Num tempo em que “se adensam nuvens de sofrimento e de morte”, é preciso “acender a luz da esperança” e de participar “activamente na construção de um mundo mais humano, mais justo e em paz”. Este foi um dos apelos deixados pelo bispo de Leiria-Fátima na sua mensagem de Natal aos diocesanos, onde exorta à mudança de mentalidades que produza “atitudes transformadoras e geradoras de um futuro diferente” de mais justiça e paz.
“A grande mensagem de Natal para a nossa sociedade e para o mundo quebrado em que vivemos é que é preciso levantar as ruínas”, disse D. José Ornelas, em conferência de imprensa.
Na ocasião, o bispo defendeu que esta quadra deve servir para “no meio da sombra, semear luz, no meio da destruição, semear reconstrução e no meio do ódio, a reconciliação, a paz e a justiça”.
“É essa atitude concreta e transformadora que nos chama o Natal”, pode ler-se no texto da mensagem do bispo, que chama ainda a atenção para o drama da guerra na Ucrânia, no Médio Oriente e em “tantas” outras partes do mundo, que agrava “a situação de pessoas e famílias” que sofre consequências destes conflitos.
D. José Ornelas alerta ainda para os perigos da corrupção e da “manipulação de informação e de poder”, que leva ao descrédito das instituições públicas”. E, nessas circunstâncias, “é muito fácil cair na resignação e na apatia individualista”, adverte.
Durante a conferência de imprensa, o bispo acabou por comentar vários assuntos da actualidade como o caso das crianças luso-brasileiras, tratadas em Portugal com o medicamento mais caro do mundo.
“Sou totalmente contra as cunhas, mas cunhas que salvam crianças não fazem mal a ninguém. Não é por aí que enferma o Serviço Nacional de Saúde ou a corrupção. Antes fosse”, afirmou, considerando que, neste caso, o foco devia estar nas duas crianças que “estavam a ponto de morrer”.
“Se fossem ao SNS, marcavam-lhes uma consulta para daqui a um ano, mas houve gente que se apressou. Se isso é ser corrupto, também quero ser corrupto”, assumiu D. José Ornelas, para quem a corrupção deve ser enfrentada “dentro da realidade” e não “numa leitura paralela que serve os interesses de alguns” e, “se calhar, com mudanças nas instituições de Justiça e na forma de gerir as crises”.
O bispo de Leiria-Fátima defendeu ainda que a perda de credibilidade das instituições combate-se também com “muita e lúcida participação” das pessoas, deixando um apelo à votação nas eleições. “Um católico não se abstém. Pode cometer erros, mas não se abstém, porque isso é deixar que os outros pensem por nós”, afirmou.