Em criança, quis ser professora, um sonho que, diz, ainda não abandonou por completo. Mas a paixão pela biologia e pela investigação, surgida no ensino secundário e aprofundada na universidade, falaram mais alto.
Natural de Montes, Alcobaça, Ana Silva é hoje gestora de projectos no Centro Nacional de Tecnologia Agro-Alimentar (CTAEX) de Espanha, em Badajoz. Antes, trabalhou como investigadora na unidade da Bayer em Almeria.
Era, aliás, na multinacional alemã, que estava quando surgiu o desafio de integrar o CTAEX. Foi, confessa, uma mudança movida pelo amor, depois de o namorado, agora marido, ter conseguido uma vaga na Universidade da Extremadura (Badajoz).
Consciente que “esse tipo de oportunidades acontece uma vez na vida” e que “a longo prazo seria difícil manter a relação a tantos quilómetros de distância”, a investigadora, formada em Biologia, com mestrado em Nematologia e doutoramento em Ciências Agrárias e Ambientais, começou a enviar currículos para institutos públicos e privados da região da Extremadura.
O convite chegou do CTAEX, um centro tecnológico privado que tem como principal função “dar apoio às empresas, da região e não só, nas áreas da investigação e inovação”, onde a investigadora trabalha desde Março de 2022.
“Aqui há muitas empresas pequenas que não têm capacidade para ter um laboratório de análises alimentares ou para ter uma equipa de investigadores que os ajudem a desenvolver ou a melhorar os seus produtos. Esse é o nosso trabalho”, explica a investigadora, que é gestora de projectos no CTAEX.
A sua missão passa por “ajudar as empresas a apresentar projectos de investigação ou inovadores a concursos públicos”, na tentativa de obterem financiamento. “Quando temos a sorte de o conseguir, ajudamos as empresas a realizar actividades técnicas e a justificar os projectos perante as entidades financiadoras”, especifica.
Brincar aos professores
Recuando à infância, Ana Silva recorda o tempo em que quis ser polícia, mas, confessa, foi uma paixão passageira. “Brincava quase sempre a fingir que dava aulas. Tinha um quadro e até fazia exames”, conta. Já na escola secundária teve “a certeza” que queria dar aulas de biologia, como as suas professoras. Por isso, decidiu fazer a licenciatura nessa área, em Coimbra.
“Comecei a ter também muito interesse pela parte da investigação e a ideia inicial mudou. Mas ainda continuo a achar (ou a sonhar) que um dia me vou poder dedicar ao ensino”, confessa a bióloga, que, no segundo ano da licenciatura, iniciou a colaboração com um grupo de investigação na área da Nematologia, que se dedicava ao estudo de nematóides parasitas das plantas.
Fazia “pequenas actividades de laboratório” e ajudava colegas que estavam a terminar o doutoramento. “Nesse momento, soube que queria seguir a carreira de investigadora.”
Com a licenciatura concluída, avançou para o mestrado em Ecologia, em Coimbra. Mas, ao fim do primeiro ano, conseguiu uma bolsa Erasmus Mundus que lhe permitia fazer mestrado em várias universidades europeias.
“Nunca tinha estado fora, sozinha, nem em Erasmus. Foi um grande esforço económico e emocional para mim e para a minha família, mas, no final, foi uma experiência maravilhosa.”
Fez o mestrado em Nematologia já com a firme convicção de que queria fazer o doutoramento, que começou em 2015 quando, “finalmente”, conseguiu uma bolsa. Doutorou-se em Ciências Agrárias e Ambientais pela Universidad de Castilla-La Mancha, em Espanha, focando-se no estudo de “alguns mecanismos da interacção entre nematóides parasitas de plantas e uma planta hospedeira”.