As aulas de Biologia no ensino secundário, feito em Ourém, despertaram-lhe a curiosidade pela ciência e o interesse por perceber como funcionam as células. A paixão nunca mais largou Carlos Reis, que, depois de experiências profissionais na Holanda e nos EUA, fixou-se no Reino Unido, onde actualmente é director científico no Departamento de Doenças Infecciosas e Imunologia da multinacional farmacêutica GSK.
“Temos a oportunidade de desenvolver novas medicinas e tratamentos para doenças bacterianas e infecciosas, que melhoram a vida das pessoas. Foi assim com a Covid-19, por exemplo, com o desenvolvimento de anticorpos para tentar salvar doentes”, explica Carlos Reis, que aponta a recente pandemia como uma “grande lição” para a investigação e para as companhias farmacêuticas.
No seu entender, um dos ensinamentos da pandemia foi a cooperação científica, que se traduz no desenvolvimento de tratamentos “muito rapidamente, com benefícios claros para os pacientes”.
“O anticorpo monoclonal que demos aos doentes [com Covid-19] demorou um ano e meio. Normalmente, seriam precisos anos. Aprendemos sobre o que podemos fazer no futuro para acelerar processos e beneficiar mais rapidamente os pacientes.”
Bichinho pela Biologia
Natural de Cercal, no concelho de Ourém, Carlos Reis descobriu o interesse pela ciência na escola secundária. “Queria saber mais como funcionam as coisas. Ganhei o bichinho pela Biologia e pelo mecanismo como as células comunicam entre si para tratar doenças”, recorda o investigador, que se licenciou em Biotecnologia pela Universidade do Algarve. “Era a mais longe do Cercal e o clima era bom”, brinca.
No terceiro ano do curso, conquistou uma bolsa e foi fazer Erasmus na Holanda, onde começou a trabalhar em laboratório e a possibilidade de se dedicar à investigação ganhou força. Uma semana após regressar a Portugal, recebeu um convite para voltar àquele país, com uma proposta para doutoramento. “Era um projecto grande, com a Universidade de Groningen, para trabalhar em mecanismos imunológicos associados a cancro e a doenças infecciosas”, conta.
“Sem perspectivas em Portugal” e consciente das “dificuldades em continuar a carreira” no País, não pensou duas vezes e aceitou o desafio. Fez o doutoramento em Filosofia, Matemática e Ciências Naturais e, depois, o pós-doutoramento em Biologia Farmacêutica, Design e Engenharia de Citocinas Terapêuticas.
Entre 2013 e 2016, esteve nos EUA, mais concretamente em Dallas, onde trabalhou num centro médico, fazendo investigação na área do sistema imunológico. De volta à Europa, passou por companhias de biotecnologia na Holanda e em Inglaterra, antes de ingressar na GSK como chefe de engenharia de anticorpos, liderando a descoberta de anticorpos monoclonais associados ao tratamento do cancro.
Em Setembro do ano passado, assumiu a direcção Departamento de Doenças Infecciosas e Imunologia da GSK, no Reino Unido, que trabalha no desenvolvimento de novos farmácos e na sua introdução em ensaios clínicos.
Aos 45 anos, Carlos Reis não tem planos para regressar a Portugal. “Saí aos 21 anos. Estou muito habituado a viver fora, mas nunca me senti emigrante. As novas gerações já não saem apenas pelo dinheiro, mas pelas oportunidades e pela concretização de sonhos e ambições”, diz.
Viver em Inglaterra, perto de seis aeroportos, “com muitas ligações aéreas”, também ajuda a matar saudades do País e da família, assume o investigador, que vem a Portugal “duas ou três vezes por ano”. Outras vezes, são os pais que o visitam.
Casado com uma cidadã alemã, é pai de dois filhos, de nove e cinco anos, a quem o casal faz questão de passar a cultura e a língua dos seus países de origem. “Às vezes, ao jantar é uma confusão de línguas, entre o Português, o Inglês e o Alemão e agora o Francês, que eles estão a aprender na escola.”