Na primeira imagem, que preenche na totalidade as páginas 12 e 13, dezenas de garrafões estão amontoados no chão debaixo de uma pintura que retrata Jesus Cristo e uma bandeirola de amarelo e vermelho desmaiado, pendurada no tecto, parece esquecida desde a última festa.
O vinho, ou melhor, as gentes que lhe dão vida, num território esculpido entre o sagrado e o profano, são o centro de um novo livro assinado a meias pelos fotógrafos Adriano Miranda (jornal Público) e Nuno André Ferreira (agência Lusa e meios Cofina, originário de Leiria, mas a viver em Viseu há vários anos).
A Voz do Dão – O Diálogo da Uva e do Vinho é apresentado na próxima sexta-feira, dia 4 de Dezembro, precisamente, em Viseu.
No prefácio, o director do Público escreve que “as imagens de Adriano Miranda e de Nuno André Ferreira mostram-nos o Dão autêntico, cru, sem filtros nem preconceitos” e avisa que “nem tudo é bonito nesse mundo, nem tudo é moderno nem cibernético nem contornado pelo marketing”.
“É a realidade que ora enternece, ora choca, ora causa nostalgia ora revela tensão criadora”, aponta.
Segundo Manuel Carvalho, “o Dão assim exposto é tão mais belo e sentido porque nos proporciona um sentido de ponte entre um país que se extingue e outro que se afirma, sem que haja uma firme contradição entre ambos”.
São quase 250 fotografias num livro que conta também com textos de Jorge Sobrado (vereador da Cultura e Património do Município de Viseu) e Rogério Mota Abrantes (presidente da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões).
Tanto o Município de Viseu como a CIM Viseu Dão Lafões apoiam o projecto, coordenado pelo ateliê Gráficos Associados e instalado em vozdodao.com.
A edição é de 1.000 exemplares e cada um tem o preço de 30 euros. Está prevista a possibilidade de aquisição online.
Nuno André Ferreira fala ao JORNAL DE LEIRIA de uma abordagem “muito genuína, mais direccionada para as pessoas que trabalham e fazem com que as coisas aconteçam”.
Um documento “de autor” para fixar “o modo de vida” e “de trabalho” na região demarcada que se estende pelos distritos de Coimbra, Guarda e Viseu e “imortalizar o que é o vinho do Dão na sua forma mais autêntica”.
“As nossas imagens levam a lugares, a vivências”, resume.
Adriano Miranda e Nuno André Ferreira já tinham colaborado na exposição e no livro Dever de Memória – da Infâmia à Esperança, uma encomenda da Câmara Municipal de Viseu sobre os incêndios de 2017 e o sarar de feridas nos meses subsequentes.
A fotografia O Nosso Presidente Marcelo, captada precisamente em 2017, em Santa Comba Dão, que mostra o presidente Marcelo Rebelo de Sousa solidário com um agricultor, inconsolável, uma das vítimas dos incêndios, valeu a Nuno André Ferreira o Prémio Rei de Espanha de Jornalismo, recebido em Madrid das mãos do rei Felipe VI.
Entre outras distinções, Nuno André Ferreira já tinha obtido o primeiro prémio do concurso de fotografia da Aliança das Agências de Notícias do Mediterrâneo (AMAN) com uma fotografia do incêndio que, no Verão de 2013, devastou parte da Serra do Caramulo.
Nuno André Ferreira é natural de Marrazes, Leiria, tendo-se licenciado em Ciências da Informação pelo Instituto Superior Miguel Torga – Coimbra.