A onda laranja, agora também pintada a tons de azul do CDS-PP e do PPM, voltou ao distrito. A Aliança Democrática (AD), liderada pelo PSD, conquistou metade dos dez deputados eleitos por este círculo eleitoral, conseguindo 35,21% dos votos.
A coligação venceu em 12 dos 16 concelhos e em 92 das 110 freguesias do distrito. Ganhou também em Ourém, onde fez o pleno nas freguesias, à semelhança do que aconteceu em Leiria, Pombal, Porto de Mós, Batalha, Pedrógão Grande, Alvaiázere e Ansião.
Já o PS, que há dois anos tinha obtido uma vitória histórica, caiu “com estrondo”, perdendo quase 23 mil votos e dois deputados, um para a AD e outro para o Chega. Os socialistas mantiveram-se, no entanto, como o partido mais votado em Castanheira de Pera, Marinha Grande, Peniche e Nazaré, perdendo para a AD os concelhos de Caldas da Rainha, Figueiró dos Vinhos, Bombarral e Óbidos, onde tinham ganhado em 2022.
Tal como no País, também no distrito o Chega registou uma subida vertiginosa. Voltou a ser a terceira força política no distrito, mas agora com 19,66%, conseguindo perto de 54 mil votos, ou seja, quase o triplo do registado nas legislativas de 2022, quando teve 8,02%.
De salientar ainda a aproximação do Chega ao segundo lugar obtido pelos socialistas, com as duas forças políticas a ficarem separadas por 7.771 votos. O Chega foi, aliás, o segundo partido mais votado em sete concelhos da região: Alvaiázere,Batalha, Ourém, Peniche, Pombal, Porto de Mós e Marinha Grande. Neste último município, ficou mesmo à frente da AD e do PCP, que já foi o partido mais votado no concelho e se vê agora relegado para quarto.
À semelhança do que aconteceu nas anteriores legislativas, o Iniciativa Liberal (IL) surge com a quarta força política no distrito, à frente do Bloco de Esquerda. O Livre aparece na sexta posição, ultrapassando o PCP e o PAN (ver infografia).
De realçar ainda o resultado do ADN – Alternativa Democrática Nacional, que, em 2022, teve apenas 783 votos e que agora conseguiu 4.560, ou seja, quase seis vezes mais. Em Alvaiázere foi o quinto partido mais votado e em concelhos como Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Pombal ficou à frente do PCP, Livre e PAN, o mesmo acontecendo em Ourém, onde o ADN teve 2,31% dos votos.
Abstenção mais baixa em 30 anos
Outro dos destaques destas eleições foi a redução da abstenção, que no distrito se cifrou em 33,64%, o valor mais baixo desde 1991. Comparando com as legislativas anteriores, registaram-se mais 37.734 votos, o que beneficiou quase todas as forças políticas que viram aumentados os seus resultados. As excepções são o Partido Socialista, que perdeu 22.718 votos, e o PCP que teve menos 740 do que em 2022.
Também o número de votos brancos e nulos subiu, totalizando agora 8.641, o que representa 3,1% (há dois anos foi 2,7%). Em termos concelhios, a maior percentagem de abstenção registou-se na Nazaré (43,78%) e em Pombal (39,29%), enquanto na Batalha e em Leiria, se votou mais com o número de abstencionistas a rondar os 29% nos dois casos.
Olhando para as freguesias, o maior nível de participação eleitoral registou-se em Arrimal (Porto de Mós) e Bajouca (Leiria), onde o número de votantes ultrapassou os 77% (77,84% no primeiro caso e 77,03% no segundo). Já as freguesias com menos votação foram Abiul (Pombal), Espite (Ourém) e Nazaré, com valores de abstenção entre os 49 e os 46%, acima da média nacional (33,77%).
Já no que toca aos resultados eleitorais nas freguesias, a AD conseguiu o seu melhor resultado na Bajouca, a única do distrito onde superou a barreira dos 60%, colhendo a preferência de 60,16% dos eleitores. Já o PS, foi o mais votado na freguesia de Castanheira de Pera, com 45,73%, enquanto o Chega obteve o resultado mais volumoso em Serro Ventoso (Porto de Mós), onde teve 30,87% dos votos.
A IL registou a votação mais expressiva na Benedita, no concelho de Alcobaça, com 8,02%, e o BE em Valado dos Frades, na Nazaré, com 8,79%. Já o Livre conseguiu a percentagem mais elevada (4,1%) nas freguesias de Nadadouro e Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregógio, ambas em Caldas da Rainha, concelho de onde é natural a cabeça-de-lista do partido por Leiria, Inês Pires. Por seu lado, o PCP alcançou a maior votação na Moita, município da Marinha Grande, com 10,27%.
