É a partir de Bruxelas, onde reside, que o antigo aluno do Orfeão de Leiria e da Academia de Alcobaça prossegue a carreira internacional que lhe é apontada desde cedo e em que soma gravações e concertos com nomes maiores da música improvisada em Portugal e fora de fronteiras.
Entre as apresentações ao vivo, em três países, que constam na agenda de Diogo Alexandre para as próximas semanas, inclui-se, já na terça-feira, 1 de Outubro, a presença no 10.º Festival de Jazz da Marinha Grande, integrado no quinteto do vibrafonista Eduardo Cardinho, também ele com raízes em Leiria.
O espectáculo no Auditório José Vareda tem início às 21:30 horas e serve para apresentar o novo disco de Eduardo Cardinho, Not Far From Paradise.
Na Bélgica, aonde chega já com vários prémios e nota máxima na licenciatura da Escola Superior de Música de Lisboa, Diogo Alexandre tem vindo a explorar a bateria “como instrumento electro-acústico”, através da utilização de microfones, triggers e efeitos, de que se apropria para criar texturas e ambientes e que encara como ferramentas que permitem improvisar com outros recursos tímbricos.
“Era uma coisa que me deixava intrigado. Não percebia nada. Como era tão analfabeto no assunto, e achava os sons super-interessantes, quis conhecer melhor”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Mas não é a minha forma principal de me expressar, continuo a fazer muita coisa acústica e não quero que seja o meu principal rótulo, não quero resumir-me à electro-acústica, quero manter uma produção mais abrangente”.
A combinação da electrónica com o instrumento que conhece desde os 13 anos está a servir de gatilho para uma nova fase enquanto baterista e compositor. “Como baterista acústico, só, dei por mim a tentar reivindicar a identidade que fui criando ao longo dos anos. O facto de eu ser completamente analfabeto na electrónica e não ter nada a provar a ninguém fez-me ter uma personalidade completamente diferente e aperceber-me que quero transportar essa postura naiv e descomprometida para a bateria acústica também, como forma de me expressar [e de ser] mais completo e mais honesto”.
Actualmente a frequentar um mestrado, o músico nascido em Leiria em 1988, onde estudou com João Maneta, que recebeu os primeiros cachês logo na adolescência, ainda como estudante do ensino secundário, do curso de jazz, em Coimbra, está a transformar a casa onde vive em Bruxelas num espaço para concertos, no que é, provavelmente, a génese de uma nova associação ligada às artes.
A experiência com o saxofonista Fabrizio Cassol em que emerge a noção de que a música ocidental “não é o centro do mundo” e que é possível “criar narrativas e imaginar a música com mais dramaturgia”, as colaborações com João Barradas, que considera “uma inspiração”, “o mentor” André Fernandes e a residência com Peter Evans, “que pôs em causa preconceitos e pré-posições”, são os momentos que considera mais significativos. Outras fontes de inspiração encontra-as nos livros que lê e nas visões artísticas de quem o rodeia. “A música que tenho tocado tem reflectido a minha postura na vida”, assegura.
Já com um disco como líder, Pipe Tree, com o Bock Ensemble, de 2022, Diogo Alexandre prepara-se para um ano especialmente activo no que toca a edições: Stau (com João Mortágua), Asa (com José Soares e José Almeida e o convidado Bram de Looze) e ainda Mosaïc (sexteto que reúne músicos de Portugal, França, Tunísia e Bulgária), colectivos de que faz parte, vão, muito provavelmente, lançar em 2025 álbuns que neste momento já se encontram gravados. E, em Novembro, regressa a estúdio com o grupo Aleph.