Há anos que Daniel Costa passa duas quinzenas de férias em Fátima, em Maio e em Outubro, sempre acampado, “junto a Nossa Senhora”.
Só em duas ocasiões o ritual foi interrompido, uma em tempo de confinamento, no ano de 2020, quando acabou por não ir à Cova da Iria, e outra após uma hospitalização, em Outubro último, quando trocou a tenda pelo hotel.
Residente em Gondomar, Daniel Costa chegou a Fátima no dia 28 de Abril, com a esposa Maria dos Anjos, e só contam regressar a casa no domingo, “se não chover”.
As previsões apontam para a ausência de precipitação, mas, se acontecer, só partirão quando vier o bom tempo. “Deixo as tendas secar primeiro, para facilitar a desmontagem. Já vou a caminho dos 81 anos”, refere Daniel.
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Caminhos alternativos “são mais seguros” mas longos e sem oferta de restauração
Desta vez, o casal conta também com a presença de Augusta Moura, prima de Maria dos Anjos. Esta, interrompe o almoço para uma visita guiada às tendas montadas debaixo de um arvoredo, ou antes, à ‘vivenda vento e estrelas’, nome com que baptizaram o espaço.
[LER_MAIS]Maria dos Anjos pede desculpa pela “desarrumação”, de que não nos apercebemos, e mostra como está organizado o espaço que, por estes dias, lhe serve de casa. Ao fundo um ‘quarto’ com duas camas. No meio a ‘sala de jantar’, que em dias de calor é transferida para o exterior.
À entrada, de um lado a cozinha, do outro uma terceira cama. “Sem luxos”, mas “confortável” e “asseada”, diz Maria dos Anjos.
Sete missas diárias
“Temos o essencial e é assim que gostamos de viver estes dias, próximos de Nossa Senhora”, acrescenta Daniel Costa, que se assume como um “grande” devoto da Virgem Maria e um “homem crente”, uma religiosidade que aprofundou durante o tempo em que esteve em África, onde viu “muita miséria”.
Naquela manhã, tinha já participado em quatro das sete missas a que assiste diariamente, umas vezes sozinho outras na companhia da esposa e da prima. “Estive muito mal. Nossa Senhora salvou-me e tem olhado por nós. Vimos agradecer-lhe. Em Fátima, sentimo-nos em paz”, afirma Maria dos Anjos.
Mais abaixo, junto ao parque 12 do Santuário, Carlos Machado coordena as operações de montagem do acampamento que acolherá as 33 pessoas que, este ano, seguem no Grupo de Peregrinação Caçador-Viseu, incluindo emigrantes vindos da Alemanha, França e Suíça.
Fizeram-se à estrada no dia 6 e chegaram a Fátima esta terça-feira, caminhando, “o mais possível” por percursos alternativos às estradas com maior movimento.
“Quando entram no IC2, o meu coração dispara. Só volta a sossegar quando saem”, confessa Carlos Machado, que faz apoio a peregrinos “há 30 anos”.
“Vim uma vez a pé, mas depois fui para os bastidores. Mas é mais custoso”, alega.
“Os peregrinos só têm de caminhar, comer e dormir. A nossa missão é que nada lhes falta”, acrescenta Carlos Sousa, que, por estes dias, despe a pele de jornalista no Correio do Minho para apoiar quem vem na estrada.
Enquanto o grupo descansava num pavilhão em Pombal, preparando-se para a última etapa, parte da equipa de apoio instalava o alojamento em Fátima.
“Vamos montar quatro tendas-dormitório e uma para refeitório”, avança o líder da equipa de apoio composta por dez pessoas, “todas voluntárias”.
O grupo ficará até sábado, dia em que “começa a ser planeada a próxima peregrinação”, frisa Carlos Sousa.