Quinze anos depois, há uma nova edição de Os Dias de Saturno, de Paulo Moreiras. Através da Casa das Letras, chancela do Grupo Leya, surge agora uma versão modificada do texto originalmente publicado em 2009, que há muito se encontrava esgotado, explica o autor residente no concelho de Pombal.
“Senti que era chegado o momento de fazer uma leitura crítica deste romance”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Aproveitei o embalo criativo que trazia do Perdigote [2023, A Vida Airada de Dom Perdigote] não só para corrigir o Saturno mas também para reescrever muitas das cenas, dando-lhe mais densidade e outro ritmo. Apesar de ter acrescentado alguns capítulos, mantém o essencial do seu enredo, onde se destacam diversos pormenores trabalhados por uma mão mais experiente”.
Na promoção do livro disponível desde 13 de Fevereiro, a Casa das Letras destaca o reconhecimento que a literatura de Paulo Moreiras obtém de nomes como Miguel Real – “É hoje o mais exímio escritor português vivo cultor do género pícaro no romance” – ou Ricardo Araújo Pereira: “Um divertimento excelente, e toda a gente sabe que quando eu uso a palavra divertimento não é para me referir a coisas menores, antes pelo contrário”.
Além de poesia, banda desenhada e recolhas gastronómicas, são já quatro romances (A Demanda de D. Fuas Bagatela, 2002; Os Dias de Saturno, 2009 e 2024; O Ouro dos Corcundas, 2011; A Vida Airada de Dom Perdigote, 2023) e um livro de contos (O Caminho do Burro, 2021).
“Escrevo porque me divirto nesse processo, mas também gosto de divertir os leitores”, comenta. “Os meus livros são apenas a minha forma de encarar o mundo e dar sentido à minha existência”.
Os Dias de Saturno – prémio Gourmand em 2010 – alimenta-se de amor e comida para servir uma narrativa às vezes cómica e outras vezes trágica em que se cruzam um poeta satírico, um padre, um médico da corte, um mestre cozinheiro, o filho adoptivo dele e a rapariga dos seus sonhos. “Na Lisboa do século XVII, desmedida e faustosa, infestada de ratoneiros, tabernas, comédias e casas de pasto”, pode ler-se na nota de divulgação.
“De momento, nem o presente nem o futuro me cativam como cenário para as minhas histórias. Prefiro viajar no tempo para o passado, viver aventuras em determinadas épocas e aí colocar as minhas personagens. Não sei explicar a razão”, assinala Paulo Moreiras. “A estupidez das pessoas de ontem é a mesma de hoje e continuará a ser a mesma no futuro. O mesmo se aplica à inveja, à maldade, e por aí fora. Convém perceber onde se aninham estas motivações, e é isso que faço com os meus enredos históricos”.
Como em obras anteriores do autor natural de Moçambique, enganos e acasos contribuem para iluminar o que a vida tem de inescapável. “Há duas coisas a que nunca conseguiremos fugir, o amor e a morte. Já tive isso tudo e desde muito cedo compreendi que não vale a pena fazer muitos planos. É deixar fluir. Um ou outro objectivo, mas o que importa mesmo é viver em pleno. Isto como pessoa, pois como escritor estou mais interessado em contar uma boa história, e da melhor maneira possível. O resto que se dane”.
E depois da reedição de Os Dias de Saturno, Paulo Moreiras tem já “vários projectos literários em curso, que não só o próximo romance”. Ainda sem datas definidas.