“Em várias ocasiões, fui à farmácia e não consegui trazer o sensor para a medicação de glicemia, que é essencial para a diabetes tipo 1 e que tem de ser trocado de 14 em 14 dias”, expõe Pedro dos Santos. “Dizem-me que não sabem por que não vem e já aconteceu ter de esperar por ele três meses”, prossegue o paciente, que reside em Leiria, mas que, por várias vezes, só encontrou o que precisava no concelho de Pombal.
“É um dispositivo comum, mas que é caro e comparticipado. Portanto, ou pago 9 euros por ele, na farmácia, com receita médica, ou tenho de o encomendar na internet por cerca de 100 euros”, compara Pedro dos Santos. “As farmácias não fazem stocks, costumam encomendar de acordo com os seus clientes habituais. Se se gerar o pânico ou que mais alguns clientes procurem sensores nas farmácias onde não é hábito adquiri-los, rapidamente se esgota”, observa Pedro dos Santos, para quem é essencial manter o bom-senso e evitar açambarcamentos.
A escassez de produtos farmacêuticos sente-se, de resto, em vários domínios. Depois de contactar duas farmácias de Leiria, à[LER_MAIS] procura de Seretide para o inalador, para a filha doente de asma – onde lhe foi dito que o medicamento estava esgotado – Filipa Sousa encontrou-o numa farmácia da Marinha Grande. “Só pude trazer dois. A farmacêutica explicou-me que lhes tem sido difícil obter mais, pelo que apenas vendem aquela quantidade, para evitar açambarcamentos”, conta a cliente.
Hélder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, explica ao JORNAL DE LEIRIA as várias razões pelas quais tem havido escassez de medicamentos. Por um lado, existe a tendência para as farmácias terem menos stocks nos estabelecimentos, porque têm a possibilidade de se abastecerem durante o dia junto dos distribuidores. “O problema é que, quando há menos quantidade disponível, é mais difícil conseguir esse abastecimento”, salienta o bastonário.
“E há menos disponibilidade para obter medicamentos baratos, devido ao aumento do custo das matérias-primas e da energia, que levam a que o preço de venda ao público não compense o preço de produção. Por isso, alguns produtos estão a sair do mercado”, justifica Hélder Mota Filipe. E foi para tentar minimizar este constrangimento que, recentemente, o Ministério da Saúde decidiu aumentar o preço de venda ao público de alguns medicamentos, contextualiza o bastonário.
Além disso, prossegue o responsável, há factores internacionais que contribuem para este cenário: “o aumento do custo da energia, dos transportes e da escassez de algumas matérias-primas, que se agravou com a guerra”. O bastonário lembra, por exemplo, que muito do alumínio necessário para o fabrico de blisters é fornecido pelo Leste da Europa. E fala também do caso de substâncias activas do paracetamol, que “não desapareceram do mercado, mas que diminuíram a sua quantidade”. “É importante que aprendamos, que nos preparemos, porque a situação não se vai resolver em pouco tempo”, adverte Hélder Mota Filipe, para quem “é importante ter mecanismos de resposta rápida”.
Uma das medidas a tomar, preconiza, é uma reforma na Saúde, que permita que as farmácias possam disponibilizar medicamentos alternativos àqueles que estejam esgotados. “Que haja listas oficialmente aprovadas de terapêuticas, para que o farmacêutico possa disponibilizar outro medicamento ao doente, sem haver necessidade deste ter de ir pedir nova receita ao médico”, propõe o bastonário, para quem é preciso trabalhar ainda no sentido de criar mais stocks, que permitam minimizar estas falhas.
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