“As histórias antigas contêm muitas lições e precisamos de as recuperar sempre que possível”, comenta Marwa Karimi, que pela primeira vez vai a palco em Leiria para dar voz ao conto A Rapariga Careca, uma narrativa tradicional das tribos hazara, minoria étnica há séculos perseguida no Afeganistão.
Antes de viajar para a Europa, proveniente de Cabul, Marwa trabalhou numa organização não governamental pelos direitos humanos e actualmente dedica-se ao voluntariado e estuda português e inglês, ao mesmo tempo que sonha com o regresso aos bancos da universidade.
No próximo fim-de-semana, participa no Encontro Internacional de Contadores de Histórias que é organizado pela companhia profissional O Nariz Teatro e envolve narradores de seis países, incluindo Portugal.
“Podemos aprender com esta história”, salienta a activista de 23 anos, sobre A Rapariga Careca, que fala de família e união.
Após percorrer escolas e bibliotecas dos concelhos de Leiria, Batalha, Marinha Grande e Santarém, o Encontro Internacional de Contadores de Histórias termina no sábado, 3 de Fevereiro. No Auditório Municipal da Batalha, com início às 16 horas, apresentam-se Rodolfo Castro (Argentina) e Antonella Gilardi (Itália). Já no Teatro Miguel Franco, em Leiria, depois das 21:30 horas, estão anunciados António Fontinha, Luís Correia Carmelo e Valter Peres (Portugal), Marwa Karimi (Afeganistão), Quico Cadaval (Espanha) e Rodolfo Castro (Argentina).
Ao longo do programa, que em 2024 se estende por nove dias, entre 26 de Janeiro e 3 de Fevereiro, e segundo Vitória Condeço, d’O Nariz, abrange 1.800 crianças e jovens do pré-escolar ao ensino secundário, colaboram ainda Bru Junça e Jorge Serafim (Portugal) e Fábio Supérbi (Brasil).
Sessões desde 2003
O Nariz Teatro – que também produz os festivais CriaJazz e Acaso – promove desde 2003 sessões de histórias com contadores locais, nacionais e internacionais, oriundos de várias regiões do globo, que têm circulado por escolas, instituições de solidariedade social, associações e bibliotecas, em vários concelhos dos distritos de Leiria e Santarém, a defender a oralidade. “É essa a tradição que queremos manter”, sublinha Vitória Condeço, que dá o exemplo do conto escolhido por Marwa Karimi – “extremamente cativante” – como um exemplo da diversidade que a iniciativa vem expondo ao longo dos anos.
“Compreender o mundo que nos rodeia e desenvolver o espírito crítico são pontos-chave neste processo recorrendo a contos tradicionais, narrativas e todas as formas de expressar memórias e mensagens que se transformem numa reflexão para cada ouvinte”, pode ler-se na nota de divulgação partilhada pela companhia de Leiria.
Aproveitar a presença de comunidades de migrantes em Portugal é um dos caminhos de programação para o futuro.