Livros, material escolar, alimentação ou deslocações, são várias as preocupações que invadem os pais no regresso às aulas. Planear uma rotina é importante e, além da actividade escolar, existe outra componente que ocupa o tempo das crianças: as actividades extracurriculares.
É importante elaborar um plano organizado, que permita dar tempo a todos os momentos da vida da criança: além das aulas, tempo para os trabalhos de casa, estudar, estar com família e amigos e para descansar.
A palavra-chave é equilíbrio, como ressalva a psicóloga Alexandra Lázaro. “É importante que, no início do ano lectivo, os pais, em conjunto com os filhos, percebam os horários escolares, planeiem o tempo livre que terão para encaixar uma actividade extracurricular, garantindo espaço para um bom equilíbrio entre as várias dimensões da vida”, explica a especialista.
As crianças devem também fazer parte do momento de decisão, para desenvolverem cada actividade “por prazer”.
Caso o equilíbrio se perca, Alexandra Lázaro alerta que as crianças e jovens podem sofrer com “uma sobrecarga de horários, que lhes poderá acarretar riscos de maior stress e ansiedade, prejudicando dessa forma a sua saúde mental e retirando, em parte, os benefícios que as actividades extracurriculares apresentam”.
Os benefícios vão desde a exploração de novos talentos e capacidades, o alargamento da rede social dos jovens, até a uma melhor organização e disciplina, aliadas ao sentido de responsabilidade e à criação de rotinas.
A psicóloga aconselha a prática de algo diferente às iniciativas já desenvolvidas na escola. “Em alguns casos, pode ser importante que seja uma actividade que potencie competências que a criança tem em falta (por exemplo, competências sociais, dificuldades de concentração), cumprindo, assim, uma função importante para o desenvolvimento saudável.”
Desporto para combater o sedentarismo
O desporto é uma das actividades que acaba por reunir mais crianças e jovens. Do futebol ao atletismo, a oferta é ecléctica no distrito, com alguns dos melhores clubes do País sediados em Leiria. É o caso da Juventude Vidigalense (JV), que valoriza a formação.
“Estamos a caminhar para uma sociedade mais sedentária e os nossos jovens estão mais atraídos por actividades online. Do ponto de vista prático, traz desvantagens. E isso combate-se com o desporto”, explica Nuno Cordeiro, presidente da JV.
As boas notas acompanham o ritmo de treino, já que cada treinador da JV consulta as notas dos atletas que tem a cargo.
O desporto como actividade extracurricular é, sobretudo, “disciplinador”. “Não falta tempo para estudar, mas obriga a ter um método de organização de tempo distinta, característica que o desporto cria”, garante, dando o exemplo do filho, que já conquistou várias medalhas pela JV, treinava “três a quatro horas por dia, e tinha tempo para os trabalhos da escola”.
No entanto, o presidente da JV considera que manter mais que uma actividade desportiva pode ser prejudicial. “É desaconselhada a questão da dupla modalidade. A certa altura, nem sabemos se há, até, uma sobrecarga física.”
Música permite desabafar
Na Caranguejeira, concelho de Leiria, a música faz parte da vida de dezenas de crianças que encontram no Instituto Jovens Músicos (IJM) um lugar para aprender e, ao mesmo tempo, descontrair.
“A música traz benefícios nos momentos de stress e acalma. Além disso, [as crianças] conseguem desabafar”, partilha Felisbela Barbosa, coordenadora do IJM.
Desde o piano à bateria, a música permite adquirir novas competências, com benefícios na saúde cognitiva e física.
A escolha na área da música é vasta, mas a criança não tem de estar condicionada ao primeiro instrumento que escolhe. “É muito importante que as crianças vivenciem o maior número de experiências antes de se fixarem numa. Não custa nada a criança experimentar canto, por exemplo, só para tirar a dúvida”, sublinha a coordenadora, ao garantir que “a música deve ser das disciplinas que mais prepara a criança para o adulto de amanhã”.
Teatro envolve família
Conhecida pela formação na música, a SAMP – Sociedade Artística Musical dos Pousos desenvolve outras actividades ‘fora da caixa’ que fomentam as capacidades artísticas de cada criança.
Não só de crianças, mas de qualquer pessoa que queira participar na Escola T, já que não há limite de idade e até envolve as famílias dos educandos. “A ideia é tentar ao máximo envolver a família”, frisou Simão Francisco, director pedagógico da SAMP.
A Escola T permite que cada jovem exprima as suas emoções através da representação, ao mesmo tempo que promovem auto-conhecimento, já que “para poderem representar, têm de se conhecer a eles próprios”.
Simão Francisco reconhece os benefícios das actividades extracurriculares para o desenvolvimento das crianças, tanto das artísticas como das desportivas. “Estes dois mundos devem ser cultivados. Nas actividades artísticas, o objectivo é colocar as crianças no lugar de pensador.”
O período de inscrições está aberto e as aulas da Escola T arrancam em Outubro.