A mancha verde que era um dos ex-libris do Parque Temático da Lagoa, na Ortigosa, concelho de Leiria, deu lugar a um descampado, depois de a Junta ter ordenado o abate de mais de 100 árvores. Este corte, consumado na semana passada, sucedeu-se a um outro, efectuado há um ano, e provocou a indignação da população.
Em sinal de protesto, cerca de uma centena de viaturas concentram- se no domingo junto ao parque, participando num buzinão contra o “abate indiscriminado” de árvores. A maioria dos manifestantes permaneceu no interior das viaturas e, aqueles que saíram, “mantiveram o distanciamento”, asseguram os promotores da iniciativa, organizada por um grupo de moradores.
Já com o corte das árvores consumado, o protesto pretendeu assinalar a “indignação da população” pela decisão da Junta e pela forma como a mesma foi executada, “sem qualquer estudo dendrológico, sem aprovação da Assembleia de Freguesia e sem discussão pública sobre o futuro” do local.
O corte começou há cerca de um ano, com a Junta a alegar que as árvores se encontravam doentes, tendo sido então abatidas cerca de três dezenas de choupos. Ao que o JORNAL DE LEIRIA apurou, a Autarquia solicitou um parecer técnico, segundo o qual haveria exemplares com problemas. “Seriam alguns. Não as mais de 100 árvores que foram cortadas”, denúncia Micael Domingues, um dos manifestantes.
Esta informação é corroborada pela Câmara de Leiria, que, em comunicado, se demarca da decisão da Junta, proprietária do espaço. O município esclarece que chegou a fazer uma avaliação a quatro choupos, que se revelou inconclusiva, pelo que, aconselhou o executivo da União de Freguesias a solicitar a especialistas um estudo “mais cuidado e profundo”.
A Câmara adianta que “teve conhecimento que foram efectuadas análises laboratoriais a uma amostra de três exemplares”, defendendo que, “por prudência”, deveriam ter sido feitos estudos complementares, uma vez que “seria difícil aferir, com rigor e por via das amostras realizadas, que todos os exemplares estivessem contaminados”.
“O Município de Leiria desconhece que outros estudos terão sido efectuados e que tenham justificado a decisão unilateral da União de Freguesias do Souto da Carpalhosa e Ortigosa de abater a quase totalidade das árvores do Parque da Lagoa”, acrescenta.
Junta esclarece: Risco de queda “era muito grave”
A presidente da Junta, Eulália Crespo, alega que a decisão foi baseada em “estudos e avaliações” às árvores, feito por investigadores das Universidades de Coimbra e de Trás-os-Montes e Alto Douro. Segundo a autarca, o relatório concluiu que as árvores “estavam contaminadas com diversas espécies de fungos que as fizeram apodrecer”, “mesmo que exteriormente aparentassem estar saudáveis “.
Eulália Crespo reconhece que não foram analisadas todas as árvores, porque isso “seria manifestamente inexequível”, mas alega que a manutenção de algumas daquelas que foram abatidas “não evitaria a propagação da doença”.
“O facto de praticamente apenas existirem choupos no local facilitou a rápida propagação dos fungos e tornou inviável a manutenção de boa parte das árvores”, acrescenta, assegurando que a Junta actuou “sempre na salvaguarda da integridade física” dos utilizadores do parque.
Adianta ainda que a Junta está a trabalhar na requalificação do espaço, que inclui o melhoramento dos equipamentos e a reflorestação com árvores de espécies diversificadas.