Amanhã, dia 31 de Janeiro, o Sport Operário Marinhense (SOM) celebra 100 anos de actividade intensa, com contributo na formação de artistas e de atletas, mas também de promoção de valores democráticos e até de impulso à indústria da Marinha Grande. O tempo é de festa, mas é também de reflexão sobre o futuro da colectividade.
“Queremos criar uma escola artística de referência”, refere a presidente, Cristina Carapinha. E nos tempos que se avizinham, a dirigente antevê dois grandes desafios. Por um lado, a conservação e a manutenção das instalações, que são antigas. Por outro, garantir a sucessão. “A direcção trabalha em regime de voluntariado e todo o tempo que dedica à associação é tempo que retira às suas famílias”, um espírito que já não é comum entre as novas gerações, constata.
O “Operário” foi fundado em 1923 por um conjunto de jovens que visavam promover a prática desportiva [LER_MAIS]e o futebol em particular. A primeira sede do SOM seria um prédio arrendado na Avenida 1.º de Maio, com os jogos de futebol a decorrer no “campo da biquinha”. Ao futebol, viriam a juntar-se as corridas de bicicletas. Posteriormente, o SOM passa a dedicar- se a desportos de salão, como ténis de mesa, bilhar e xadrez. E depressa foi somando centenas de sócios. Hoje são já cerca de dois mil.
E nem o Estado Novo fez desaparecer o espírito combativo que caracterizava muitos dos seus associados, que eram operários. A colectividade viria inclusive a distinguir-se pelo seu papel interventivo na luta pelos ideais da democracia. E caminhou no sentido de se notabilizar pela cultura.
Contribuiu para a difusão do gosto pela leitura, contando com uma boa biblioteca, por diversas vezes encerrada pela PIDE. Ministrou também cursos de francês e inglês, formando muitos industriais, que assim se habilitaram a fechar negócios no estrangeiro e a impulsionar a vertente exportadora da Marinha Grande.
Os bailes, o teatro, o cinema, os saraus de música, as palestras e os colóquios, que traziam à cidade ilustres intelectuais e artistas anti-fascistas, fizeram com que, ao longo dos anos, o SOM tivesse de mudar várias vezes de sede, em imóveis arrendados, sempre em busca de espaços maiores.
Nos anos 50, a associação ainda adquiriu um terreno no velho campo da feira, mas, sem verba, não avançou para a construção das instalações. O sonho de ter casa própria só se concretizou em 1985, pela mão de Dr. José Henriques Vareda. Em troca dos terrenos que possuía no campo da antiga feira, o SOM adquiriu a fábrica dos “Bengalas”, que outrora se dedicava à produção de vidraça. E é neste espaço que o “Operário” se mantém.
A conclusão do Auditório Dr. José Henriques Vareda, em 2014, no âmbito das obras de requalificação do SOM, bem como a licença definitiva para funcionamento de ensino artístico especializado, que chegou em 2022, foram alguns dos marcos recentes da sua história.
A Escola de Artes e Movimento dinamiza hoje ensino articulado especializado, através dos cursos de Dança, Música e Teatro, onde estudam 59 alunos, chegando ainda a mais 200 pessoas, através do ensino livre de dança, música, teatro, pilates, zumba, fitness, etc. E, entre desporto federado e não federado, mobiliza mais 150 praticantes de xadrez e voleibol.
Várias iniciativas assinalam centenário
As comemorações do centenário do SOM arrancaram a 14 de Janeiro, com concerto de ano novo, e vão prosseguir nos próximos dias. Pelas 18:30 horas do 31 de Janeiro, na Galeria Jorge Martins, será inaugurada a exposição Arte Solta, do artista plástico Aquilino Ferreira, com apontamentos de música e dança, ocasião em que também serão cantados os parabéns ao “Operário”.
No dia 4 de Fevereiro, irá realizar-se um sarau para mostrar um pouco das várias actividades desenvolvidas no SOM, seguido de jantar e homenagem a sócios há 25, 50 e 75 anos.
Dar relevo às associações do concelho e visibilidade às suas actividades e captar novos públicos são alguns dos grandes objectivos do SOM para 2023, além das comemorações do seu centenário, adianta a instituição.