O dia 29 de Abril de 2023 ficará para sempre marcado na história do futebol açoriano. Nesse sábado, o Sport Club Lusitânia assegurou a subida à 1.ª divisão de juniores, sendo esta a primeira vez que a Região Autónoma dos Açores consegue ter um clube no escalão principal desta categoria. O ‘homem do leme’, que conduziu o Lusitânia a este feito histórico, foi o leiriense Nuno Cristiano Brás, que apenas entrou para o comando técnico da equipa em Março deste ano.
“A nossa situação era complicada. Faltavam seis jogos e havia alguma fé. Tínhamos seis voltas e não podíamos perder nenhuma, face ao desfasamento pontual que já havia para os três primeiros – Amora, Farense e Beira-Mar, na altura. Agravado pelo facto de que já havíamos sido derrotados por estes três adversários nas jornadas anteriores. Tínhamos de nos apresentar para vencer todos os jogos, em casa e fora”, afirma Nuno Cristiano Brás.
Após aceitar o desafio, seguiu-se um intenso trabalho de preparação, que começou pela observação do plantel, de onde o técnico só conhecia os jogadores terceirenses, e uma análise profunda aos adversários. Foram semanas de treinos e trabalho “árduo” que resultaram em boas prestações e vitórias.
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No último jogo, a equipa defrontou o Beira-Mar em casa, “com muita carga emocional em cima”, já que, se perdesse a partida e o Amora vencesse o Caldas SC, o Lusitânia seria o quarto classificado, perdendo a oportunidade de subir. “Seria duríssimo e inglório para nós. O Beira-Mar já tinha garantido a subida, mas neste jogo discutia-se também o primeiro lugar, que daria o acesso ao apuramento do campeão nacional de sub-19”, explica Nuno Cristiano Brás.
O Lusitânia chegou mesmo à vitória e derrotou o Beira-Mar por 2-1, tendo terminado a prova com os mesmos 19 pontos do Farense. Ainda assim, foi o clube do Algarve que acabou por ficar em primeiro lugar, dado ter vantagem directa sobre os açorianos no confronto dos dois jogos.
Em seis jogos a equipa orientada pelo técnico leiriense marcou 19 golos e sofreu seis, naquela que foi uma “aventura exigente e maravilhosa, alimentada pela disponibilidade, ambição e responsabilidade dos rapazes”. “Só talento não chega. A disponibilidade dos meus parceiros técnicos, Rodrigo Fonte e Clemente, também foi um factor crítico. A estrutura acreditava e tentou dar-nos tudo. Alterou viagens, mexeu com a logística, arranjou campos para treinarmos, comprou material de treino. E, com o esforço de todos os envolvidos ao longo da época, conseguimos”, salienta o leiriense de 48 anos.
Com um plantel júnior composto por 27 jogadores, dos quais 13 portugueses, nove brasileiros, três colombianos, um canadiano e um panamiano, o treinador afirma ter sido um “desafio espectacular”.
“Foi um dos aspectos aliciantes do projecto. Percebermos a cultura de jogo distinta que está enraizada nos rapazes. Torna o exercício diferente e rico. Temos de nos ajustar também, assim como eles. Relacionarmo- nos em várias línguas é fantástico! Sendo que, no campo, tínhamos de falar todos a mesma língua. Divertimo-nos imenso, sempre com muita responsabilidade. No fundo, são todos meninos homens, do mundo, com idades compreendidas entre os 17 e os 19 anos, que, independentemente da sua origem, lutaram por uma instituição e por uma região”, enaltece Nuno Cristiano Brás.
Para o técnico, este é um momento “muito positivo para o Sport Club Lusitânia” e “muito importante para a Ilha Terceira, para a Região Autónoma dos Açores, e para o futebol açoriano”. “Vamos competir na 1.ª divisão, com os melhores, reconhecendo o elevado nível e o impacto que o futebol de formação em Portugal tem no mundo. Acho que é uma oportunidade fantástica.”
Sobre o futuro, Nuno Cristiano Brás refere que precisa de “ponderar algumas situações face à exigência do Campeonato Nacional de Sub-19, sobretudo questões pessoais e profissionais”.
“Além de ser um campeonato exigente, é muito longo, as questões logísticas são críticas, os recursos não abundam e precisamos de apoio para nos apresentarmos dignamente neste registo competitivo. Teremos de construir uma equipa nova, com argumentos, num curto espaço de tempo. Para nós, numa região ultra-periférica, vai ser uma viagem ao espaço desconhecido. Será desafiante”, conclui.
Nuno Cristiano Brás chegou aos Açores em 2005 e, num passado mais recente, antes de abraçar o desafio no Lusitânia, orientou duas épocas consecutivas o Boavista Club da Ribeirinha, no Campeonato de Futebol do Açores.