numa lista de 63 bens alimentares. A explicação prende-se com vários factores, uns reais, outros nem por isso.
A invasão russa da Ucrânia que fez disparar o preço dos combustíveis terá sido um dos mais importantes, não sendo de afastar também alguns artifícios de engenharia financeira.
E houve também a seca cujo impacto poderia ter sido menorizado, caso o emparcelamento de terrenos na zona do Louriçal, prometido desde os anos 60, tivesse sido concretizado pelas autoridades.
A reorganização da propriedade permitiria as necessárias obras de regularização dos níveis de água nos campos de arroz, uma melhoria na fertilização, a retirada de marachãos e seu aproveitamento e até usar aviões na agricultura.
Também reduziria o custo de controlo com as infestantes, pois não seria necessário o emprego de grandes quantidades de herbicida.
“O preço da electricidade, do gás e a transformação tiveram grande impacto no preço. E houve uma grande quebra na quantidade produzida na área que se estende até ao vale do Mondego. Sei de produtores onde ela foi superior a 50%. No meu caso, foi de 25%”, conta José Pereira, fazendo notar que os apoios para a agricultura são cada vez menos e que todos os factores somados poderão, dentro de pouco tempo, levar a que entre 30 a 40% dos orizicultores a nível nacional deixem a actividade.
“O preço dos fertilizantes já não voltará a descer e sabemos que os combustíveis irão pelo mesmo caminho. Com o custo de produção tão alto, bastará um ano agrícola complicado para tornar a actividade incomportável”, afirma.
Um saco de adubo de 25 quilos, em 2021, custava entre nove e 11 euros, porém, em Maio do ano passado, o valor estava em 20/22 euros.
No final desta safra, José Pereira ficou apenas com uma certeza, que o ganho relativo, após abatimento dos custos fixos com fertilizantes, combustíveis e herbicidas foi igual, se não menor, ao da safra anterior.
Mau ano agrícola
A Deco refere que a subida do preço do arroz carolino se agudizou na última semana de Novembro de 2022, com a nova colheita e com os novos preços.
O director-geral da Associação Nacional dos Industriais de Arroz, Pedro Monteiro, escutado pelo Público refere que o preço da semente também subiu, devido ao mau ano agrícola que se sentiu em Espanha e Itália, em resultado da seca.
O mesmo jornal revela que, entre 2018 e 2021, o preço pago pela tonelada de arroz carolino em casca rondava entre os 350 e os 400 euros.
Em 2022, chegou aos 650. O descasque e o branqueamento, e o aumento de preço do transporte e embalamento ajudaram a que o preço por quilo chegasse a cerca de dois euros, enquanto o produtor continua a receber à volta de 40 cêntimos por quilo. Menos do que o preço de um café.