A azeitona adiantou-se este ano e, com receio de que pudesse estragar-se nas árvores, à custa da meteorologia incerta, a maioria dos olivicultores optou por começar a campanha mais cedo, alguns deles ainda em Setembro. No nosso território, não sendo uma campanha espectacular, a quantidade de azeite produzido deverá superar a de 2022 (considerado um ano muito fraco). E a qualidade, estimam os produtores, essa está garantida.
Novidade, observam alguns, é que por força do elevado preço que o azeite atingiu nos supermercados, há gerações mais novas a recorrer aos olivais de família, nos quais nunca tinham reparado até aqui.
José Vieira é gerente da Casa Féteira, de Porto de Mós, que além do seu olival [LER_MAIS]de 12 hectares, nas Pedreiras, também presta serviço aos pequenos produtores locais, que no seu lagar extraem azeite. “Esperava uma campanha média-baixa, de 500 a 600 toneladas, mas estou a ser surpreendido pela positiva”, salienta José. “Comecei a receber azeitona dia 23 de Setembro, já ultrapassei as 800 toneladas e ainda vou trabalhar mais umas semanas”, conta o proprietário.
No seu olival, a perda será de cerca de 50%. Por isso, para produzir o seu azeite, terá de completar com azeitona vinda do sul do País. E é assim que procede a maioria dos produtores da região, que ou têm olivais no Alentejo ou compram azeitonas nessa região, contextualiza José. Isto porque, na última década, muitos produtores do distrito de Leiria abandonaram a actividade.
O preço pago por litro de azeite não compensava os custos de produção, justifica. “Já neste último ano, com preços que duplicaram- e acredito que no próximo ano possam triplicar – há uma inversão dessa tendência, com pessoas que já tinham deixado de apanhar azeitona, a perceber que tem valor e a retomar a apanha”, verifica o gerente. E talvez seja o melhor momento para o Governo perceber que nem só os grandes produtores devem ser apoiados, entende José.
Em Pelmá, no concelho de Alvaiázere, Filipe Duarte dá continuidade à empresa do pai, José da Silva Duarte. Recebe azeitona da região, trazida por pequenos produtores locais, que transforma em azeite. “Este ano estamos a trabalhar desde 5 de Outubro e, em média, estamos a receber azeitonas de 30 clientes por dia, mais de 25 mil quilos diários”, explica Filipe.
“Não é bom, mas é melhor do que se esperava”. “A quantidade é razoável, melhor do que foi no ano passado, e aqui na zona a qualidade é boa”, conta Filipe. Também produtor do seu próprio azeite, Filipe explica que, nesta região, a maioria das empresas tem recorrido a azeitona do Alentejo, como é o seu caso. Contudo, nota-se este ano um fenómeno diferente. Resultado do elevado preço que o azeite atingiu, gerações mais novas e até menos novas estão a voltar a interessar-se pelos olivais de família e a produzir pela primeira vez o seu azeite.
Esta é também a percepção de Pedro Gomes, que está a explorar o Lagar de Ramalhais, em Abiul (Pombal), uma estrutura que estava abandonada e que a sua família requalificou em 2005. Também ele estima que o final desta campanha resulte numa quantidade superior à de 2022, que foi fraco, ainda que o rendimento tenha baixado nos últimos dias, prejudicado pelas chuvas. “Estão a chegar pessoas novas, de 30 e 40 anos, a trazer azeitonas de olivais das famílias, para fabricar azeite para consumo próprio”, repara Pedro.
João Dias, responsável pelo Lagar Velho, em Alvaiázere, verifica que se a quantidade deve “equivaler à do ano passado”, já a qualidade será “superior”. Lamenta, porém, que as chuvas tenham reduzido o rendimento.
Na Cooperativa de Olivicultores de Fátima, que conta actualmente com cerca de 1.100 associados, também o presidente refere que “as expectativas são médias-baixas” para a campanha de 2023. Porque se a azeitona já não era muito abundante e, se as chuvas se mantiverem tão intensas como nos últimos dias, “alguns produtores, muitos deles já envelhecidos, deixarão as azeitonas por apanhar”. No entanto, acredita José Augusto Silva, “a qualidade será boa”.