A ideia partiu de um grupo de industriais que, no Natal de 1943, desafiou a comunidade local a juntar esforços para criar um apoio para os muitos pedintes que percorriam as ruas da terra a pedir esmola. De “imediato” surgiu um refeitório, que marcou o início da actividade do Abrigo Familiar Casa São José, instituição de Mira de Aire que está a comemorar 75 anos “ao serviço da comunidade”, acolhendo actualmente 51 idosos na valência de lar e 115 crianças em creche, ATL e jardim de infância.
“Temos lista de espera para o lar, mas não temos capacidade para mais. Na área da infância, depois das dificuldades sentidas durante a recente crise, quando tivemos de fechar uma sala do pré- -escolar, por falta de crianças, nota- -se agora um aumento da procura. A imigração tem ajudado”, conta Adelino Ferreira, que está na direcção da associação há 45 anos, sempre como secretário e, desde que se reformou, a tempo inteiro.“Sou o único homem da casa”, brinca o dirigente.
Com uma direcção ‘civil’, presidida por Luís Duque da Silva, recentemente homenageado com a colocação de um busto junto ao lar, a administração da instituição está, desde 1951, confiada à Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres. Adelino Ferreira conta que, como “começou a ser necessário albergar alguns idosos, pediu-se à congregação, que estava também a começar a sua actividade e cuja fundadora era natural de Alvados [aldeia vizinha], para assumir esse papel”.
Durante anos, o financiamento da instituição, que entretanto passou também a ter creche, era assegurado pelos trabalhadores das fábricas, que “descontavam 50 centavos por mês, uma tradição que se perdeu com o 25 de Abril”, recorda o dirigente, que sublinha também o “grande apoio” da comunidade local e dos “amigos” da instituição. Foi, aliás, esse contributo que permitiu à instituição avançar com a construção do lar “à revelia” da Segurança Social. “Alegavam que estavam a projectar um, mas não diziam para quando. A obra construiu-se e pusemo-la ao serviço da população”, conta Adelino Ferreira.
Com a creche, o processo foi idêntico. Em ambos os casos, os apoio do Estado chegaram já com a “obra feita”. Nesta fase, a prioridade da instituição, que tem 50 funcionárias, é “manter o que existe”, até porque “não há espaço para crescer”. “As comparticipações estatais são diminutas face às necessidades. Não nos podemos meter em grandes aventuras”, diz o secretário da Direcção.