“É terceiro-mundista o panorama que temos no País no que diz respeito ao licenciamento da actividade pecuária.”
David Neves, presidente da FPAS, no discurso de abertura do X Congresso Nacional de Suinicultura, criticou o licenciamento “demasiado moroso, complexo e ineficiente”.
O evento, organizado pela Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), na semana passada – dias 12 e 13 – em Ourém, teve como tema a sustentabilidade, assente nos pilares económico, social e ambiental.
A ocasião foi aproveitada para discutir os desafios que se colocam ao sector, tendo sido dada muita atenção às exportações.
Paulo Portas, um dos oradores, alertou para o facto de a globalização poder dar lugar a uma “fragmentação comercial” mundial, com a transferência do centro de negócios internacional para o Pacífico.
Actualmente, a fileira está muito exposta aos mercados asiáticos, “marcadamente estatizados e voláteis”, sendo urgente a diversificação.
O número
2,4 mil milhões
Segundo a FPAS, a pandemia travou a trajectória ascendente do ritmo das exportações portuguesas, sobretudo para países como a China, Filipinas, Vietname ou Singapura.
“São mercados onde as pessoas têm poder de compra”, explicou David Neves, à margem do evento, sublinhando a necessidade da busca de novos mercados onde se valorize partes do porco que, em Portugal, o consumidor não quer.
“Há um excesso de produção de 30% na Península”, alertou e assegurou que “somos competitivos em qualquer mercado mundial exigente”.
Suinicultores europeus reuniram em Fátima
Na segunda-feira, o concelho de Ourém voltou a receber uma nova reunião de produtores, desta vez, em Fátima, onde os 17 principais produtores europeus debateram a situação na Europa.
Entre os números apresentados relativos à fileira nacional, que inclui todos os sectores de actividades ligados à suinicultura, estão os 2,4 mil milhões de euros de facturação do ano passado.
Só a produção de animais para consumo alcançou os 620 milhões e o valor das exportações foi de 150 milhões, em 2022.
Em análise, David Neves afirma que o sector vive uma “conjuntura difícil”, provocada pela pandemia e pela invasão russa da Ucrânia.
“Com a contracção das importações no mercado asiático, houve um abaixamento de 40% do valor pago aos produtores, aliado a um aumento dos custos de produção, agravado pela guerra, no primeiro trimestre de 2022, que também, chegou aos 40%.”
Em consequência, cerca de 9% do efectivo reprodutor nacional desapareceu. Na Europa, a queda foi de 3,2%.
“Com os preços a subir, alertámos o Governo para a salvaguarda da produção, sem sucesso. O resultado foram milhares de falências, que levaram à escassez de produto no mercado e à subida dos preços da carne”, diz.
No congresso falou-se ainda das metas de bem-estar animal como compromisso de sustentabilidade social, da redução de 50% no uso de pesticidas, de 20% no uso de fertilizantes, e no esforço de criação de 25% de terras agrícolas em agricultura biológica.
Além da valorização agrícola de efluentes e redução das emissões geradas na actividade, que obriga à formulação das rações fornecidas aos animais.