Quando, naquele dia 9 de Novembro de 2014, cortou a meta da meia- -maratona da Nazaré, Tiago Costa não imaginava que estava prestes a iniciar a maior e a mais difícil prova da sua vida. O “forte aperto” no peito que sentiu depois de terminar a corrida deixaram-no preocupado e levaram-no a consultar a médica de família. Seguiram-se exames e análises, que confirmaram o pior:Tiago, então com 27 anos, sofria de leucemia mieloide aguda.
Oito anos depois e a propósito do Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, que se assinalou no dia 4, o jovem de Leiria, que em 2017 motivou uma onda de solidariedade na região, recorda o combate que travou contra a doença e as suas complicações, que incluíram 33 dias de coma, e fala da recuperação e da sua nova vida como fisiologista do exercício, com foco em doentes com cancro.
Quando o diagnóstico chegou, Tiago sentiu o mundo a desabar. “Foi tudo muito rápido. De manhã, fui à médica de família, à tarde ao hospital de Leiria e à noite estava internado em Coimbra. Tive consciência da gravidade da situação.” Seguiram-se meses de quimioterapia e a inscrição na lista de espera para transplante de medula óssea. “Tive muita sorte, porque surgiram três dadores compatíveis e porque o processo foi rápido.”
O transplante aconteceu um ano após o diagnóstico, mas não significou o fim da batalha. Pelo contrário. Seguiram-se “muitas” complicações, como infecções urinárias e gástricas severas, diabetes associada ao uso de corticóides, que acabou por reverter, e uma trombose na jugular, que obrigaram a sucessivos internamentos.
“Foi um autêntico carrossel. Parecia que tudo estava a acontecer”, recorda Tiago, que, no Verão de 2017, após uma pneumonia bilateral extensa esteve 33 dias em coma, do qual acordou sem conseguir andar, comer, falar ou fazer a higiene pessoal. “Só me recordo de acordar no hospital sem falar e completamente acamado. Tive depois duas paragens cardiorrespiratórias. O prognóstico era mau. Podia não sobreviver ou ficar ligado ao ventilador o resto da vida”.
Coma foi “ponto de viragem”
Apesar do prognóstico, Tiago não desistiu. “O coma foi um ponto de viragem, como se tivesse feito um resert. Acordei fisicamente destruído, mas mentalmente forte”, assume o jovem, que partiu para a reabilitação determinado a vencer.
Com um “longo caminho” de fisioterapia e terapia da fala, reaprendeu a andar e a falar e, posteriormente, retomou a prática de exercício. Voltou também à Escola de Desporto de Rio Maior, onde se tinha licenciado antes da doença, para fazer o mestrado em Actividade Física em Populações Especiais, no âmbito do qual criou um programa de exercício físico para mulheres com cancro da mama.
Actualmente, trabalha em Lisboa, num clube que junta a saúde, o bem-estar e a prática desportiva, como fisiologista do exercício. “Trabalho sobretudo com exercício focado na saúde”, salienta Tiago Costa, que se tem dedicado ao estudo dos benefícios da actividade física em doentes oncológicos.
“Há muitas evidências de que melhora a qualidade de vida destas pessoas e ajuda a retardar os efeitos adversos dos tratamentos, como a perda de massa muscular ou as dificuldades articulares”, sublinha o técnico, que, entretanto, voltou a fazer treino de ginásio e está a regressar à escalada e ao surf.
“Nunca desisti, mas houve alturas em que me conformei que iria ficar dependente para o resto da vida”, confessa, reconhecendo que o apoio da família e dos amigos foi “fundamental”, assim como a onda de solidariedade que se gerou e que lhe permitiu ter acesso a tratamentos e alimentação adequados. “A todos, estou muito grato”.