Ainda com o veto presidencial de Jorge Sampaio, que em 2003, inviabilização a criação do concelho de Fátima, a luta reacende-se agora, com a reactivação do movimento pró-concelho, formalizada esta sexta-feira, com a apresentação pública.
Pelo meio, houve, há dois anos, uma tentativa falhada, mas os membros da actual comissão, liderada por António Neves Martins, acreditam que, desta vez, estão reunidas as condições para levar o processo por diante, com a promessa de que o mesmo será entregue na Assembleia da República, “o mais tardar”, até Março de 2025.
Segundo António Martins, além da comissão executiva, já constituída e que integra 65 elementos, está em formação a Assembleia de Representantes, que terá, pelo menos, quatro moradores de cada um dos lugares da freguesia. Foram ainda criadas equipas sectoriais, que irão recolher elementos para o processo, incluindo o estudo de viabilidade financeira.
“A base da luta está assente na vontade do povo e não em interesses económicos”, afirmou António Neves Martins, professor aposentado, durante a apresentação da nova estrutura do Movimento Pró-Concelho de Fátima, presidida por si, que teve lugar esta sexta-feira.
Na ocasião, o dirigente garatiu que não há nesta iniciativa qualquer “hostilidade ou intenção de conflito com o município de Ourém”, com quem o movimento pretende encetar “negociações amigáveis”. Trata-se, alegou, de uma questão de “justiça” e de “necessidade”.
“Uma autarquia devidamente próxima e devidamente alinhada com as constantes necessidades específicas de quem aqui vive e nos visita é uma urgência”, defende o presidente do movimento, que vê na autonomização de Fátima vantagens também para o restante concelho de Ourém, já que “libertará o actual município para uma dedicação mais efetiva” às outras freguesias.
Presente na sessão, Nazareno do Carmo, que foi vice-presidente da Câmara de Ourém durante os executivos socialistas de Paulo Fonseca, alegou que além de Fátima “ter condições para ser sede de concelho”, esta “é uma necessidade para concretização de um desenvolvimento mais rápido deste território”.
“Nos oito anos em que fui vice-presidente, criou-se o pelouro de Fátima, absolutamente transversal. Agora, nem sequer um vereador temos no executivo”, criticou o antigo autarca, que na sessão desta sexta-feira, recordou a “traição dos políticos a Fátima”, inviabilizando, por duas vezes, a criação do concelho.
A primeira vez aconteceu em 1992, com o chumbo da pretensão pela Assembleia da República. Já em 2003 e depois da aprovação por unanimidade no Parlamento, a causa esbarrou no veto do Presidente da República Jorge Sampaio à lei-quadro da criação de municípios.
As pretensões de elevação de Fátima a concelho surgiram ainda na década de 80 do século XX, espoletada pelos problemas no abastecimento de água na freguesia. “Foram anos trágicos com a falta de água. Isto foi o ponto de partida para o movimento”, recordou Leonilde Madeira, professora aposentada durante a sessão desta sexta-feira.