O bispo de Leiria-Fátima decretou a dissolução do Conselho para os Assuntos Económicos da Paróquia dos Milagres. Em causa está uma polémica envolvendo o padre e seis ele- mentos desse organismo, que irão recorrer da decisão de D. José Ornelas, um recurso que, segundo o Código de Direito Canónico, suspende a execução daquela decisão.
O caso pode acabar na Justiça, já que os membros do Conselho Económico alvo do decreto do bispo tencionam fazer uma participação ao Ministério Público, por alegados “recebimentos indevidos” por parte do pároco. Este, diz-se de “consciência tranquila” e alega que “as contas são do conhecimento da diocese”.
No decreto de dissolução, D. José Ornelas alega que a decisão surge após reuniões do ecónomo da diocese e do vigário-geral com as partes envolvidas, que ouviu também em audiência.
Dessas diligências, o bispo concluiu “não haver a necessária confiança e entendimento” para bom funcionamento do conselho, pelo que, “buscando o bem maior da comunidade paroquial”, decidiu dissolver aquele órgão e dar indicações ao padre para providenciar a instituição de uma nova equipa.
“Optou-se pela decisão mais fácil, em vez de pugnar pela transparência e por esclarecer todas as dúvidas”, alegam os elementos do Conselho Económico alvo de destituição. Sérgio Duro, Cristina Ferreira, Susana Alves, Nelson Oliveira, Mário Jesus e Sónia Esperança asseguram que “nada” os move contra o pároco, mas que “sempre” pretenderam esclarecer “os desvios identificados”.
Segundo contam, os problemas começaram quando, em Fevereiro último, num encontro para os conselhos económicos paroquiais, constaram que o salário recebido pelo pároco era acima do estipulado pela diocese e que lhe estavam a ser pagas despesas relacionadas com o funcionamento da casa paroquial que, de acordo com o regulamento da Administração dos Bens da Igreja (RABI), não são responsabilidade da paróquia, mas do próprio.
“Tentámos resolver as discrepâncias de forma pacífica e internamente. Só depois, envolvemos a diocese”, conta Sérgio Duro, secretário do Conselho Económico, garantindo que “nunca se negaram a pagar o vencimento ao sacerdote”. “Apenas quisemos repor a legalidade, seguindo as indicações do senhor bispo”, acrescenta Cristina Ferreira.
Situação “triste”
Parco em palavras, por não querer “alimentar polémicas” que, no seu entender, “enxovalham a paróquia”, o padre Jacinto Gonçalves garante que a paróquia “presta contas à diocese” e que o vencimento que aufere “é do conhecimento” dos organismos diocesanos.
“Não escolhi o meu salário, nem estou na paróquia para enriquecer. É uma situação triste, que lamento”, afirma o sacerdote, frisando que o bispo “ouviu as partes e tomou uma decisão”. “Se optou pelo afastamento, é porque alguma coisa encontrou. O seu decreto é claro”, alega.
Fonte da diocese admite que pode haver alguns procedimentos “menos correctos”, mas que o valor em casa “não é muito acima do que está previsto”. Esclarece ainda que, além do salário estipulado pela diocese, o RABI prevê que, quando o sacerdote presta serviço em duas paróquias, como é o caso – Jacinto Gonçalves é pároco nos Milagres e na Bidoeira de Cima – haja lugar a apoio para deslocações.
“Sempre agimos em defesa da boa gestão e administração dos bens da paróquia”, asseguram os membros do Conselho Económico alvo de destituição, frisando que, nos dois anos em que estiveram em funções, a conta da paróquia “mais do que duplicou, passando de cerca de 23 mil para mais 50 mil euros”.