Aos 40 anos, estará o copo meio-vazio ou meio-cheio? Para cada vez mais pessoas é precisamente a partir dos 40 anos que o copo transborda de novas metas e de objectivos cumpridos. Encontram o amor, descobrem a maternidade, novos empregos, novos passatempos e regressam aos bancos da escola, alcançando a realização que não tiveram até então. O JORNAL DE LEIRIA foi ao encontro de quem colhe os frutos dos recomeços que encetou a meio da vida.
A maternidade e o amor tranquilo
Daniela de Sousa, advogada, tem 44 anos e sente que foi depois dos 40 que surgiram as maiores transformações. Aos 37 anos, quando se divorciou, “a vida parecia ter deixado de fazer sentido”. Mas o destino aproximou-a de João Colaço, ultramaratonista, e foram várias as metas que, juntos, viriam a conquistar.
Nas Festas da Cidade, da Marinha Grande, esbarraram literalmente um contra o outro e de imediato começaram a conversar sobre a música e sobre a preferência que ambos tinham sobre a mesma banda. Depois do gosto musical que partilhavam, descobriram outro interesse comum: correr. “Desafiou-me para participar numa meia-maratona. Pensei que estava louco. Mas acabei por conseguir”, partilha Daniela.
Multiplicaram-se as viagens juntos, para assistir a concertos. “Eu não estava preparada para um novo relacionamento, mas o João foi paciente e insistente”, recorda a advogada.
O namoro, mais tarde uma casa comum, foram os passos que se seguiram. E aos 41 anos, Daniela foi mãe. À bebé junta-se outra filha, fruto do primeiro casamento de João. A família ficou completa. “Redescobri o amor. Um amor tranquilo, enquanto casal, e o amor de mãe”, partilha Daniela.
Poucos anos antes, a advogada já tinha experimentado outra mudança na sua vida. Foi ainda na casa dos 30 que se tornou vegan. “Foi uma questão de convicção ambiental, de saúde e de empatia com os animais.” Mas foi depois dos 40 que as mudanças se intensificaram. Após ter sido mãe, surgiu o recomeço profissional, com a jurista a exercer por conta própria. E, mais recentemente, decidiu que era hora de voltar a apostar na formação. Ingressou em duas pós-graduações em simultâneo. Uma delas na Católica do Porto, em Direito das Sociedades Comerciais, e outra em Direito de Insolvência e da Recuperação das Empresas, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
“A vida deu-me todas estas lições e estou muito melhor aos 40 dos que estava aos 20 anos. O tempo dá-nos mais experiência, traz mais confiança e serenidade para enfrentar os problemas que vão surgindo.”
Pegar na raquete e recuperar a saúde
Tinha 44 anos quando Jeremias Vigarinho, vendedor de peças de automóvel, natural de Casal dos Claros, tomou uma das decisões que mais mudaria a sua vida. “Sempre fui muito sedentário. Até que nos resultados de umas análises ao sangue verificaram que tinha colesterol elevado. Tinha que tomar medidas”, recorda.
“Como o meu filho mais velho já praticava badminton, comecei a acompanhá-lo. O que era um passatempo tornou-se numa paixão”, explica o vendedor, que, além do jogo, passou a integrar a direcção do Clube Badminton Leiria.
Hoje, aos 56 anos, “treino todas as semanas, às segundas, quartas e sexta-feiras”. Além de reconhecer as melhorias alcançadas em termos de saúde, Jeremias salienta como esta modalidade lhe abriu as portas para a primeira experiência como dirigente associativo. “Hoje em dia é um prazer ter dezenas de meninos ao nosso encargo durante hora e meia. Muitos deles tornaram-se, entretanto, grandes atletas”, refere Jeremias com satisfação.
“Não fiquem no sofá, arragados à televisão e ao telemóvel. Isso envelhece e isola-nos”, alerta o vendedor, para quem o desporto passou a pautar grande parte da sua vida.
Um Caminho que trouxe novo percurso profissional
Apesar de bastante jovem, já tinha tido várias experiências profissionais relacionadas com a infância, como monitora e animadora. Portanto, aos 25 anos, Marisa Norte considerou que o curso de Educação Social era a opção mais lógica e acertada, perante as opções disponíveis.
Durante o período de licenciatura, sempre conciliou os livros com vários empregos. Desempenhou funções como administrativa, num projecto social destinado a crianças com dificuldades de aprendizagem e outras condicionantes, trabalhou em bares, discotecas e auxiliou em consultórios médicos.
