Provavelmente Jaques Delors já estaria a perspetivar como seria o mundo e a sociedade num futuro não muito longe do seu presente. Foi ministro da Economia e das Finanças de França, e eleito presidente da Comissão Europeia em 1985. Delors para além de um trabalho incansável no desenho do Tratado de Maastricht e de ter sido o arquiteto da União Europeia (UE) moderna foi também o homem que coordenou a Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI e que resultou num relatório onde se destacam os princípios para uma educação livre e humanista.
Este mesmo documento, mais tarde, foi editado sob a forma de um livro intitulado “Educação: um tesouro a desco-brir”. O quarto capítulo deste livro é totalmente dedicado aos quatro pilares da educação: 1) apren-der a conhecer, 2) aprender a fazer, 3) aprender a viver juntos e 4) aprender a ser.
Estes pilares têm o intuito de orientar as boas práticas educativas e promover uma educação mais abrangente e significativa. Delors defendia que estes quatro pilares representam uma abordagem holística e integrada do processo educativo.
Se a escola e os professores incluírem estes quatro pilares no planeamento e execução das práticas educativas estarão a formar cidadãos mais críticos, criativos, colaborativos e conscientes do seu papel na sociedade.
Eu concordo em absoluto com o pensamento deste grande homem que foi sempre um construtor de pontes, até mesmo quando deu início à União Económica e Monetária que mais tarde originou a moeda única na UE.
Jaques Delors pensou na aplicação destes quatro pilares em simultâneo, mas há um que neste momento merece, para mim, mais destaque. A importância de aprendermos a conviver uns com os outros. As relações interpessoais de comunicação e respeito mútuo, a cooperação, o diálogo e a tolerância. O objetivo deste pilar é também promover a construção e uma sociedade mais justa, pacífica e inclusiva.
Talvez por isso Delors atribua à empatia como um fator preponderante no desenvolvimento dos futuros adultos. Mas a capacidade de nos colocarmos no lugar de outra pessoa pode ser extremamente complexo se não nos relacionarmos com todos.
Talvez por isso o filósofo Michael J. Sandel tenha escrito recentemente o livro “A Tirania do Mérito” onde leva o leitor a questionar-se como é que alguém que te-nha frequentado (desde a nascença até ao ensino superior) as escolas privadas exclusivas, onde só à alta sociedade é permitido entrar, desenvolve a sua empatia pelos outros que na verdade, como todos sabemos, estão num nível bem mais abaixo no que diz respeito às oportunidades para alcançar o mérito.
O mesmo autor dá-nos uma solução esperançosa através de uma nova política centrada no bem comum. Façamos por isso para o bem de todos.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990