São inegáveis os impactos severos da Covid-19 na população e na economia do País e do mundo. Mas, como em tudo, uma crise desta dimensão pode ter consequências benéficas.
A redução temporária dos níveis de poluição atmosférica é uma das faces boas da pandemia. Mas há mais: também a criminalidade baixou, assim como a sinistralidade. Olhando para os dados da poluição, estes indicam que a Covid-19 está a fazer maravilhas pelo ambiente.
Os dados recolhidos pela estação de monitorização da qualidade do ar localizada na Ervedeira, freguesia do Coimbrão, concelho de Leiria – a única que encontra a funcionar, uma vez que a da Escola Superior de Tecnologia e Gestão está inoperacional – evidenciam uma quebra na ordem dos 50% das emissões de NO2 (dióxido de azoto).
A análise é feita por um grupo de investigadoras da Universidade da Aveiro (Departamento de Ambiente e Ordenamento e Centro de Estudos do Ambiente e do Mar), que tem vindo a tratar os dados recolhidos através do sistema QualAr, uma rede composta por 68 estações que diariamente mede a qualidade do ar em todo o território nacional.
O objectivo, explica Myriam Lopes, é perceber o antes e o depois Covid-19. Para já, o tratamento estatístico dos dados mostra uma diferenciação “clara” entre dois períodos: o primeiro de 1 de Janeiro a 16 de Março, data em que foram encerradas as escolas, e o segundo depois deste fecho e a declaração do estado de emergência.
No caso da Ervedeira, e de acordo com os cálculos feitos pelas investigadoras da Universidade de Aveiro, até 16 de Março, foram registados valores médios de NO2 de 3,77 microgramas por metro cúbico (mg/m3), valor que baixou para 2,61, entre 16 e 20 de Março, que corresponde à primeira semana com as escolas fechadas.
Nos dias seguintes, até 15 de Abril, já com o País em estado de emergência, a média desceu ainda mais (1,9 mg/m3).
“Sendo esta [Ervedeira] uma estação rural, normalmente com concentrações de NO2 baixas (este poluente está maioritariamente associado à combustão e em particular ao tráfego rodoviário), ainda assim é possível observar uma melhoria da qualidade do ar”, nota Myriam Lopes, frisando que o impacto da Covid-19 “é mais evidente nas estações urbanas de tráfego”.
Nestas, após o dia 16 de Março, registaram-se reduções das concentrações de NO2 “da ordem dos 40% a 90%”.
No caso das micropartículas conhecidas como PM10 , um dos poluentes “mais críticos em Portugal e na Europa, com excedências ao valor limite registadas todos os anos”, não existiu uma redução generalizada, o que, segundo a investigadora, pode ser explicado pelo facto deste poluente estar associado também a outras outras fontes de emissão, nomeadamente ao aquecimento doméstico, indústria e ainda a fontes naturais, como transporte das poeiras do deserto do Sahara.
“Há algumas estações/locais onde se verificam reduções da ordem dos 20-30% [nas PM10], mas noutras nenhuma redução é verificada”, adianta Myriam Lopes. No caso da Ervedeira, registou-se uma diminuição próxima dos 33%, passando de um valor médio de 23.5 mg/m3, registado até 16 de Março, para 15,85 mg/m3 no período entre 20 de Março a 15 de Abril.
Criminalidade diminuiu
Com menos 122 crimes, na janela temporal de 13 a 31 de Março, a PSP confirma uma diminuição de 49% da criminalidade geral no distrito de Leiria, em comparação com o período homólogo de 2019.
Na tipologia dos crimes, a grande quebra ocorre na condução de veículo sob o efeito de álcool, na ameaça e coacção, nos furtos em edifícios comerciais ou industriais e outras burlas.
No entanto, os ilícitos ligados ao furto em áreas anexas à residência e a veículos motorizados cresceram, registando-se mais três e seis crimes, respectivamente. “A PSP regista, com agrado, um elevado grau de adesão da população ao quadro legal em vigor e às recomendações das autoridades de saúde e às restrições em vigor, apelando a todos os cidadãos para que mantenham esse comportamento, essencial à contenção da pandemia”, refere o comandante distrital, numa resposta escrita.
Já depois do fecho da edição, o Comando Territorial da GNR de Leiria informou que, na sua área de responsabilidade no distrito, de 13 a 31 de Março de 2020, foram registados 92 acidentes, três feridos graves e 25 feridos leves. Foram ainda registados 474 autos de contra-ordenação ao Código da Estrada.
Estes números contrastam bem com a sinistralidade que ocorreu no mesmo período de 2019, quando ocorreram 216 acidentes, resultando quatro feridos graves e 68 feridos leves. Foram ainda registados 2.468 autos de contra-ordenação ao Código da Estrada.
Relativamente à criminalidade, a GNR registou 326 denúncias em 2019, número que diminuiu para 140 este ano.
Dados da GNR pelo tipo de crime |
2019 |
2020 |
Contra a vida em sociedade |
78 |
11 |
Contra animais de companhia |
1 |
3 |
Contra as pessoas |
76 |
38 |
Contra o Estado |
6 |
7 |
Contra o património |
135 |
75 |
Previstos em legislação avulsa |
30 |
6 |
Total Geral |
326 |
140 |
Os números
1
53%
Os crimes considerados violentos e graves registaram uma redução de 53% no Comando Distrital da PSP de Leiria