Entre os dias 18 a 24 de Setembro, o preço do litro de gasóleo subiu 6 cêntimos e o da gasolina 1 cêntimo. Já na semana passada, de 25 de Setembro a 1 de Outubro, depois de o Governo ter reduzido o Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP), o gasóleo desceu 3 cêntimos e a gasolina 1 cêntimo por litro.
Desde segunda-feira, o preço dos combustíveis apresenta uma tendência de descida no preço do gasóleo em 2 cêntimos e na gasolina que desce 1 cêntimo. A evolução dos preços dos combustíveis tem tido forte impacto junto de vários sectores de actividade, que entendem que o Governo ainda tem margem para reduzir a “elevada carga fiscal” que aplica nestes produtos.
Recorde-se que na semana passada o Governo reduziu o imposto sobre combustíveis, com o ISP a baixar um cêntimo por litro na gasolina e dois no gasóleo. Em resposta à medida do Governo, que consiste na devolução da receita adicional do IVA, por via do ISP, a Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis “regista com agrado que foram atendidas as suas solicitações, divulgadas junto da tutela”.
Lamenta, contudo, “que os valores apontados sejam manifestamente insuficientes, para combater a asfixia sentida diariamente pelos consumidores e pelas empresas portuguesas quando abastecem as suas viaturas” e entende que há “margem para reduzir ainda mais o ISP, uma vez que a receita extraordinária do IVA se revela muito superior”.[LER_MAIS]
“Há alguns meses houve uma redução de preço dos combustíveis e o Governo aproveitou para reduzir o desconto concedido no ISP, o que fez com que não se notasse a redução de preço nem para o consumidor nem para as empresas revendedoras”, recorda a gerente de um posto de venda de combustíveis da nossa região.
“Entretanto, o preço dos combustíveis aumentou, quer para o consumidor final, quer para as empresas de revenda, que assim notam uma quebra de procura, não só nos combustíveis, mas também nos produtos das lojas de conveniência”, observa a gerente.
Apesar da recente redução do ISP, a empresária sublinha que “Portugal tem das cargas fiscais mais elevadas sobre os produtos petrolíferos, o que justifica em grande parte a diferença do preço entre os combustíveis vendidos no nosso País e os combustíveis vendidos noutros estados da União Europeia”.
“Temos sido muito afectados pelos aumentos de preços”, constata César Curado, responsável pela Transportes Senhora da Agonia, empresa localizada em Leiria. A transportadora emprega 13 colaboradores e conta com uma dezena de veículos que operam no mercado nacional e europeu.
César Curado salienta que os custos com combustíveis representam actualmente cerca de 35% das despesas da empresa, uma percentagem que tem vindo sempre a subir. “Tivemos de aumentar os preços e alguns clientes não aceitaram”, lamenta o empresário.
Já a Transportes Lurdes Amado, de Leiria, atribui a oscilação de preços ao conflito entre Rússia e Ucrânia, criticando ainda a actuação do Governo, que “continua a aplicar taxas altíssimas”. “Se olharmos para Espanha, vemos que os preços dos combustíveis para os transportes estão 20 a 25 cêntimos mais baratos do que em Portugal. Isto sem contar com as bonificações com que contam as empresas espanholas, a possibilidade de recuperarem o IVA, etc.”, salienta fonte da empresa de Monte Redondo.
A Transportes Lurdes Amado emprega 32 colaboradores e conta com uma frota de 28 veículos pesados, que percorrem rotas no mercado nacional, na costa sul de Espanha, também na Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Alemanha. Nos dois últimos anos a empresa registou crescimento, conquistado à custa de um controlo mais afincado de despesas, restringindo gastos ao mínimo, reorganização de rotas, entre outras estratégias, sublinha a mesma fonte.
Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal, também realça o forte impacto que o aumento do preço dos combustíveis tem neste sector. “A madeira ‘viaja mal’, são grandes volumes a retirar da floresta, que forçam a elevados custos com os transportes, quer da matéria-prima como, depois, do produto acabado”, refere o dirigente. Além disso, existe “grande dependência” de equipamentos para exploração florestal, como tractores, motoserras, máquinas de rechega, de movimentação de cargas, com custos relevantes para as estruturas das empresas.
“O sector abrange vários tipos de produto, pelo que não é transversal a todos, mas de forma geral sente- -se uma quebra de procura desde Março”, aponta Vítor Poças, acrescentando que as empresas não têm grande margem para repercutir o aumento de custos de operação no preço final.
Também na semana passada, a direcção da Associação dos Produtores de Leite de Portugal emitiu um comunicado denunciando nova descida de preço do leite (em cinco meses o preço pago aos produtores desceu 11 cêntimos por litro), ao mesmo tempo que o sector se depara com aumento de várias despesas, entre as quais os custos com gasóleo.