Tenho uma certa familiaridade com as sinaléticas da A8, mas nunca me tinha dado para um devaneio viajante assim de realeza mais histórica. No meio do zapping radiofónico, que me obrigava a ouvir poluição sonora ao estilo reggaetónico, o Mosteiro da Batalha surgiu imponente no horizonte.
Dado que, nesse dia, a minha persona emocional estava um pouco à semelhança das ruínas de Conímbriga, foi um tanto majestoso deparar-me com aquele pedaço de pedra intacto, inquebrável aos campos de batalha de uma vida e, ao mesmo tempo, moldado pelas excentricidades de góticos, manuelinos e renascentistas.
O estômago roncava. Sabe o túmulo de Filipa de Lencastre há quantas horas não dava largas aos sucos gástricos. As redondezas eram acolhedoras, bem arranjadas e de arquitetura simples, curvando sempre o protagonismo ao Mosteiro que se impunha a jeito em todas as esquinas.
Dei duas ou três voltas de reconhecimento, estacionei e entrei na Casa do Benfica. Meia-dúzia de locais assistiam ao programa futebolístico da época, deglutindo os nervos na dose recomendada de jolas por jogo.
Ora, a Casa do Benfica da Batalha serve a melhor bifana do mundo. Pelo menos do meu, e olhem que eu já comi muitas. Para além de se perceber logo na primeira trinca a qualidade premium da carne, vem simplesmente temperada com sal q.b. e extremamente bem aviada. No meio da carcaça não está só um, mas dois bifes de dimensão generosa que excedem (e bem) as bordas da carcaça.
É uma bifana anti-semítica e a saciação é garantida, não é preciso mandar vir outra porque a primeira “não coube na cova de um dente” como acontece por vezes em roulottes alheias. A Casa do Benfica, em si, foi das mais catitas que já vi. Moderna, com materiais atuais, placards com lendas do Benfica, bandeiras por todo o teto e uma pequena loja de artigos benfiquistas no recanto.
Asseada e bem tratada, não tinha aspeto de tasco clandestino na lista negra da ASAE. A colmatar, havia o sorriso aberto e hospitaleiro do casal atrás do balcão. No meio disto tudo, não visitei o Mosteiro na sua íntegra, mas creio que esse nunca foi o meu objetivo quando ali cheguei, se é que tinha algum. Uma coisa é certa, saciei a fome e aos poucos reconstitui Conímbriga num claustro mais estável.
No fundo, não é só na almofada que estão os bons conselhos, um pitéu por vezes serve esse efeito e a fé no Bruno Lage também. Desvios no caminho, finto-os todos. Nem todas as nossas tentivas de golo vão trespassar a linha de baliza e a vida nunca é acerca do destino final. Regresse a casa da melhor maneira com este “pitéu pós-férias”.
Faça uma paragem na Batalha! Aprecie o que de melhor as redondezas têm para oferecer e prepare o estômago e a alma para as suas próximas “jornadas” com a melhor bifana do mundo. Vai ao Estádio da Luz no dia 15 de Setembro, domingo, para ver o Benfica com o Gil Vicente?
Deixe que as suas pupilas gustativas tenham as primeiras impressões do sabor a vitória. O Pedro e o Ricardo, responsáveis pela hospitalidade gloriosa da Casa do Benfica da Batalha, estão prontos a recebê-lo!
Texto de Maria Bonifácio Lopes
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Escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990