Representação feminina em queda
Entre os dez deputados eleitos pelo distrito no último domingo, há apenas duas mulheres: Ana Sofia Antunes, ex-secretária de Estado da Inclusão, que era a número dois da lista do PS, e Sofia Carreira, técnica superior na área da museologia, que seguia como número três da candidatura da AD.
Esta representação feminina é a mais baixa das últimas duas décadas. É preciso recuar até às eleições de 1995 para encontrar um número mais reduzido. Nesse ano, apenas foi eleita uma mulher pelo distrito, Maria Luísa Ferreira, de Ansião, que representou a bancada do PSD. Entre 2009 e 2019, este círculo eleitoral elegeu quatro deputadas, algumas das quais, acabariam, no entanto, por deixar a Assembleia da República para assumir funções governativas (Teresa Morais e Assunção Cristas).
A nova representação parlamentar pelo distrito terá sete estreias – Telmo Faria, Sofia Carreira, João Santos e Ricardo Carvalho (AD); Ana Sofia Antunes, que já foi deputada por Lisboa, e Walter Chicharro (PS) e Luís Paulo Fernandes (Chega) -, e três continuidades: Hugo Oliveira (AD), Eurico Brilhante Dias e Gabriel Mithá (Chega). Já João Moura, presidente da Assembleia Municipal de Ourém, foi reeleito por Santarém.
AD festeja resultado “extraordinário”
Assim que as primeiras projecções surgiram na ecrã da televisão instalada na sede do PSD em Leiria, o cabeça-de-lista da Aliança Democrática (AD), Telmo Faria, soltou um “muito bem”, com esperança num bom resultado no País e no distrito. Na sala, houve também quem não conseguisse conter um suspiro em reacção às projecções que apontavam para uma subida significativa do Chega, que se confirmou.
À medida que foram chegando os dados das contagens nas freguesias e nos concelhos, crescia a confiança de que Leiria voltaria a dar a vitória ao PSD, agora coligado com o CDS-PP e com PPM, que só não aconteceu nas legislativas de 2022. João Cerejo dos Santos, número nove da lista da AD, vibra com a confirmação de que no seu concelho, Porto de Mós, a candidatura ganhou em todas as freguesias. “Só por isso merecias ser deputado”, brinca um dos presentes na sala.
O ambiente volta a animar com a confirmação da eleição de Hugo Oliveira, recebida com palmas, uma ovação repetida com Sofia Carreira, a terceira deputada da AD a ser eleita. Entre os presentes, comenta-se também a surpresa da votação do ADN. “É à nossa custa. Esses votos eram nossos”, vaticina um dos militantes, convicto da confusão que muitos eleitores fizeram entre a AD e o ADN (Alternativa Democrática Nacional).
O fecho da contagem no distrito – que chega já sem Telmo Faria e Hugo Oliveira na sala, que entretanto, saíram para Lisboa – confirma a vitória da AD, que ganhou em 12 dos 16 concelhos e em 92 das 110 freguesias, conquistando cinco dos dez mandatos que o distrito elege. “É um resultado extraordinário. Conseguimos 50% deputados por Leiria, o que nos confere conforto para dar força política ao distrito, mas também responsabilidade”, assume Telmo Faria, que contrapõe a “grande” votação da AD com os quase 23 mil votos perdidos pelos socialistas. “Em Leiria, o PS caiu com estrondo”, assinala o futuro deputado.
Já Hugo Oliveira, presidente da distrital do PSD, considera que os resultados expressam “bem” a vontade de mudança no País e em Leiria. “Os eleitores voltaram a dizer que confiam em nós. E para mim é muito importante”, afirmou durante a noite eleitoral, expressando ainda a convicção de que, mesmo sem maioria, haverá condições de governabilidade nos próximos quatro anos. “Se quisermos respeitar a vontade do povo, que está cansado de uma governação socialista e à esquerda, e é isso que se nota no resultado, teremos condições de governar”, reforçou.
Na mesma linha, Telmo Faria diz esperar que haja “qualidade política para oferecer aos portugueses uma certa estabilidade que permita ao País avançar e progredir”. Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, o futuro deputado deixou a promessa de que os parlamentares eleitos pelo distrito estão “a 100% com Leiria” e que irão “trabalhar com todos”. Mas, adverte, “a vontade de trabalhar tem de se casar com condições de governabilidade, que permitam concretizar projectos para o País e para o distrito”.
