Segunda-feira. A animação matinal está garantida durante cerca de 45 minutos no lar Eira da Torre, em Santa Eufémia, Leiria, onde Jimmy Almeida, ou Mestre Papagaio, acompanhado por Joana Palhas, ou professora Beringela, levam a prática da capoeira, no âmbito do projecto Gingando na Melhor Idade, apoiado pelo Município de Leiria.
Assim que a dupla da Academia de Capoeira Ginga Camará chega à sala rapidamente várias cabeças se levantam, mesmo aquelas que estavam meio adormecidas. Nota-se uma agitação nas cadeiras, prontos para mais uma aula de capoeira, onde gingar (coordenação de movimentos do corpo executados pelo capoeirista) é a tarefa principal.
Jimmy Almeida leva consigo a alegria característica da capoeira e o tom da música faz mexer quase inconscientemente os corpos dos utentes. As dores ou a falta de mobilidade típicas da idade não impedem alguns idosos de entrarem no ritmo.
A doçura de Joana Palhas convence os utentes a experimentarem os exercícios e até consegue arrancar uma utente da cadeira para gingar um pouco de pé.
Também Inácia Ruivo, 90 anos, sempre muito activa e alegre, acaba por se levantar apoiada nas suas canadianas, e entra na roda com Beringela.
Animação contagiante
A animação é contagiante e as palmas ritmadas não páram. “Estou sempre animada e não posso estar quieta, mesmo tendo dificuldades. Esta actividade é mais uma que nos ajuda a distrair e contribui para nos sentirmos bem. Não consigo fazer tudo, mas faço o que posso”, afirma.
Manuel Ferreira, 87 anos, é um dos mais participativos, mas na última segunda-feira sentia-se um pouco cansado para se levantar, como habitualmente faz. Mas não deixou de entrar no ritmo. Sentado na sua cadeira acompanhou os movimentos como podia.
“Fui desportista e sempre fui muito mexido. Hoje estava um pouco cansado”, confessa. Para este antigo gestor bancário, a capoeira traz alegria ao dia. “Tento sempre fazer o que consigo. Se não tentar fazer as coisas, morre-se”, sublinha.
Gingando na Melhor Idade surgiu de uma proposta de Jimmy Almeida à Câmara de Leiria, que no ano em que foi Cidade Europeia do Desporto apoiou o projecto por um ano. “Sabemos o quanto impactamos na vida destas pessoas.
A capoeira tem o poder de mexer com a circulação sanguínea, condição física e motora e influencia o estado de espírito, contribuindo para a interacção entre as pessoas”, afirma o mestre Papagaio. “É maravilhoso sentir aquilo que nos dão. Só o facto de tentarem fazer alguma coisa, levantarem um pouquinho o pé, é maravilhoso”, acrescenta Joana Palhas.
Beringela realça que na primeira semana só três ou quatro é que participaram mais activamente e três meses depois a adesão é bem maior. Margarida Feliciano, animadora sócio-cultural do lar Eira da Torre, admite que a primeira reacção foi de receio. “Capoeira associada à terceira idade? Mas é uma activade de extrema importância.
Promove o exercício físico, a atenção, a concentração e o envolvimento entre eles”, sublinha, ao considerar que a capoeira contribui para o “bem-estar e uma melhor qualidade de vida”. “Notamos isso até na adesão. Já sabem que há segunda-feira vem o Jimmy e logo aí se vêem os sorrisos.”