“Durante muitos anos foi desenvolvido um conjunto de actividades para pessoas com mais idade, mas quando tentamos entender a validade dessas atividades, muita das vezes, recaem num pressuposto de que não passam mais do que uma ocupação do tempo.” A frase de Ricardo Pocinho, docente do Politécnico de Leiria, é o arranque para explicar que, desde Janeiro, está a funcionar em Pombal um laboratório científico, que pretende validar as actividades e desenvolver documentos para garantir as melhores práticas para trabalhar com idosos, com evidência científica.
Atribuída por um período de dois anos, Pombal é a primeira sede internacional da Associação Internacional de Universidades da Terceira Idade (AIUTA Academy), coordenada pelo Politécnico de Leiria. O laboratório de “estudos sobre o envelhecimento” está a funcionar no Núcleo de Formação do Politécnico de Leiria, naquele concelho.
“Quando as pessoas têm mais idade, não é boa ideia ocupar-lhes o tempo de qualquer maneira, porque também elas têm uma sensação clara que o tempo que passou e aquele que resta é muito menor do que é aquele que já viveram”, reforçou o também presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES), ao referir que este é um projecto conjunto do Politécnico de Leiria, ANGES e Município de Pombal.
Ricardo Pocinho sublinhou que cada utente tem a sua história, pelo que são orientados individualmente nas suas limitações e potencialidades e que o trabalho desenvolvida assenta numa “filosofia baseada num protocolo de fragilidade, tentando alterar, minimizar, reduzir e aniquilar a fragilidade psicológica, em saúde e social”.
Os resultados têm sido “excelentes”, com vários utentes a garantir que já “conseguem fazer um conjunto de tarefas mais alargadas do ponto de vista da mobilidade, da funcionalidade, das tarefas da vida diária” que antes não conseguiam.
Mas, esta percepção tem validade científica, já que são utilizados instrumentos de medição da força ou equilíbrio, por exemplo, mostrando a evolução conquistada.
“Estamos a trabalhar em documentos de referência para todas as universidades que integram a AIUTA e seremos nós que forneceremos aos outros as fichas que permitem que cada uma das atividades sejam de alguma forma construídas com base num modelo de medição do impacto dessa actividade”, salientou Ricardo Pocinho, ao revelar que, a partir de Outubro, irá criar “um conjunto de formações nas mais diversas línguas” para disseminar pelos outros.
Dos 30 utentes iniciais, esta academia de Pombal tem já 94. “Queremos crescer. Há até uma proposta para a criação de um campus educativo sénior de toda a região do Sicó, envolvendo os seis municípios”, anunciou ao acrescentar que o objectivo é também “estender este laboratório, pela ligação do Politécnico de Leiria em colaboração com ANGES e com a AIUTA, a toda a região, pelo menos da CIM [Comunidade Intermunicipal] de Leiria e também toda a região do Oeste”.
A AIUTA nasceu em 1973, com a criação da primeira universidade sénior pelo professor Pierre Vellas, em Toulouse, França, que, “na sua aposentação, resolve criar um projeto para se manter ligado à academia”.
O projecto mundial tem 10 milhões de participantes em todo o mundo ligadas a projetos universitários. “Queremos criar aqui um currículo para que as pessoas não se sintam, durante toda a sua vida, excelentes alunos, mas não passam da primeira classe”, rematou.