Desilusão socialista
Pouco antes das 20 horas, na sede do Partido Socialista, em Leiria. Catarina Louro, número quatro da lista candidata à Assembleia da República pelo círculo de Leiria já se encontrava agarrada ao telemóvel a aguardar pela votação. O cabeça-de-lista Eurico Brilhante Dias e a número dois, Ana Sofia Antunes, optaram por ficar em Lisboa.
Nas primeiras projecções avançadas pelos canais televisivos o semblante de apreensão acentuava-se nos presentes, que anteviam que as coisas poderiam não correr bem para o PS. A surpresa maior chegou com os resultados a apontarem o Chega como a segunda força política em alguns concelhos e freguesias do distrito.
Walter Chicharro, o terceiro elemento da lista do PS e último eleito por Leiria, chegou pouco depois das 20:15 horas. Tranquilo, mas a tentar esconder um ligeiro nervosismo, que o inquietou até ao final da votação do distrito, quando confirmou que vai trocar a Câmara da Nazaré pelo Parlamento. Os cumprimentos dirigidos a Walter Chicharro foram comedidos na sala, onde não houve discurso.
O agora deputado eleito falou apenas aos jornalistas, admitindo que a hora é de reflexão para o PS, apesar de frisar que, no cenário em que se realizaram as eleições, este “é um enormíssimo resultado do secretário-geral do PS”, Pedro Nuno Santos.
“Quero saudar a participação dos eleitores no distrito, cumprimentar a AD, porque venceu o distrito e agradecer a todos os que se envolveram na campanha e que votaram no PS”, adiantou, reforçando que os socialistas conquistaram os concelhos de Castanheira de Pera, Marinha Grande, Nazaré e Peniche.
Sobre o crescimento do Chega, Walter Chicharro confessou que ao longo do dia a percepção foi de que estariam diante de uma das taxas mais elevadas de votantes face a eleições anteriores. “Está perfeitamente claro que os votantes do Chega no distrito e no País disseram presente e vieram reduzir a taxa de abstenção, que é sempre importante. Estará aí o crescimento do Chega, que tem de ser respeitado”, sublinhou. Não obstante, o autarca confessa a surpresa de o Chega ser a segunda força política em alguns concelhos.
Até tomar posse como deputado, Walter Chicharro regressa à presidência da Câmara da Nazaré, que garante que ficará “muito bem entregue” quando sair. “Sou um autarca transformado em deputado. Tentarei fazer aquilo que fiz na Nazaré, ser alguém que revolucionou a Nazaré. Quero representar muito bem o meu distrito e criar condições para que seja uma referência a nível nacional e internacional.”
Um banho de champanhe e uma promessa na noite do Chega
No fim da noite, jorrou champanhe. Já eleito para a Assembleia da República, Luís Paulo Fernandes surgiu nas redes sociais banhado em euforia, depois de despejar uma garrafa pela cabeça e de regar a sede distrital do Chega como um piloto de Fórmula 1 no pódio. No vídeo, agradece a confiança dos eleitores (“obrigado a todos”) e bate com a mão no peito, a entregar o coração aos militantes, cerca de duas dezenas, presentes nas galerias do edifício D. João III, em Leiria.
Logo às 20 horas, de olhos postos na projecção da CNN Portugal e com base nos indicadores recebidos das secções de voto em vários concelhos da região, o dirigente já antecipava um cenário melhor do que o de 2022: “Estamos a prever estar acima dos 16%”, admitiu ao JORNAL DE LEIRIA. “Vamos ver se não subtraímos um deputado ao PS e outro ao PSD”. O optimismo confirmou-se parcialmente: no distrito de Leiria, o Chega obteve 19,66% dos boletins depositados nas urnas e alcançou dois deputados, ou seja, comparando com 2022, sobe mais de 11 pontos percentuais e retira, de facto, um mandato ao PS, que perde outro para a AD.
Só com a contagem terminada, depois de apurados os votos da derradeira freguesia no distrito de Leiria, é que Luís Paulo Fernandes (presidente da distrital de Leiria do Chega) teve a confirmação de que se junta ao cabeça-de-lista Gabriel Mithá Ribeiro como deputado eleito pelo Chega no círculo de Leiria nestas eleições legislativas de 2024. Quando voltou a falar com o JORNAL DE LEIRIA, e apesar da satisfação com “muito bons resultados” do partido “por todo o distrito”, não deixou de lamentar, no entanto, que o objectivo de colocar três deputados em Lisboa tenha ficado à curta distância de algumas centenas de votos.
“Vou dar muito que falar”, promete o homem de Pedrógão Grande que se tornou conhecido como representante dos empresários dos carrosséis em protestos contra diversos governos. “Sou muito irreverente”.
