José Frazão, inventor do centro de exposições Exposalão, na Batalha, dono de hotéis na baixa pombalina, em Lisboa, homem de negócios. Mantém a base em Leiria, e na garagem, a toda a largura do piso inferior, algumas obras de arte sobre quatro rodas, com sangue italiano e alemão. "Costumo dizer que não gasto dinheiro em álcool, mas gosto de carros".
Pé na tábua e a conversa avança pelas escadas interiores, até à sala, de onde se observa pela primeira vez a piscina, um recanto favorito do empresário. Nem o temporal da noite anterior, com o relvado em alvoroço, arrefece o entusiasmo. "A piscina é melhor de Inverno do que de Verão. Quando não se toma banho, estamos aqui, sentados, o relaxe da água, a descontrair um bocadinho".
De volta à sala. Temos pianista? Temos piano, pelo menos. "O piano é uma obra de arte e é uma peça intemporal, foi nessa perspectiva. Na minha antiga casa tinha um piano vertical, de ferro, um clássico, e quando vim para aqui achei que ficava melhor um piano de cauda".
E fica, de facto. É o centro das atenções, um detalhe que marca a diferença entre a zona de estar e de refeições.
"Quando a gente faz uma casa, há coisas que não dispensa. E tal como a casa tem telhado, eu achava que devia ter um piano".
Os amigos "querem brincadeira", o piano "é um pretexto", explica. "Podia ter uma mesa de snooker, tenho um piano. Para fazermos uma paródia, há sempre um que toca, há sempre um ou outro que se ajeita. Ou então põe o piano a tocar sozinho".
É aquele jazz em automático, como quem cria ambiente nas mãos de um pianista invisível.
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José Frazão chama-lhe casa de chomem. "As senhoras são mais exigentes nos apontamentos, nós olhamos para coisas mais simples. Somos capazes de ter uma televisão, um sofá, quatro cadeiras para jantar e está-se bem". Mandou-a construir há 15 anos, com projecto da arquitecta Helena Serrador. Linhas rectas, formas fáceis, corpos desencontrados e volumes diferenciados, luz, espaços que respiram e a vida entre o interior e o exterior.
"Disse-lhe que queria uma casa simples, com uma sala, um quarto e uma garagem. E ela acabou por fazer uma casa grande", arrisca, meio a sério, meio a brincar.
O empresário passa a maior parte do tempo na sala de estar – "Há sempre revistas, há sempre jornais para devorar, tenho aqui uma paisagem fantástica, uma varanda muito boa, vê-se o Castelo e a Senhora da Encarnação" – e de vez em quando escapa para o piso de cima, onde, na sala de leitura, que também é escritório, sem televisão nem outras distracções, se entretém a comparar experiências de vida.
"Preocupo-me em ler coisas na área da comunicação, estudiosos do marketing, estrategas do marketing. Os livros que lemos podem não ser técnicos, mas muitas vezes têm influência técnica. Temos de refrescar uma ou outra ideia", argumenta.
Juntem boa música com uma boa lareira e têm a definição de bem-estar para o dono do Exposalão. Diz que vem de um lugar onde contava "os tostões que gastava", daí reservar sempre a última palavra. Dos projectos na hotelaria à moradia que habita, tudo é conversado, tudo passa por ele. "Ouço as pessoas, converso e participo naquilo que construo", explica. "Costumo dizer que mais de 50 por cento, seja do que for, disto ou daquilo, mais de 50 por cento é meu".
Voltamos a casa: José Frazão é capaz de se aconselhar num ou noutro adereço, mas, na arte, segue o "gosto pessoal", que cultiva, com aquisições, sem aspirar ao estatuto de investidor ou coleccionador. A casa é um refúgio, nem mais nem menos. E um espaço para receber os amigos. "No Verão sou capaz de fazer um lanchinho, uma tarde com uns crepes, à volta da piscina, abrindo as janelas. É um cantinho, um cantinho. Faço grandes festas? Não faço".