Ao terminar o curso superior, foi ainda ajudante num lar de idosos, leccionou, até que surgiu a oportunidade de exercer na sua área, como educadora social, numa instituição local, onde se manteve cerca de quatro anos. “Foram tempos muito enriquecedores e de muita aprendizagem.” Em simultâneo, começou a interessar-se pela área da saúde e bem-estar, nomeadamente pela filosofia Ayurvédica e pelas suas técnicas de massagem. “Seguiram-se várias formações complementares, de shiatsu, reflexologia, pedras quentes, entre outras”.
No entanto, o impulso para a mudança chegou quando Marisa resolveu fazer o Caminho de Santiago de Compostela. “Parti pela aventura, sem qualquer objectivo de carácter religioso nem qualquer outra expectativa. E algo me disse de imediato que a minha vida iria mudar. Senti uma enorme transformação”.
A intuição viria a confirmar-se. “Foi aos 43 anos que decidi abrir o meu próprio gabinete de massagens, o Brahma Dreams Therapy, um espaço na Marinha Grande, que partilho com uma colega, que cuida das questões de estética. E sinto-me muito realizada com esta minha escolha. Continuo a auxiliar o próximo, ainda que num contexto diferente. O bom da vida é aliar o amor em cada gesto e conseguir tocar os que me chegam, de forma igualmente transformadora.”
Fazer malas rumo a outro país
A vida de Nuno Goucha tem sido pautada por vários recomeços. Aos 19 anos, deixou Leiria para integrar a Companhia Nacional de Bailado, em Lisboa. E aos 28 anos decidiu partir para Inglaterra para estudar. Mas tinha já 41, quando, em 2003, rumou para Espanha para trabalhar numa conhecida fábrica de bolachas daquele país.
O que Nuno não contava é que, já depois dos 50 anos, e após vários layoffs, a empresa o dispensasse.“Era demasiado novo para deixar de trabalhar. Tinha imensa energia”, conta o antigo bailarino, que não baixou os braços.
Depois de uma experiência na gestão de restaurantes no Basque Culinary Center, acabou por se lançar na abertura do seu próprio restaurante em Madrid, em 2015, o Atlantik Corner. “Foi a maior aventura da minha vida”, recorda Nuno. E fazê-lo antes não teria tido o mesmo resultado. “A idade traz experiência, maturidade e coragem”, considera. Infelizmente, a pandemia iria uma vez mais alterar o seu rumo. “A Covid-19 obrigou-me a desfazer desse ‘meu bebé’”, lamenta Nuno, que não teve alternativa se não fechar o negócio em 2022.
“Foi outro salto no vazio. Pensei que já não voltaria a conseguir emprego. Mas uma companhia americana convidou-me para ser gerente de operações e de experiência de cliente na sala VIP da TAP no aeroporto de Lisboa.” Depois dos 60, Nuno Goucha sente-se uma vez mais “um homem pleno e realizado”, sem deixar de equacionar juntar-se à família, que ficou em Espanha.
Voltar aos estudos numa idade madura
Recentemente, a Socem congratulava diversos colaboradores que, impulsionados pelo grupo empresarial, se propuseram a evoluir nas suas capacidades técnicas e a promover a sua transformação interior. Todos eles ingressaram na universidade depois dos 40 anos, salientava o grupo sediado na Martingança.
Marília Ferreira, gestora de Contas Principais da Socem ED, sentiu a necessidade de transcender os seus limites através de uma licenciatura em Relações Humanas e Comunicação Organizacional. “Ingressar novamente na universidade depois dos 40 anos foi para mim uma decisão desafiadora, porém gratificante.”
Pedro Bonifácio, gestor de Projectos da Socem ED, entende que nunca é tarde para retomar os estudos e licenciou-se em Engenharia de Produção Industrial. “Os benefícios do retorno às salas de aula numa idade mais avançada são enormes. Além do conhecimento adquirido, melhora o funcionamento da memória, a integração com outras pessoas, exercita o cérebro, amplia oportunidades de evolução profissional e favorece a nossa auto- estima.”
Já Carlos Novo, director de Vendas e Desenvolvimento de Negócios da Maxiplás, licenciou-se em Gestão de Empresas. “Voltar aos estudos aos 40 anos foi uma forma de me desafiar numa idade madura, em que já tinha um percurso profissional consolidado, e de provar a mim mesmo que não existem limites.” Destaca que estudar ao lado de pessoas mais jovens proporcionou trocas de experiências enriquecedoras e aconselha outros profissionais a procurarem uma formação alinhada com as suas aspirações. “Não existe idade para estudar ou aprender. Concentrem-se nos vossos objectivos e aproveitem para aumentar o conhecimento e valorizarem-se cada vez mais no mercado de trabalho.”