Em 2022, o Chega conseguiu 18.918 votos no distrito de Leiria. A subida em 2024 é acentuada, para 53.764 votos, longe da AD (que reuniu 96.311) mas apenas menos 7.771 do que o PS.
IL quase elege deputado
À semelhança daquilo que aconteceu a nível nacional, a Iniciativa Liberal (IL) cresceu no distrito de Leiria. O resultado da noite eleitoral do dia 10 de Março, contudo, não foi suficiente para que o partido conseguisse eleger um deputado, apesar de ter ficado muito próximo desse objectivo. A IL alcançou 15.446 votos, ficando a apenas cerca de 3.800 de ganhar um mandato pelo distrito. Em relação às Eleições Legislativas de 2022, amealhou mais três mil votos e, desta vez, foi a quarta formação política mais votada.
“Conseguimos crescer 5,45%, que é um valor acima do crescimento médio nacional do partido que foi de 5,1%”, diz Miguel Silvestre. O cabeça-de-lista da IL pelo círculo eleitoral do distrito de Leiria acredita que estes números demonstram que o público já conhece e reconhece o partido, um movimento que, na sua opinião, terá começado a ganhar balanço desde as últimas eleições autárquicas e legislativas. “Os eleitores conhecem as nossas propostas. Há visibilidade e interesse nas ideias e propostas que defendemos”, afirma.
Apesar disto, Miguel Silvestre acredita que ainda há muito trabalho a fazer para aumentar a visibilidade e explicar a mensagem da IL, entre os eleitores do distrito de Leiria. “Vamos apostar na criação de mais núcleos territoriais da Iniciativa Liberal. Abrimos um em Óbidos e iremos avançar para mais concelhos. Estamos a trabalhar para abrir outro na Batalha e um na Marinha Grande. É um trabalho de consciencialização”, resume o cabeça-de-lista.
Quanto ao panorama político saído das eleições do domingo passado, reconhece que se trata de um “cenário de grande confusão, nos próximos tempos”. “A IL, durante a campanha eleitoral, afirmou a sua disponibilidade para apoiar a formação de um Governo de direita, no entanto, a esquerda junta tem mais mandatos que a AD e a IL juntas. E há a questão do Chega”, reconhece.
Motivos suficientes para Miguel Silvestre dizer que a AD terá de trabalhar muito e não poderá esquecer os cidadãos que, em protesto, terão votado Chega.
BE assume “objectivo não cumprido”
O Bloco de Esquerda partiu para esta eleições com a vontade de reforçar os mandatos na Assembleia da República e voltar a eleger um deputado pelo círculo de Leiria. O cabeça-de-lista Rafael Henriques admite que o “objectivo não foi cumprido”. “Há que parabenizar a diminuição da abstenção, independentemente dos motivos que levaram muitas pessoas a votar no Chega”, sublinha o candidato.
Rafael Henriques acrescenta que, “ainda assim, houve um aumento de votação [cerca de 1.000 votos a mais face a 2022], num contexto de polarização”. “Deixo um aviso para as elites PSD/Aliança Democrática e PS, que têm alternado o poder evidenciado uma dissonância entre os objectivos que estabelecem e o que sentem realmente as populações”, frisou.
O bloquista acrescenta que há uma vanglorização da redução recorde da dívida pública e da taxa de emprego pleno. No entanto, “o emprego é precário” e “no embate com a realidade, as pessoas sentem a casa e os produtos de supermercado mais caros, faltam médicos e os filhos não têm acesso a professores”.
Aquém dos objectivos, CDU também responsabiliza PS
“Os objectivos de crescer e de conseguir eleger um deputado por Leiria não foram atingidos. Passamos a trabalhar com maior dificuldade, com menor representatividade institucional na Assembleia da República”, assume João Paulo Delgado, cabeça-de-lista da CDU pelo círculo eleitoral do distrito. Além de perder votos (menos 740 do que em 2022), a CDU viu-se ainda relegada para sétimo lugar no distrito.
“Temos que lamentar, porque vai ao arrepio dos nossos valores, aquilo que é o reforço da direita e da extrema-direita na AR. Porque, no passado, isso significou o empobrecimento dos trabalhadores”, destaca o candidato, lembrando o período da troika. “Preocupa-nos o quadro social e económico, que nos vai levar a muita luta”, antevê João Paulo Delgado, que considera que é preciso perceber o que levou as pessoas a este ponto. Numa primeira análise, o comunista aponta “responsabilidade” ao PS que, tendo maioria, poderia ter tido outra resposta para questões como a escola pública, a saúde ou a habitação.