O livro acaba de chegar ao mercado e traz novos resultados sobre a vida e a obra de Ernesto Korrodi, vencedor de dois prémios Valmor. Esclarece que o apelido tem origem na Suíça no século XIV (a Itália era a outra hipótese) e que o arquitecto responsável pelos desenhos de reconstrução do castelo de Leiria nunca chegou a naturalizar-se português (provavelmente, devido à participação do País na primeira grande guerra). A investigação, produzida por José Manuel Teixeira, atribui-lhe uma dúzia de edifícios em relação aos quais subsistiam dúvidas – entre eles, a Casa do Major Pessoa, em Aveiro, onde funciona actualmente o Museu Arte Nova.
Nascido Ernst Korrodi no ano de 1870, em Zurique, na Suíça, a dois mil quilómetros de Leiria, veio para Portugal como professor (o pai também era professor) e tornou-se uma personalidade respeitada em várias áreas do conhecimento.
“O primeiro factor determinante do sucesso dele foi o talento”, comenta José Manuel Teixeira, autor de Arquitecto Ernesto Korrodi – Vi(n)da e Obra, livro apresentado no último sábado, em Leiria. Por outro lado, “soube estabelecer relações sociais e de amizade importantes, designadamente, através da maçonaria, de que foi membro”, o que lhe abriu as portas “a muitas possibilidades”.
Proveniente de uma tese académica, é o primeiro livro, em muitos anos, sobre o trabalho de Ernesto Korrodi.
Outro círculo em que se movia, o dos portugueses que regressavam endinheirados do Brasil, está por detrás de várias encomendas para desenhar habitações ou palacetes.
Interessado numa “interpretação mais completa” do legado constituído por mais de 400 projectos em 67 municípios, em que sobressai o estilo arte nova, numa época em que “as deslocações se faziam quase exclusivamente em veículos de tracção animal”, José Manuel Teixeira dedicou tempo a “estudar a personalidade dos clientes”, em ligação com “o exame da personalidade de Korrodi”.
“O arquitecto não é um mero desenhador dos sonhos e dos caprichos do cliente mas também não é ninguém que possa impor um determinado formato”, explicou, durante a apresentação do livro, no salão nobre dos paços do concelho, um espaço desenhado, precisamente, por Ernesto Korrodi, onde estão representados os ideais republicanos e o lema da Revolução Francesa.
No papel de anfitrião, o presidente do Município, Gonçalo Lopes, destacou a “marca muito profunda” deixada na cidade por uma “pessoa extraordinária” que chegou a Portugal com 19 anos e “se apaixonou por Leiria”, onde morreu.
Mais de metade dos projectos de Korrodi estão localizados no distrito de Leiria e no concelho encontra-se a maior parte do acervo documental (no arquivo distrital, em poder da família e nos serviços da autarquia).
A obra de Ernesto Korrodi pode vir a ganhar destaque através de um site com coordenadas GPS, imagens e texto, caso seja aproveitado o trabalho iniciado há anos pelo arquitecto António Moreira de Figueiredo e pela engenheira geógrafa Luísa Gonçalves.
Sempre muito interventivo, Ernesto Korrodi destacou-se na cultura, no ensino, no estudo do património e na ligação com o turismo, na arquitectura, no restauro e até na defesa do descanso ao domingo. Manifestou-se contra o sistema de educação português, integrou a Comissão de Iniciativa de Leiria e a Liga dos Amigos do Castelo de Leiria.
“Deixou-nos um legado de obras de muita qualidade, foi um dos mais destacados arquitectos de arte nova”, resume José Manuel Teixeira.
No castelo de Leiria, seguiu o espírito da época: “Reconstruir tudo, nem que fosse imaginando”. Mas, num percurso com “qualidade” e “diversidade”, desenhou habitações, palácios, hotéis, templos, monumentos, planos urbanísticos, quintas agrícolas, jardins, escolas, hospitais, fábricas, mercados (como o Mercado de Sant’Ana) e até coretos, estações ferroviárias e uma praça de touros.
Em Leiria, mantinha uma oficina de cantaria onde produzia as próprias peças e tendo começado a actividade de arquitecto no final do século XIX em parceria com José Theriaga, “a arquitectura dele distingue-se da dos seus contemporâneos”, considera José Manuel Teixeira.
“Era um arquitecto da pedra, do pormenor”, argumenta. “É uma arquitectura que é observada em zoom. Nós estamos ao longe, estamos a ver o jogo de volumes, as formas”, e vamo-nos aproximando, “sempre recebendo mais e mais informação”, até que, a um metro, “ainda estamos a receber pormenores de um requinte extremo”, ou seja, “um nível de pormenor que não tem paralelo em mais nenhum outro arquitecto”.
O livro agora publicado é, por isso, também uma homenagem. A investigação recua várias gerações até ao século XIV e encontra o antepassado mais antigo (na linhagem directa) a viver na vila de Dürnten, na região de Zurique, na Suíça: Conradi de Lienz, nascido em 1384. Um bisavô de Ernesto terá sido o primeiro a usar o nome Korrodi com a actual grafia.
Arquitecto Ernesto Korrodi – Vi(n)da e Obra é uma edição bilingue pela Lisbon Internacional Press e além do formato físico em Portugal e no Brasil está também disponível em versão digital nos Estados Unidos, no Reino Unido, em França, na Alemanha, na Suíça e no Brasil.