Mesmo encostadinh à cidade de Ourém, na aldeia de Pêras Ruivas, há um grupo de teatro que resiste ainda e sempre, preserverando nas artes cénicas e apostando em ser um farol da cultura e da criatividade.
Por estes dias, a cada cinco dias, os elementos do Grupo de Teatro Apollo juntam-se, mantendo uma distância física saudável, e martelam, serram, aplainam e rebocam, de manhã até à noite.
Estão a renovar a velhinha sala do Centro Cultural e Recreativo de Pêras Ruivas.
Com pouco dinheiro, mas muito engenho e talento e algumas ajudas externas estão a levar a sua nave a bom porto.
Transfiguraram um espaço frio e pouco confortável de patinho feio em elegante cisne.
Os trabalhos começaram com a chegada do fim da temporada de 2019 e, não fosse a pandemia, que obrigou a uma suspensão, já estariam praticamente concluídos.
Em 2018, o grupo havia renovado os camarins e a lógica ditava que se tratasse do palco. Em pouco tempo, porém, os planos mudaram e apostaram em fazer mais.
“Houve ali uma oportunidade e avançámos para a requalificação”, conta a directora artística do colectivo, Dora Conde. Ao fim de três décadas de utilização, todo o espaço precisava de carinho e cuidados. Com alguns trocos como orçamento, mas muita gana, todos ajudaram naquilo que puderam. Aos finsde- semana, trocaram os teclados dos computadores pelo pincel, escopo e talocha.
Uns foram pedreiros, outros serventes, uns foram electricistas, outros carpinteiros. Pintaram paredes, passaram fios e assentaram tijolos. O dia inteiro ou só umas horas, todos deram o que puderam para o esforço colectivo e o resultado está a vista.
Pisar o palco novo
Com as condicionantes actuais, a directora artística reconhece uma dificuldade em conseguir traçar projectos com um horizonte futuro longínquo, pelo que os planos vão sendo traçados semana a semana. Para 2021, explica Dora Conde, o plano é concluir as obras, para depois se poderem concentrar completamente na produção de novos espectáculos.
[LER_MAIS]”Fizemos cerca de 95% do trabalho total. Falta o resto da instalação eléctrica, a construção da régie, os materiais para as casas de banho, para as quais precisávamos de um apoio de mecenato”, conta a responsável. Apolo, deus do Sol, da luz, dos oráculos, da verdade, mas também das arte como a música ou a poesia, inspirou-os.
Dora aproveitou para entrar em contacto com a Câmara de Ourém e expor os planos do grupo e como a autarquia estava a requalificar o Cine-teatro de Ourém, pediu 100 cadeiras e a cortina do palco, que iriam ser retiradas daquele auditório. E recebeu-as. Foi criada uma plateia com cerca de 70 metros quadrados e a cortina, após lavada e consertada por uma costureira, voltou à sua nobre função.
“E ainda sobrou pano para cortinas e toalhas! Aplicámos uma lógica de reutilização de materiais. Do velho, fizemos novo”, diz Dora Conde, com um sorriso franco.
Tábua a tábua, foi criado um palco novo, rebaixado e de maiores dimensões. “Conseguimos ainda criar uma sala técnica e outra para reuniões, e ainda uma casa de banho para os camarins”, conta, orgulhosa, a responsável.
A sala tornou-se mais prática, actualizada para o século XXI, e mais confortável, até porque o frio, especialmente no Inverno, era uma das principais queixas de quem ali ensaiava. “Costumo dizer que estou à frente de uma equipa muito determinada e extremamente eficaz, que quer muito que este projecto esteja concluído”, resume a responsável.